Após 60 horas de angústia, a despedida da menina Samylla Vitória, de 6 anos

Após quase três dias de buscas, o corpo da menina que morreu após ter sido levada pela enxurrada, foi encontrado no sábado (6), a cerca de 5 km do ponto de busca inicial

Postado em: 08-04-2024 às 09h35
Por: Ronilma Pinheiro
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O corpo da pequena Samylla Vitória, de 6 anos, foi enterrado no Cemitério Jardim da Paz, em Aparecida de Goiânia | Foto: Leandro Braz / O Hoje

Ir para a escola, estudar, brincar com os coleguinhas e voltar para casa depois de um dia cheio de atividades, faz parte da rotina da maioria das crianças. Esta, era também a da pequena Samylla Vitória, de 6 anos. Mas no último dia 4 de abril, por volta das 17h da tarde, o hábito mudaria completamente. Naquele final de tarde, a menina saiu do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) onde estudava, acompanhada pela mãe, Thaís Lira. 

Depois de mais um dia na escola, era hora de ir para casa, descansar e estar pronta para mais um dia de atividades. E, claro, encontrar-se com o pai,  Uanderson Douglas Pereira da Silva, de 26 anos, que, àquela hora, já havia chegado em casa.

No entanto, a forte chuva que caía em Aparecida de Goiânia mudou completamente o rumo da história daquela família de pais jovens. Imagens de câmeras de seguranças mostram as duas caminhando pela rua onde ocorreu a fatalidade durante o temporal. 

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Samylla desapareceu. Ela e a sua mochila rosa, com lápis e os cadernos onde aprendia a escrever as vogais, foram levadas pela água e pelos escombros, deixando uma dor imensurável no coração da mãe que até abriu mão do guarda chuva para que a filha tivesse o amparo necessário até chegar em casa, o que não foi possível, devido ao incidente. De acordo com a mãe, Thaís Lira, a filha tentou pular a enxurrada para alcançar a calçada de casa, mas acabou sendo levada pela força da água.

Imagens registradas por câmeras de segurança mostram quando a criança é arrastada. Logo após, a mãe aparece nas imagens correndo atrás da menina. A meninazinha foi levada pela enxurrada para uma região de mata, no final da rua onde elas moravam. E, como se soube depois, teve o corpo de menina de apenas seis anos aprisionado por um tronco de árvore, galhos, pedras e barro. 

“Eu vi minha filha desaparecer diante dos meus olhos. Foi um pesadelo que se tornou realidade”, desabafou Thaís em entrevista exclusiva, ao lembrar que ainda tentou alcançar a filha na tentativa de salvá-la, mas sem sucesso.

As buscas começaram, o Corpo de Bombeiros iniciou uma força tarefa e mais de 20 militares trabalharam para tentar encontrar a menina ainda com vida. Jornais, rádios, TV e sites noticiaram o desaparecimento da garota, enquanto  a família guardava esperança de encontrar a menina com vida. E cada vez mais voluntários surgiam para ajudar. Ou entravam na mata ou levavam café, chá, lanche, almoço ou jantar. 

Na sexta-feira (5), a mochila e o sapatinho da pequena foram encontrados pelos bombeiros a cerca de 5 km de distância do local onde ela foi levada pela enxurrada. Ao abrir o caderno, era possível ver as letras desenhadas pela menina misturadas com lama. Para encontrar os pertences, os militares contaram com a  ajuda de cães farejadores e de um caseiro da região.

O caseiro do local, Adair Tavares, chegou a afirmar à reportagem do jornal O Hoje que encontrou a bolsa utilizada por Samylla Vitória próximo a um riacho, mas no local não havia sinais da garota. “Fui no córrego de manhã e a bolsa estava lá. Eu abri a bolsa, olhei o que tinha dentro da bolsa, né? Porque sempre aparecem coisas aí. E aí eu fui lá, olhei e era a bolsa da criança, e eu peguei e liguei para o bombeiro, mas a hora que eu liguei para eles já estavam aqui. A viatura já tinha entrado”, conta.

“Então eu desci pra procurar, porque eles desceram por dentro do córrego e eu desci por dentro da mata, pois quando o rio enche ele joga as coisas dentro da mata. Aí eu desci dentro da mata, olhei lá tudinho lá. Fiquei lá de 7h30 até às 11h lá dentro procurando lá e não vi nada mais”, completa Adair.

Ao receber os materiais, Uanderson Douglas se emocionou e tentou encontrar, no improvável, mas com fé,  as esperanças de encontrar a filha viva. Vídeos mostram o momento em que o pai abre o caderno que a menina usava na escolinha e lembra que era o preferido da filha, que ela amava desenhar e escrever o nome. A mãe chorava e implorava para que a filha fosse encontrada.

Enquanto isso, cinco viaturas e um helicóptero eram usados para tentar encontrar a meninazinha. Dia e noite os agentes trabalhavam nas buscas por ela, com a ajuda da equipe náutica dos bombeiros. Após três dias de buscas e sofrimento da família, amigos e da população que torcia para que Samylla fosse encontrada, o corpo da garota foi encontrado no sábado (6), próximo ao leito d’água, entre galhos. De acordo com os bombeiros, o corpo da criança estava a cerca de 5 km do ponto de busca inicial e a região estava com muito lixo.

O corpo da menina Samylla Vitória, de 6 anos, foi velado neste domingo (07) em Aparecida de Goiânia, região Metropolitana da capital, no Cemitério Jardim da Paz. Durante o velório, o pai, Uanderson Douglas Pereira da Silva, de 26 anos, se emocionou ao falar da filha. Ele agradeceu o apoio da comunidade durante as buscas pela pequena e compartilhou a dor de perder a filha de forma tão precoce. Aos presentes, o homem disse que a dor é “tremenda”.

O coordenador na escolha onde Samylla estudava, também se manifestou durante o velório da criança e disse que a menina era alegre e gostava de desenhar. Além do coordenador, toda a equipe da escola acompanhou a despedida da pequena.

Sob forte emoção dos familiares e amigos que estavam presentes, e ao som de violino, o corpo da pequena Samylla Vitória, de 6 anos, que agora é guardada na lembrança e nos corações daqueles que a amavam, foi enterrado no Cemitério Jardim da Paz, em Aparecida de Goiânia. A menina foi enterrada após cerca de 2h de velório.

O governador Ronaldo Caiado compareceu ao velório  da pequena Samylla Vitória para prestar condolências e solidariedade à família. Ele estava acompanhado do prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmar Mariano. Teve balão branco e rosa. Palmas. Choro e um silêncio para sempre no futuro da menina Samylla Vitória que comoveu Goiás. Comoveu o Brasil. (Especial para O Hoje) 

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