Nostalgia

Nove escritores convidados contam histórias que os ligam à nonagenária Goiânia

Postado em: 24-10-2023 às 13h00
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Nostalgia
Foto: F. Silva

Sônia Elizabeth

Caminho por Goiânia em ângulo de noventa graus (ops… anos). Mais ou menos como quem raciocina por aquilo que nela existe de encantamento, ternura, nostalgia, enigma. Ainda tomo café no Central, Café Central. Um homem, em terno político e elegante, engraxa os sapatos. Penteio os cabelos no brilho espelhado do derby preto, com faixa central em branco. Sigo inerte, muda e inebriada no mar da alegria. Almoço no Bologna, à custo desço as escadarias. Clamo um elevador, mas logo descarto a modernidade que me acomoda. Alí, em tempos de antanho, uma garagem existia, então raciocínio do seguinte modo: tudo é sonora e débil poesia.

Poderia ter sido a pizza da Rua 7. Lá me empolgo e viajo nos azulejos, bebo caldo de laranja, devorando a média mussarela. Não sou de ferro. No mercado, o mais Central de todos, rimo queijos e doces. Carrego cestos e boas cachaças, sou infiel aos pastéis. Devoro o Goiano Empadão. Flerto com as Pernambucanas e Riachuelos, ofereço um pirulito ao Anhanguera, impávido colosso que vigia os canteiros centrais. Procuro pão de queijo na Colandy da Araguaia, mas deleito-me com bons sorvetes. Busco na Relojoaria  abaixo o melhor relógio para a parede. Sonho, rebelde com a Siri Siri, onde degustava meu peixe. Cerveja honesta e gelada.

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Ébria de saudades, revivo a Goiânia que se perdeu no tempo. Ignoro os ricos bairros e seus edifícios altíssimos, frios concretos que nos escondem, muralhas que nos garantem segurança, ufanismos, vaidades. Finjo que moro na casa de Amália Hermano e seu amado Max. Entro, solene, na estufa de orquídeas, beijo as asas do anjo na fonte. Sou ingênua, serena, até a medula.

Boa noite, Goiânia, agora vou rezar. A Catedral Metropolitana me aguarda. Pagar pecados diante dos santos, acender velas, genuflexa e muda. Pai, Filho e Espírito Santo. Sou toda fé, lenho e engano. Se mais cedo fosse, eu ganharia a altura em um helicóptero. Sim, lá de cima, jogaria flores coloridas sobre o Centro de Goiânia. Visitaria cada morada antiga, subiria no cavalo de Pedro Ludovico. Uma carona, por favor, governador! Que seja tranquilo o galope! Vamos andar por Goiânia, reviver os tempos antigos! 

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