Carreta perde controle, atinge 17 veículos e mata 4 pessoas na BR-414

Sons de buzinas de carros retorcidos. Vidros quebrados. Estepes em meio ao estofado de bancos. Estilhaços de uma tragédia por toda parte. Crianças e adultos feridos. Choro e gritaria por socorro.  Corpos, de vivos e mortos, presos em ferragens. Quem saiu ileso da força da carreta e filmava o acidente parecia não acreditar no que via. 

Esta é a descrição do engavetamento que envolveu 17 veículos e provocou a morte de pelo menos três pessoas na hora, incluindo uma menininha de seis anos, e uma outra vítima, que morreu no hospital, nesta segunda-feira (25), após uma carreta perder o freio e provocar a tragédia na BR-414, na região entre Anápolis e Abadiânia, a 55 km de Goiânia.  

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o acidente que resultou em um engavetamento ocorreu após um motorista de um caminhão perder o freio quando passava pelas imediações após a ponte Capivari. A Polícia Rodoviária Federal (PRF), que também esteve no local, informou que, após o teste do bafômetro, ficou constatado que o motorista não estava embriagado.

Para um dos poucos repórteres que conseguiu, a pé, percorrer as dezenas de quilômetros de engarrafamento no trecho da BR, o tenente-coronel Altieri, do CBM-GO, afirmou que as equipes foram acionadas no fim da manhã e, ao chegarem ao local, verificaram que havia uma fila de carros parados no trecho onde ocorreu o acidente. Eles estavam enfileirados em virtude de obras da Ecovias do Araguaia — concessionária que administra o trecho — que aconteciam na região. “Após a curva, onde estava a fila de carros, o caminhão perdeu os freios e foi batendo em alguns carros próximos à contramão”, disse.

Foram enviadas ao local cinco viaturas do Corpo de Bombeiros de Anápolis, outras três do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e equipes dos bombeiros de Pirenópolis para prestarem socorro. A corporação informou que dos 17 veículos atingidos, havia pelo menos três caminhões e dois graneleiros bitrem carregados. Um deles estava, inclusive, com vazamento de óleo diesel. A PRF interditou o trecho a fim de evitar outras intercorrências, como explosões, e disse que ele só poderia ser liberado entre o fim de tarde e o começo da noite desta segunda. 

Em vídeos feitos por quem escapou da carreta descontrolada, é possível ver a dimensão da gravidade do acidente. Na rodovia, ladeada por vegetação natural, a safra de veículos parece interminável. Debaixo do sol quente, os cinegrafistas amadores percorrem a pé o trecho do acidente por vários minutos e a única imagem capturada é a de destruição. Corpos de pessoas presas e outras ensanguentadas aguardando por socorro chocam enquanto alguém pergunta atrás da câmera: “Será que morreu?”.

Em um deles, em meio aos destroços do que parece ser um carro, um urso de pelúcia e uma lata de leite Nestogeno aparecem entremeados às ferragens retorcidas do veículo. Em outro vídeo, enquanto um civil carrega no colo uma criança com sangue escorrendo da cabeça, pessoas aparecem ora em pé, ora sentadas à beira da estrada aguardando socorro.

Antes do acidente, porém, em um vídeo que também circula nas redes, um caminhoneiro filma a estrada onde ocorreu o acidente desta segunda. Ele alerta para a distância da sinalização das obras da rodovia e a possibilidade de estouro de um dos pavimentos flexíveis — que são as estruturas com múltiplas camadas dos veículos grandes.

“Se estourar um desses flexíveis, a bagaceira lá embaixo vai ser feia. Como a obra está sendo nessa curva perigosa, aí eles tinham que, no mínimo, parar o trânsito lá em cima; se parar aqui embaixo, é um risco muito grande de acidente com vítimas fatais”, alertou o motorista que não foi identificado pela reportagem.

As vítimas do acidente receberam atendimento pré-hospitalar e foram transportadas para hospitais da região pelas equipes dos bombeiros e do Samu.A concessionária Ecovias do Araguaia enviou uma nota ao jornal O Hoje afirmando que, após o acidente, disponibilizou  equipes para atuar no “pronto atendimento às vítimas e recomendam aos motoristas que redobrem o cuidado ao se aproximarem do trecho”. “Com relação às circunstâncias do acidente, elas estão sendo apuradas pelas instituições competentes”, completa a nota escrita pela concessionária.