‘Bebê de pedra’: entenda condição rara que calcifica o feto dentro da mãe

Idosa de 81 anos chamada Daniela Almeida Vera, carregou por cerca de 50 anos um feto calcificado em seu abdômen

Postado em: 25-03-2024 às 12h10
Por: Ronilma Pinheiro
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Esse tipo de gravidez, quando o embrião se adere e começa a se desenvolver fora da cavidade uterina, local correto onde deveria se fixar, é chamada de gravidez ectópica | Foto: Reprodução

Gerar um bebê é um processo comum que faz parte da vida dos seres humanos e também de outros seres vivos da terra. Agora, gerar um bebê de ‘pedra’ não é nada comum. No processo de uma gestação normal, primeiro o óvulo é fecundado pelo espermatozoide após o ato sexual e em seguida, esse conceito irá se implantar no útero da mulher, onde o feto começa a se desenvolver até chegar o tempo de nascer.

Quando algo dá errado durante esse processo até chegar no útero, o óvulo acaba se alojando em outras regiões do sistema reprodutor feminino, como a cavidade abdominal, ovário, ou até mesmo nas trompas. Esse tipo de gravidez, quando o embrião se adere e começa a se desenvolver fora da cavidade uterina, local correto onde deveria se fixar, é chamada de gravidez ectópica, de acordo com o médico obstetra  Cândido Rocha.

Segundo o especialista, se trata de um caso raro no mundo, principalmente se tratando da gravidez ectópica que ocorre no abdômen. No Brasil, há registros de apenas 5 casos desse tipo.  O último ocorreu recentemente em Mato Grosso do Sul (MS). Uma idosa de 81 anos chamada Daniela Almeida Vera, carregou por cerca de 50 anos o ‘bebê de pedra’ em seu abdômen.

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Ela faleceu na última semana após passar por uma cirurgia de remoção do feto calcificado. Rocha destaca que no país ainda não há pesquisa sobre a Litopedia, como é chamada a condição.

Daniela, que era indígena, descobriu a condição após dar entrada no Hospital Regional de Ponta Porã, região sul de MS, com dores abdominais. De acordo com os médicos, a mulher estava com um quadro de infecção grave. Mas depois de fazer uma tomografia 3D, o feto calcificado foi identificado na região do abdômen da idosa.

Logo que a condição foi descoberta, a equipe de obstetrícia da instituição foi acionada e realizou a cirurgia de remoção. Após o procedimento, Daniela foi encaminhada para uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas não resistiu, falecendo no dia seguinte.

Cândido Rocha explica que, quando há uma gravidez no abdômen, depois de um determinado tempo, a mulher começa a sentir fortes dores na região, e muitas vezes começa a ter sangramento interno. “Porque a placenta vai grudar no intestino, na bexiga e ali causa muita dor, sangramento… E acaba tendo que interromper, fazer uma cirurgia. Isso é o que acontece habitualmente”, detalha o especialista.

Porém, quando não há interrupção desse tipo de gravidez e o feto morre fora do útero, como foi o caso da idosa sulmatogrossense, ele começa a se calcificar na região em que se encontra. “Ela teve uma gravidez e essa gravidez provavelmente progrediu até uma certa idade, talvez oito meses, sete meses, e esse bebê morreu. E o que aconteceu? A natureza é tão sábia que começa a formar uma proteção, uma película em volta dessa gravidez”, explica o médico.

Rocha acrescenta que com esse processo, esse bebê começa a ficar macerado e vai se calcificando ao longo do tempo. “Ele começa a ficar endurecido e fica ali como um corpo estranho e isolado do resto do corpo. E aí aquilo vai viver um tempo, algum tempo e a paciente sempre sentindo dores abdominais”, salienta.

Como não existem pesquisas voltadas para esse tema no país, um especialista do hospital regional de Ponta Porã, onde o caso aconteceu, pediu à família da idosa que disponibilizasse o feto para desenvolvimento de pesquisas na unidade. A família autorizou as análises, mas ainda não há informações do hospital sobre o início das pesquisas.

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