22 imóveis devem ser desapropriados para obras da Marginal Capim Puba

Os moradores do trecho já foram notificados para deixar suas casas, no entanto não foram informados para onde vão e nem sobre a indenização, já que pagam IPTU

Postado em: 09-05-2023 às 08h17
Por: Alexandre Paes
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Os moradores do trecho já foram notificados para deixar suas casas, no entanto não foram informados para onde vão e nem sobre a indenização, já que pagam IPTU | Foto: Reprodução

Com o objetivo de melhorar o fluxo de veículos na capital, a Prefeitura de Goiânia lançou um edital de construção da Marginal Capim Puba, e agora o município vai desapropriar pelo menos 22 imóveis da região. Os moradores do trecho já foram notificados para deixar suas casas, no entanto não foram informados para onde vão e nem sobre a indenização, já que pagam IPTU.

A obra que vai ligar a Avenida Goiás Norte com a Avenida Leste Oeste deve passar por um trecho que tem ocupações residenciais e comerciais, além de uma grande área desmatada usada como lixão ao lado da Leste-Oeste. No cruzamento com a Goiás Norte, há um conjunto de casas conhecido como Favela Vietnã.

João Marçal Marcelino, 52, é um dos moradores da região, e desabafa que o local não é uma invasão, já que as residências são documentadas e todos pagam seus impostos. “Não temos para onde ir, eu moro e trabalho aqui há 30 anos. Eles querem tirar tudo. A gente até concorda de sair, mas eles não querem indenizar. Temos escritura e pagamos impostos”, argumenta.

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Ele, que trabalha com reciclagem, conta que tudo que investiu está no imóvel, e que a prefeitura ainda não se manifestou sobre o futuro dos moradores do trecho onde deve passar a nova Avenida Marginal. “Se a gente paga imposto, temos direito de ter o retorno. Tudo que a gente investiu está aqui, como vou começar minha vida tudo de novo? Tenho filhos e esposa e não é qualquer lugar que aceitam trabalhar com reciclagem”, conta João.

Dona Gercina Carvalho, 60, está abalada, já que terá que sair de onde vive e procurar outra moradia por conta da desapropriação dos imóveis do entorno. “Batalhamos para conquistar nossa moradia, e quando recebemos essa notícia ficamos assustados. A gente só precisa entender o que faremos agora, e se teremos algum tipo de assistência até estarmos em um lugar digno”, comenta a cozinheira.

O marceneiro Jales Batista Alcântara, 74, explica que a notificação chegou em agosto de 2022 e que até então, nenhum órgão da prefeitura comunicou se os moradores devem ser indenizados ou realocados para outro bairro da cidade. “Esperamos receber uma indenização para ir para outro lugar, comprar outro imóvel ou pelo menos alugar. Aqui, além de morar, é o trabalho da gente, é um ponto, uma referência que o cliente vem atrás de você. Agora, mudar da noite para o dia, do jeito que eles chegaram e só deixaram a intimação aí, não veio mais ninguém da prefeitura querendo dar um jeito na situação”, ressalta Jales.

Populares contam ainda que na notificação da prefeitura pede para remover a edificação, ou seja, entregar apenas o terreno. Alguns deles chegaram a fazer reuniões na Câmara Municipal de Goiânia, mas não tiveram um parecer concreto. “Aqui é um imóvel adquirido, pago, os impostos estão em ordem, inclusive acabei de pagar o imposto deste ano de R$ 1,7 mil. A gente não sabe o que agir, a gente faz uma reunião, vai lá, conversa, mas não tem uma solução definitiva”, relata o marceneiro.

Projeto e licitação

A ideia de criação dela vem dos anos 1990, mas nunca tinha saído do papel.  No começo do ano, servidores da Prefeitura realizaram a demarcação da área que será necessária para fazer o trecho da via. O projeto da Marginal Capim Puba consta no programa Goiânia Adiante, lançado pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) em outubro de 2022. No pacote de obras, esta proposta aparece como canalização do Capim Puba, com pavimentação de galerias pluviais.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) informou que as obras começam em agosto, terão duração de dez meses e vão custar mais de R$ 14 milhões. No começo do mês, a Seinfra pediu novamente a renovação da licença ambiental de instalação para implantação da marginal.

Esse pedido tem sido feito de tempos em tempos, já que a obra não avança. Em 2020, na gestão de Iris Rezende, a Prefeitura chegou a contratar uma empresa para elaborar um projeto para a nova marginal. Agora, a estimativa é que a construção seja feita até o ano que vem.

De acordo com o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, o novo traçado deve desafogar o trânsito na região e facilitar o acesso à região de Campinas. “Será 1,4 quilômetro de pista dupla construída, que deve pôr um fim no gargalo do encontro das avenidas Marginal Botafogo e Avenida Goiás Norte. É mais uma obra do Programa Goiânia Adiante, o maior pacote de ações da história, com mais de R$ 1,7 bilhão de recursos próprios para investimento em educação, saúde e infraestrutura”, destaca.

O secretário municipal de Infraestrutura Urbana, Denes Pereira, explica que o projeto contempla a construção de todo o sistema de drenagem, com 74 bocas de lobo e sete poços de visita. “Tivemos a preocupação em fazer um projeto que contempla a instalação de defensas em grande parte do trajeto, para evitar problemas com a segurança de quem trafega pela via. Também será feita toda a sinalização viária. É um projeto que trará orgulho à toda a população”, afirma.

Agilidade no trânsito

O novo trecho será mais uma opção de ligação entre as Avenidas Leste-Oeste e Goiás Norte, que segundo a Seinfra, vai diminuir o trajeto em aproximadamente 30%. O objetivo é conectar as regiões norte e sul com a oeste, por meio das principais vias, Marginal Botafogo, Avenidas Leste-Oeste e Goiás Norte.

Conforme a prefeitura, a Avenida Marginal vai desafogar o trânsito na região e facilitar o acesso à região de Campinas. Serão 1,4 km de pista dupla construída, que vai pôr fim no impedimento do encontro das avenidas Marginal Botafogo e Avenida Goiás Norte.

Vale lembrar que no final do mês de abril, conforme publicado pelo Jornal O Hoje, o prefeito Rogério Cruz e o secretário da Seinfra, Denes Pereira, anunciaram a continuidade da Avenida Leste-Oeste no Jardim Novo Mundo. Esse trecho terá 480 metros e um custo de pouco mais de R$ 1,7 milhão. A obra tem prazo de entrega para 60 dias.

A avenida Leste-Oeste foi projetada em 1990 para ligar as cidades de Trindade até Senador Canedo e há vários pontos com problemas, como a continuidade dela na Vila Nova até a BR-153, onde deve ser construído um viaduto. A obra está dividida em duas frentes: a Oeste, que liga Goiânia a Trindade, e a Leste, que vai da Capital até a cidade de Senador Canedo.

O Jornal O Hoje buscou informações complementares com a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) sobre a situação das famílias que foram notificadas e que serão desapropriadas de suas residências, mas até o fechamento desta edição a pasta não se pronunciou. O espaço continua aberto para esclarecimentos.

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