Projeto goiano premiado promete resolver crise hídrica no território kalunga

Reservatório subterrâneo garantiria a sobrevivência da comunidade em tempos de vulnerabilidade climática

Postado em: 07-05-2024 às 09h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Projeto goiano premiado promete resolver crise hídrica no território kalunga
Os quatro premiados da esquerda para a direita, Thiago Matos, Loise Oliveira, Grazielly Lima e Thais Reis | Foto: Divulgação/Loise Oliveira

O começo do mês de maio é gravado na mente popular goiana como o início “oficial” do período de estiagem. Como tal, ocorrem mudanças econômicas e culturais para o preparo da chegada do período da seca no Estado. Como exemplo: produtores rurais se preparam com a manutenção de reservatórios aquíferos; Prefeituras podem instaurar um racionamento de água caso as reservas se esvaziem; E os parques aquáticos registram um maior movimento.

Tais mudanças só podem ocorrer primeiramente com a presença da água ainda no município, juntamente com o amparo de tecnologias de retenção hídrica como os reservatórios e barragens. Porém, muitas regiões ao redor do País ainda não possuem tais infraestruturas e sofrem com o efeito da estiagem, podendo ter a chance aumentada de perder plantações e a falta da água para o consumo. Ainda mais com a intensificação dos efeitos climáticos do El Nino como registrados em 2023 e 2024. Um desses casos em Goiás é no território quilombola “Kalunga”, no noroeste do estado.

Estes povos isolados, com cerca de 5 mil pessoas de acordo com último censo de 2015, vivem na região há mais de 250 anos desde que escaparam do regime escravocrata da era Imperial. Contudo, mais de dois séculos e meio depois, a segurança hídrica dos Kalungas pode estar ainda mais em risco pela intensificação das mudanças climáticas nos últimos anos.

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Uma possível solução foi apresentada neste domingo (5) durante a premiação da primeira edição do evento Climathon Goiás, programa da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) que visa o desenvolvimento aliado com a adaptação climática. O projeto de autoria da equipe Climaticus é composta por Loise Oliveira, Thiago Matos, Grazielly Lima e Thais Reis, prevê a implementação de um reservatório subterrâneo para o uso de plantio na comunidade.

Como afirma Loise, o projeto se fundou para aliar a adaptação climática com ajuda social da comunidade que vive com a vulnerabilidade das mudanças climáticas. O projeto, que teve início no fim de semana, apresenta uma possível solução para a crise hídrica que pode ameaçar a sobrevivência da comunidade no nordeste goiano. “A relação da comunidade Kalunga com a agricultura familiar é algo muito importante deles. Quase tudo o que eles plantam eles comem e o que sobra movimenta a economia das cidades”.

O projeto se baseia na implementação de um reservatório subterrâneo que possa atender a demanda da população durante a seca e que possa fazer com que a comunidade não passe por dificuldades pela escassez da água. Segundo ela, cerca de duas mil pessoas devem ser atendidas pelo projeto, metade da população estimada dos Kalungas. Além do abastecimento, integram sensores na bacia para o monitoramento do mapeamento, a pressão, a qualidade e quantidade de água que a sociedade possa acompanhar.

Além dos Kalungas, a equipe também espera que este protótipo possa atender outros 21 municípios com essa vulnerabilidade possam ser atendidos. O motivo disso, como diz, é por parte do desenho inicial que visa um custo baixo de implantação na comunidade, bem como um efeito de curto prazo.

Esta iniciativa e outras sete fizeram parte do Climathon, que teve o âmbito de aliar iniciativas da adaptação climáticas com a mudança climática, com ideias sociais inovadoras e políticas públicas. De acordo com Milvo Gabriel, gerente de Mudanças Climáticas e Serviços Ecossistêmicos da Semad, se inspirou em eventos de startups Hackathon no cenário climático e ambiental.

Segundo ele, todos os projetos finalizados e implementados serão avaliados para uma possível implantação, não apenas os vencedores. Os critérios do evento foram sanar as três questões das mudanças climáticas e como afetam a sociedade: As ameaças que possam ser, a população que vai ser exposta a ela e a vulnerabilidade dessa população quanto a esses fatores.

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