Grupo estuda a diminuição populacional de peixes nativos

Projeto visa fazer uma pesquisa detalhada sobre a preocupante diminuição populacional das espécies de peixes nativos de Goiás

Postado em: 22-04-2024 às 11h16
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Grupo estuda a diminuição populacional de peixes nativos
Ary Soares e Mônica Rodrigues segurando peixes da espécie piracanjuba doadas para pesquisa | Foto: Divulgação/Idesa

Um dos principais peixes encontrados em Goiás, o peixe piracanjuba, já poderia estar extinto em certos trechos fluviais que passam no estado. Assim aponta os dados preliminares do Projeto Paranaíba Vivo, do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Sócio-Ambiental (Idesa). Projeto que foi oficialmente lançado neste último dia 12 de abril, visam fazer uma pesquisa detalhada sobre a preocupante diminuição populacional das espécies de peixes nativos de Goiás.

Ao todo, o projeto abrange 10 municípios goianos da região sudoeste do estado e três municípios de Minas Gerais, todos possuem afluentes e tributário com o rio Paranaíba, como: rio Piracanjuba, no município de Piracanjuba, rio Verdão, do município de Rio Verde e rio Claro do município de Jataí. Além disso, outras três entidades fazem parte do projeto, como a Universidade Federal de Jataí (UFJ), Universidade Estadual de Goiás (UEG) e o Instituto de Pesquisa em Fauna Neotropical (Ipefan). Além do monitoramento do peixe piracanjuba, também analisam outras 10 espécies de animais nativos do rio goiano.

Contudo, dados preliminares e preocupantes vieram com a constatação da crescente diminuição populacional dos peixes da espécie Brycon orbignyanus ao longo dos anos, popularmente conhecidos como piracanjuba. De acordo com Ary Soares do grupo Idesa, e atual diretor do projeto, ao jornal O Hoje, a pesquisa se dará ao longo de três anos para a análise da população do animal nos rios goianos, dos potenciais motivos de sua diminuição e dos principais métodos de restauração dos números do animal nas áreas afetadas.  

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De acordo com ele, além da importância do peixe como integrante de um ecossistema aquático, o animal também tem uma importância cultural e histórica para Goiás devido a sua relação com a pesca no estado. “Essa espécie possui um valor que precisamos dar importância, temos equipes na UEG estudando esse âmbito. Mas o que já existe é que o seu nome deu origem a dois rios, um município, além da sua importância no cultivo”, afirma o chefe da pesquisa.

Pela o monitoramento da população em uma grande variedade de locais averiguados, a coordenadora do laboratório de fisiologia de peixes (Labfish) e professora da UFJ, Mônica Rodrigues, diz que faz dois métodos de análise para a constatação de peixes em trechos fluviais. Um dos modos é a captura dos animais e o registro da sua população com etiquetas e tags. O outro jeito envolve o exame de remanescentes de DNA nos fundos dos rios. “Nós fizemos uma técnica chamada ‘DNA Ambiental’ em que coletamos sedimento do solo dos rios que são cobertos de restos de escamas, excrementos e carcaças para determinar se ainda temos a presença daquele peixe naquela região”.

Ainda sobre isso, diz que a principal suspeita da diminuição populacional foi com a construção da barragem Usina Hidrelétrica de Itumbiara no rio Paranaíba em 1974 que fragmentou a população do animal em diversos afluentes e dificultou a peregrinação do bixo entre os percursos hídricos. Além disso, fala como alguns tributantes do rio Paranaíba que passam pelas cidades estão com alto grau de contaminação como no município de Rio Verde. 

Este aumento na toxicidade é proveniente da poluição urbana e rural pelo do uso do solo, como tráfego rodoviário, uso de agrotóxicos em propriedades rurais e a destruição das matas ciliares. Mas também aponta fatores climáticos que podem contribuir para uma maior sentimentalização de materiais tóxicos para dentro das águas. “Nós já conseguimos observar partes dos rios mais bem conservados do que outros como na cabeceira do rio Piracanjuba que fica nas proximidades de Bela Vista de Goiás. Já nos afluentes como em Buriti Alegre nós vemos um alto grau de contaminação”, explica a pesquisadora.

De acordo com Mônica, essa poluição pode prejudicar o desenvolvimento embrionário de peixes localizados nos rios. De acordo com ela, essa poluição pode gerar má-formação dos animais recém nascidos e comprometer a cadeia genética de futuros peixes piracanjuba em Goiás. Além disso, promove também a morte de embriões do animal. “Nós fizemos um teste chamado embriotoxicidade com zebrafish para observar quais rios estão promovendo uma maior mortalidade de embriões pela contaminação”.

A partir da conclusão deste estudo, Ary diz que será feito um documento para ser entregue a entidades de preservação ambiental como ICMBio, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e o Ibama com possíveis métodos para a restauração do animal nas bacias goianas.

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