Importação de leite argentino cresce 72% em 2023 e gera abate de vacas em Goiás

Situação preocupa ainda mais pensando em uma perspectiva para 2024, com piora de clima

Postado em: 08-12-2023 às 08h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
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Federação Agricultura e Pecuária de Goiás fez uma retrospectiva do agro 2023 | Foto: Divulgação

O ano de 2023 está chegando ao fim e não deve deixar saudades aos produtores rurais brasileiros, sobretudo goianos. A bruxa, como se pode dizer por aí, esteve solta. Dois setores enfrentam problemas maiores: o de leite e o de carne. 

Um grande exemplo, mencionado pelo vice-presidente da Federação Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Eduardo Veras, foi o aumento de preços do leite devido à importação do mercado argentino. Que, por sua vez, prejudicou mais de 1 milhão de criadores da pecuária bovina em Goiás e aumentando o abate de vacas para compensar a demanda da carne. 

Por causa disso, a oferta da carne aumentou com a elevação do abate, que neste ano cresceu em 6% se comparado nos últimos quatro anos, totalizando na morte de mais de 3 milhões e 500 mil cabeças de gado em 2023, sendo 1 milhão e 200 mil desses animais fêmeas. Outro fator decorrente foi o recorde do número de rebanho de gado em Goiás alcançando mais de 24 milhões.

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O efeito rebote do aumento da oferta causou uma queda no preço da carne e, portanto, reduziu a margem de lucro para os criadores. Pelos dados divulgados do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) da Faeg, houve uma queda na variação do preço da carne por cabeça de gado de 14% se comparado nos últimos três anos. 

Essa queda no preço também pode ser vista na exportação da carne que também teve uma queda total na exportação do estado de 7% se comparado no ano de 2022 com faturamento de US$ 1.205 Milhões.

Dito isso, a previsão da Faeg para a pecuária bovina no ano de 2024 continua com um sentimento de preocupação. De acordo com Leonardo Machado, Assessor Técnico da Faeg, uma das formas que vê para o aumento da produção de leite interno no estado é com a políticas de incentivo para a produção. “O leite é um produto básico na nossa sociedade, vai desde a dona de casa, a escolas e a quase todos os restaurantes, o que a gente observa é que quando um país subsidia a sua produção para a importação os preços tendem a subir. Então o que pedimos são medidas de proteção e incentivo aos produtores de leite”, relata o assessor da Faeg.

Quanto ao preço da carne, a empresa financeira holandesa multinacional Rabobank estima que a oferta no ano de 2024 continue alta com elevado abate de fêmeas, mantendo os preços do alimento relativamente baixos. Contudo, é estimado pela Faeg um crescimento na produção e na exportação de carne em 2% pela retomada do consumo nacional com a diminuição dos preços de alimentos e a retomada de exportações para a China.

Contudo, existem outras preocupações apontadas pela Faeg para o setor do agronegócio em Goiás, em especial para a agricultura com a safra 23/24 de milho e soja. Em grande motivo por fatores fora do controle do setor econômico como políticas internacionais e fatores climáticos. 

Um exemplo disso é o baixo avanço econômico dos países importadores de produtos do agro de Goiás como a União Europeia que faturam mais de US$ 749 milhões, representando cerca de 13% das exportações. Esta liga de nações teve um crescimento no PIB de apenas 0,7% e uma queda na importação de 15% aliado a políticas ambientais mais estritas como a diminuição da importação do agro.

Segundo Eduardo, vice-presidente da Faeg, todos estes fatores fizeram com que o ano de 2023 fosse um dos mais caros para a produção, também devido à quebra da linha de suprimentos devido à guerra da Ucrânia e de Gaza. “Este ano tivemos um recorde de alta produção, mas também tivemos um recorde de altos custos para o bolso dos produtores”, detalha o representante. 

Além disso, a chegada do El Niño em setembro deste ano contribuiu para a piora na produção da soja no estado por atrasar a plantação da Safra 23/24 em até cerca de 20% até o começo deste mês de dezembro. Leonardo comenta como uma situação preocupante para a produção da soja. “A safrinha da soja não pagará as contas do produtor rural”.

O agro brasileiro e o Produto Interno Bruto (PIB) goiano cresceram neste ano apesar das dificuldades nacionais e internacionais para o mercado. Simbolizando, portanto, a “perseverança” do setor com um crescimento de 15% no PIB do agro brasileiro e o crescimento esperado de 5% do PIB goiano em 2023. 

Questões climáticas continuam sendo maior desafio à produção 

De acordo com Leonardo Machado Assessor Técnico da Faeg, o El Niño continua sendo uma ameaça para o setor até o ano de 2024. “O El Niño é a maior ameaça para o nosso setor com as chuvas irregulares e em baixos volumes”, declara Assessor. Sobre isso, o atraso das plantações decorrido pelo fenômeno climático diminuiu o percentual inteiro das 2º safra do milho em até 100 hectares de área plantada, reduzindo a produtividade em até dois mil toneladas.

Sobre essa última questão houve desafios com o suprimento da energia devido ao efeito climático, Eduardo Veras, Vice-presidente da Federação Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), comenta já ter conhecimento do problema e trabalhar junto à concessionária para resolver a questão. “A Faeg está acompanhando isso de perto com o Conselho de Consumidores da Equatorial que possui um representante da federação. Também temos feito reuniões por regiões e municípios para atender as demandas e já conversamos com o presidente da Equatorial para trabalhar essa questão”, diz vice-presidente.

Contudo, grande parte da economia do estado de Goiás continua com sua base na agropecuária, representando cerca de 88% das exportações do estado. Contudo, esta dependência pode gerar uma certa dificuldade com o desaceleramento econômico e a alta na inflação para níveis superiores ao pós-pandemia. 

 Como exemplo, os principais países importadores de commodities goianos tiveram baixo crescimento econômico além de baixo aumento na importação como a União Europeia e a China, representando cerca de 70% das exportações, com crescimento do PIB de 0,7%  e 5% respectivamente.

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