Goiás é oitavo em consumo de bebidas alcoólicas no Brasil

Aumento de casos de câncer e de outras doenças associadas a poucas doses de bebida desafia a noção de beber com parcimônia

Postado em: 25-05-2023 às 08h26
Por: Larissa Oliveira
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Aumento de casos de câncer e de outras doenças associadas a poucas doses de bebida desafia a noção de beber com parcimônia | Foto: Divulgação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta por meio de pesquisa que o consumo de álcool está associado à ocorrência de mais de 200 tipos de doenças e acidentes danosos à saúde.  No Brasil, a porcentagem de mortes atribuída ao álcool gira em torno de 5%, com destaque aos óbitos relacionados a acidentes de trânsito e cirrose hepática. Dentre os estados do país, Goiás está na oitava colocação nacional em consumo de bebidas alcoólicas. Esses dados preocupam especialistas da área da saúde, que alertam para os riscos desse hábito. 

Uma pesquisa nacional feita pelo IPC Maps indicou que os gastos somados nas 50 cidades goianas onde as pessoas mais beberam chegam a quase R$ 1 bilhão. No ranking estadual, Goiânia lidera com 3,1 vezes mais gasto no produto comparado à vice-líder Aparecida de Goiânia. Além desses, Anápolis, Rio Verde e Valparaíso de Goiás são os outros municípios que lideram no estado. O gasto em média dos goianos com bebidas alcoólicas é de R$ 131, 24.

Pandemia favoreceu o consumo de bebidas com álcool 

De acordo com uma pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), divulgada pelo Ministério da Saúde neste mês, não há dose, por pequena que seja, com risco zero à saúde. Quanto menor for a ingestão de álcool, menor o risco de desenvolver doenças relacionadas a esse hábito, como problemas no coração, alguns tipos de câncer, cirrose hepática, distúrbios mentais e alcoolismo, sofrer ou provocar acidentes e se envolver em violência física. 

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“Álcool é uma substância psicoativa, não é remédio”, diz o psiquiatra Arthur Guerra Andrade, supervisor chefe do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP). “Pessoas bebem há milhares de anos e esse hábito provavelmente não vai desaparecer das sociedades humanas no futuro. Mas não se sabe com que frequência e em que medida seria seguro ingerir álcool”, enfatiza.

A Fapesp afirma que, durante a pandemia, a bebida se tornou um companheiro de muitas pessoas que estavam isoladas em casa. O consumo aumentou em todo o mundo e a incidência de doenças relacionadas ao álcool também. “O mercado brasileiro é pouco controlado. Não há nem uma licença específica que regulamente quem pode e quem não pode vender álcool”, afirma Clarice Madruga, da Unifesp. Para ela políticas públicas mais claras e definidas para essa área do comércio são essenciais.

Tolerância zero

O consumo ajuda a economia, mas preocupa especialistas. Pesquisas do IPC Maps indicam que os jovens estão experimentando álcool cada vez mais cedo (a partir dos 13 anos) e que as meninas estão consumindo mais que os garotos. Os estudos apontam que quanto mais prematura a ingestão desse tipo de bebida, maior a dependência. Um dos principais problemas de saúde pública no Brasil, a dependência do álcool é uma doença que atinge cerca de 15% da população, em sua maioria, homens entre 18 e 29 anos.

Atingir um consenso sobre o que seria uma ingestão moderada, ou tolerável, de álcool é muito difícil. Alguns pontos, no entanto, são hoje inegociáveis. Certas parcelas da população não devem beber de forma nenhuma. Esse é o caso dos menores de idade, cujo desenvolvimento cerebral pode ser afetado pelo álcool, e das grávidas e lactantes. “O álcool passa pela placenta, chega ao feto e também é repassado ao bebê na amamentação”, afirma o psiquiatra Arthur Guerra. 

Certas situações requerem uma política de tolerância zero com o álcool, como antes de dirigir ou realizar tarefas que possam causar acidentes ou oferecer perigo à vida. “É igualmente prudente não beber em excesso antes de tomar decisões importantes. Há inúmeros casos – alguns anedóticos – sobre situações que ocorrem sob o efeito do álcool, como casamentos entre desconhecidos em uma capela de Las Vegas, nos Estados Unidos, que, logo em seguida, se arrependem do ato”, ressalta Arthur Guerra.

Risco de câncer

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), consumir bebidas alcoólicas, em qualquer quantidade, aumenta o risco de desenvolver câncer de boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, fígado, intestino (cólon e reto) e mama. O INCA afirma que, para a prevenção de câncer, não há níveis seguros de ingestão. Essa recomendação serve para todas as bebidas alcoólicas. Além disso, o instituto ressalta que a combinação de álcool com tabaco aumenta a possibilidade do surgimento desse grupo de doenças.

Conforme o órgão explica, o álcool  pode provocar o aparecimento do câncer por diferentes mecanismos. Estes variam de acordo com o tipo de câncer associado. Os mecanismos envolvidos podem danificar diretamente o DNA das células, provocar estresse oxidativo que pode danificar os genes, facilitar a penetração de carcinogênicos ambientais nas células, alterar o metabolismo hormonal, provocar má nutrição que torna os tecidos humanos mais sensíveis aos efeitos do álcool, entre outros menos frequentes.

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