Goianiense desenvolve chocolate sem a adição de leite e açúcar

Pesquisador utilizou o mel de cacau como base de dulçor, tornando o chocolate uma opção saudável e orgânica

Postado em: 20-04-2024 às 08h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Goianiense desenvolve chocolate sem a adição de leite e açúcar
Gustavo sempre gostou de usar o chocolate como base para criar um alimento mais saudável | Foto: Alexandre Paes/O Hoje

Há pouco mais de dez anos, um evento na vida da irmã pequena de Gustavo Amaral o colocou nos trilhos para a jornada que ele atualmente caminha com a sua pesquisa. Como Gustavo contou para a equipe de reportagem do jornal O Hoje, a sua irmã pequena sofria da fome invisível, um distúrbio na alimentação que afeta mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do planeta, de acordo com relatório de 2014 do Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Alimentação (IFPRI).

Este cenário de saúde se enquadra em uma fragilidade alimentar da carência de nutrientes necessários para o organismo, como ferro, iodo, zinco, vitamina A, do complexo B e C. Contudo, este distúrbio alimentar não é devido a falta do alimento, e sim pela não escolha de comidas ricas em nutrientes. “Mesmo ela tendo sobrepeso, ficou com anemia pela falta de nutrientes como vitaminas e minerais importantes para o organismo”, afirma. 

Muito por causa disso, conta que iniciou uma empresa com projetos para alimentos ricos em nutrientes e desenvolvidos para crianças, a fim de combater este distúrbio que ainda acomete milhares de pequenos ao redor do globo. “Desde o ano de 2014 nós já escolhemos o chocolate como principal produto para a nossa pesquisa. Começamos com a criação do doce com infusão de vegetais para torná-los mais saudáveis para os menores”.

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Outra mudança que fez na produção foi a ausência do uso de derivados dos laticínios, como os chocolates ao leite que são comumente encontrados em barras nas lojas e supermercados. Gustavo conta que também durante a pesquisa um dos seus principais objetivos foi confeccionar o doce com zero gorduras saturadas.

Contudo, todos os seus planos foram interrompidos antes que o seu projeto conseguisse entrar no mercado por conta da pandemia de Covid-19. Ele e a sua equipe de mais de 10 pessoas usaram este tempo livre para investir em novos métodos de confecção do chocolate a fim de deixá-lo mais saudável, mas também não perder o gosto doce. O avanço na pesquisa ocorreu durante uma visita com produtores rurais parceiros no sul da Bahia, área com grande quantidade de produtores de cacau. 

Este tour providenciou o conhecimento da cadeia do alimento e dos seus subprodutos que o deram o entendimento necessário para uma produção mais sustentável e mais rica do doce usando o “mel do cacau”. Esta substância é obtida a partir da fermentação da fruta do cacau, que já é parte do processo de fabricação do chocolate. “Naturalmente esse caldo que chamamos de ‘mel do cacau’ já possui um sabor adocicado. Contudo, é comumente descartado. Nossa ideia foi usar esse subproduto como principal forma dulçor o nosso chocolate”, conta o pesquisador.

Com isso, a pesquisa conseguiu conciliar o gosto mais adocicado com um alimento rico em nutrientes. “O nosso chocolate tem o mesmo gosto que qualquer outro chocolate pastoso no mercado, mas o gosto do cacau é mais acentuado. É algo inédito que criamos e esperamos que ajude na alimentação da mesma forma que seja algo gostoso de comer”, conta o pesquisador.

Os perigos do açúcar industrializado na saúde

Essa mudança na composição também garante a retirada do açúcar refinado na dieta, que é considerado por nutricionistas como potencialmente prejudicial à saúde e que pode acarretar problemas crônicos ao organismo se comido de forma contínua. De acordo com a nutricionista Mariane Antunes, o açúcar refinado que também é encontrado nas casas é feito a partir de um ultra processamento da cana de açúcar que remove os nutrientes a favor do carboidrato e das calorias.

Por causa disso, é considerado um componente pesado na dieta por possuir uma alta carga calórica. Essa carga pode inclusive causar impactos metabólicos e comprometer a cadeia hormonal de insulina no corpo. “Quando temos uma pessoa com hiperglicemia (alta carga de glicemia) por muito tempo, isso pode prejudicar a criação de insulina no pâncreas e causar problemas metabólicos que podem evoluir, após um longo período, para uma diabete tipo 2”.

Outros prejuízos associados ao açúcar que Mariane comenta é o possível desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade e problemas de colesterol com o aumento do colesterol ruim e diminuição do bom. Também, menciona do possível vício em alimentos calóricos que não saciam a fome. “Estes alimentos não conseguem saciar a fome por muito tempo. Por exemplo, uma pessoa come um bombom em vez de uma alimentação que sacie, em poucos minutos vai voltar a sentir fome e vai querer beliscar mais um bombom ou outro alimento calórico”.

Porém, Mariane alerta que não é necessário uma parada total da alimentação com açúcar refinado, apesar dos riscos associados a ele, afinal, ainda existem alimentos no mercado com abundância de açúcar como refrigerantes, doces, bolos e tortas. Por causa disso, fala do balanceamento da dieta com uma alimentação rica em nutrientes, fibras e proteínas, e depois, se ainda tiver vontade, um petisco calórico.

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