Mão de obra exportada

Maioria dos goianos emigrantes para os EUA são casados e possuem ótima qualificação profissional, avalia empresa especializada

Postado em: 27-08-2018 às 00h25
Por: Fabianne Salazar
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Maioria dos goianos emigrantes para os EUA são casados e possuem ótima qualificação profissional, avalia empresa especializada

Rafael Melo*

A busca de profissionais por oportunidades no exterior tem sido um fator recorrente. De 2013 para 2017, a quantidade de declarações de saída definitiva do Brasil entregues à Receita Federal mais do que duplicou, passando de 9.887 para 21.701. Cada país tem os seus programas, processos e áreas que precisam de profissionais. Acontece que os requisitos costumam ser altos. Em geral, exige-se proficiência comprovada do idioma, assim como das experiências profissionais e trajetórias acadêmica e certidão negativa de crimes. A idade também conta.

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De acordo com a empresa Hayman-Woodward, especializada em assessoria no processo de imigração, atualmente cerca de 15% dos clientes que querem ir para os Estados Unidos são goianos. “Goiânia possui um enorme potencial para emigração de brasileiros extremamente qualificados profissionalmente e academicamente. Há, também, muitos empreendedores que emigram interessados em novos negócios nos EUA”, afirma Leonardo Freitas, sócio fundador e especialista em imigração.

Segundo a Hayman, que traçou o perfil dos emigrantes goianos que foram para os EUA nos últimos dois anos, 73% deles são casados e possuem ótima qualificação: 89% são pós-graduados, ou mestres, ou doutores. Entre as profissões, 20% são empresários, 18% são médicos, 15% são fisioterapeutas, 14% são engenheiros e 12% são profissionais de TI. Em relação ao gênero, os homens representam a maioria (62%).  Quase metade (49%) tem entre 30 e 44 anos. A Flórida é o principal estado escolhido pelos goianos que decidem pelos EUA, opção de 22% deles. Em seguida, vem Massachussetts (18%).

Crise

Para Freitas, a crise econômica e política vivenciada pelo Brasil nos últimos dois anos é o fator que mais contribuiu para que mais goianos, e brasileiros de forma geral, buscassem novos horizontes nos EUA. “O desemprego, a falta de perspectiva política e a insegurança são os principais motivadores que hoje levam essas pessoas a saírem do País”, afirma Freitas. Só no primeiro semestre de 2018, a empresa já atendeu o mesmo número de clientes brasileiros que havia atendido no ano inteiro de 2017. E, de acordo com o especialista, a tendência é crescer nesse mesmo patamar no segundo semestre.

O executivo Enio Bittencourt, 43 anos, foi um dos brasileiros que optou pela saída do país junto com a família. Morador de Goiânia há mais de 30 anos, Enio conta que formou em odontologia, mas sempre sonhou em mudar definitivamente do país. “Trabalhei por sete anos na área de odontologia. Depois disso, fiz um MBA para me reposicionar no mercado e entrei para a indústria farmacêutica. Também trabalhei por quase dez anos na Colgate. Até que eu e minha esposa entramos em comum acordo e decidimos ir para os EUA. Fomos definitivamente em maio, hoje estou aqui somente para negócios”, esclarece.

O empresário que reside em San Diego, na Califórnia, afirma que diversos fatores foram responsáveis pela motivação que o fez optar pela escolha da imigração. “Eu sentia a necessidade profissional de dar um passo a frente, achar um novo ramo no mercado, e os EUA sempre foi um sonho meu e da minha esposa. Além dos aspectos de qualidade de vida, a criminalidade e violência no Brasil começou a nos preocupar. Foi então que refletimos e chegamos a conclusão de que ainda estávamos novos e resolvemos arriscar”, diz.

“Para os goianos que têm o sonho de emigrar, eu recomendo que tenham coragem e sigam seus sonhos. De certa forma, não temos muito tempo de vida por aqui, então temos que correr atrás daquilo que queremos, seja por motivação pessoal ou pela família. Antes tinha o pensamento daquele estereótipo americano de que são frios e preconceituosos, mas achei eles muito receptivos e já estão acostumados a lidar com muitas culturas. Acredito que uma das maiores dificuldades realmente seja a distância dos entes queridos no Brasil”, complementa.

Em comparação ao Brasil, Enio argumenta que é possível ter uma vida economicamente estável, enxergando uma evolução a médio e curto prazo. “A Califórnia é um polo turístico, se você tiver o que oferecer para o mercado não faltará oportunidades. A economia não deixa de ser pujante, além dos fatores de segurança e lazer que envolvem a qualidade de vida. Isso acaba atraindo não só pessoas da América do Sul, também vejo muitos asiáticos por lá”, argumenta o consultor de negócios Enio Bittencourt.

 

Jovens goianos conquistam novas experiências nos EUA 

Apesar do alto índice de brasileiros que buscam oportunidade nos Estados Unidos terem como perfil pessoas adultas e qualificadas, jovens goianos também pertencem a uma parcela significativa desse grupo de imigração. Muitos jovens procuram o famoso país da América do Norte como experiência de intercâmbio, aquela modalidade que se passa um período determinado no país para realizar algum curso. 

Mas há também jovens que vão por motivação familiar e pessoal, como no caso do Vitor Hugo, 26 anos, que foi para São Francisco, na Califórnia, para aprimorar a experiência de vida por incentivo familiar. “Sai do Brasil em abril de 2016, meu pai já morava aqui nos EUA há quase 20 anos, isso me motivou muito minha emigração. Trabalho como motorista de aplicativo há dois anos, estou muito feliz aqui”, conta. 

Em Goiás, o governo do Estado também tem incentivado jovens a embarcar nessa experiência oferecendo aos jovens estudantes de escolas públicas a oportunidade de fazer um curso de imersão em universidade estrangeira, aperfeiçoando na prática, o estudo da língua estrangeira e a disciplina de Competências Globais com foco no empreendedorismo. A cada estudante é garantido ainda um subsídio de 100 dólares por semana, para custeio de eventuais despesas na cidade.

No primeiro ano, em 2017, 125 estudantes goianos embarcaram para os Estados Unidos entre os dias 23 de novembro a 22 de dezembro. Foram 30 dias de imersão na New Jersey City University. Os estudantes foram contemplados com a emissão do passaporte, material didático, passagens aéreas e bolsa pra custear eventuais despesas. No último mês de junho, foi realizada uma reunião com esse aluno a fim de iniciar o processo de contrapartida dos estudantes, previsto no edital de seleção. A contrapartida consiste na realização de palestras em escolas estaduais, com o objetivo de compartilhar o conhecimento adquirido na viagem, além de demonstrar a importância de uma segunda língua aos estudantes. 

Os alunos aprovados para a segunda turma do Goiás Sem Fronteiras também farão intercâmbio nos Estados Unidos ainda este ano. O processo para contratação de empresa está em fase de licitação. De acordo com o secretário de Governo João Furtado o programa será ampliado para outros países, inclusive de língua latina, o que irá facilitar o acesso a estudantes que não dominam o inglês.

 

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