Em 40 anos, quase metade da biodiversidade da Caatinga pode ser afetada por mudanças climáticas

O apontamento foi feito por um estudo publicado no Journal of Ecology e que envolveu o trabalho de pesquisadores de cinco universidades brasileiras

Postado em: 10-07-2023 às 08h29
Por: Ícaro Gonçalves
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O apontamento foi feito por um estudo publicado no Journal of Ecology e que envolveu o trabalho de pesquisadores de cinco universidades brasileiras | Foto: Giancarlo Zorzin

Um estudo promovido por pesquisadores de cinco universidades brasileiras revelou que 40% da biodiversidade da Caatinga pode ser afetada até 2060 por conta das mudanças climáticas. Entre os principais efeitos estão a perda de espécies, substituição de plantas raras por outras mais generalistas e homogeneização de 40% da paisagem.

O estudo foi publicado no Journal of Ecology e envolveu o trabalho de pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp), Federal da Paraíba (UFPB), Federal de Pernambuco (UFPE), Federal de Viçosa (UFV) e do Instituto Federal Goiano (IFG).

A pesquisa se baseou em dados de coleções científicas, herbários e da literatura. Os pesquisadores compilaram um banco de dados inédito, com mais de 400 mil registros de ocorrência de cerca de 3 mil espécies de plantas do bioma. O trabalho ainda aponta que o bioma tende a apresentar clima ainda mais árido no futuro.

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Além da distribuição geográfica, foram agregadas informações sobre a forma de crescimento das espécies de plantas (gramíneas, herbáceas, vegetação arbustiva, plantas arbóreas ou suculentas), clima e solo onde ocorrem. Também foi calculada a proporção de espécies arbóreas em cada localidade versus a de não arbóreas.

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“Baseamos nossas previsões no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2021, que contém simulações sobre o clima no planeta”, explica Mario Ribeiro de Moura, pesquisador da Unicamp e autor do trabalho. “Mas vale lembrar que não sabemos como a humanidade vai se comportar daqui pra frente, por isso consideramos dois cenários: no otimista, surgirão tecnologias capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e viabilizar o Acordo de Paris [que prevê limitar o aumento da temperatura média global até 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais]; já no pessimista, as taxas de desmatamento, o uso de combustíveis fósseis e o crescimento populacional se manterão elevados, sem que se avance em inovação.”

Os resultados do estudo, financiado pela FAPESP por meio de dois projetos (22/12231-6 e 21/11840-6), indicam que 99% das comunidades de plantas da Caatinga experimentarão perda de espécies até 2060. O clima do futuro na região deve ser ainda mais quente e seco, tornando-se mais difícil e impactante para as árvores, que devem ser substituídas por vegetação de baixo porte, especialmente gramíneas, por sua facilidade de se expandir e crescer.

Como consequência, serão afetados também os serviços ecossistêmicos que a vegetação fornece para as populações, como fotossíntese, renovação do ar e armazenamento de carbono – os famosos estoques de carbono acontecem na forma de biomassa vegetal, acumulada nos troncos, raízes e folhas, que naturalmente é maior nas árvores.

Com informações de Julia Moióli, da Agência FAPESP

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