Os riscos do uso de PMMA em procedimentos estéticos sem regulamentação

Morte da influenciadora Aline Maria Ferreira alerta para os riscos dos procedimentos estéticos não regulamentados

Postado em: 06-07-2024 às 07h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Aline Maria Ferreira, de 33 anos, morreu após um procedimento estético para aumentar os glúteos com aplicação de PMMA | Foto: Divulgação/PC-GO

O recente falecimento da modelo brasiliense e influenciadora digital Aline Maria Ferreira, de 33 anos, após um procedimento estético para aumentar os glúteos em Goiânia, colocou em evidência os perigos associados ao uso de polimetilmetacrilato (PMMA) em procedimentos não regulamentados.

Fabiano Calixto Fortes de Arruda, cirurgião plástico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Goiás (SBCP-GO), alerta que o PMMA, não recomendado para fins estéticos pela SBCP e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, pode resultar em complicações graves, incluindo inflamações crônicas, infecções, necrose da pele e até mesmo óbito.

O procedimento, que envolve a injeção do produto através de agulhas na região glútea, pode causar irregularidades permanentes e outras sérias consequências à saúde. “É crucial entender que procedimentos médicos devem ser conduzidos por especialistas qualificados”, destaca Arruda. Ele ressalta que um cirurgião plástico passa por uma formação extensa de 12 anos, garantindo a competência necessária para realizar intervenções com segurança.

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“A população precisa estar ciente dos riscos envolvidos ao optar por procedimentos estéticos”, enfatiza Arruda. Ele reforça a importância de escolher profissionais devidamente capacitados, pois a decisão consciente do paciente pode prevenir tragédias como esta.

Em colaboração com o Conselho Regional de Medicina de Goiás (CREMEGO), Sociedade Brasileira de Anestesiologia – Regional Goiás e associação de hospitais, iniciativas estão sendo desenvolvidas para promover ambientes mais seguros para a prática de cirurgias plásticas. “A segurança do paciente é nossa prioridade”, assegura Arruda, indicando que a regulamentação e a melhoria contínua dos protocolos são fundamentais.

Para aqueles que buscam procedimentos estéticos, Arruda aconselha buscar sempre um médico especialista. “Existem excelentes cirurgiões plásticos e dermatologistas aptos a avaliar e orientar o paciente sobre as melhores opções”, conclui.

Dona da clínica de estética foi presa pela Polícia Civil

Grazielly da Silva Barbosa, dona da clínica estética Ame-se, de Goiânia, que realizou o procedimento na influenciadora, foi presa pela Polícia Civil de Goiás nesta quarta-feira (3). Ela é  suspeita de crimes contra as relações de consumo e lesão corporal seguida de morte.

De acordo com o marido de Aline, ela estava internada desde sábado (29) em um hospital particular de Brasília, onde morreu, na última terça-feira (2). O procedimento foi feito no dia 23 de junho, quase uma semana antes. A investigação teve início quando a delegacia recebeu a informação sobre o falecimento de Aline, poucos dias após ter sido submetida a um procedimento estético na referida clínica. 

Ao chegar ao local para coletar evidências, os investigadores encontraram a proprietária da clínica presente, apesar de relatos anteriores sugerirem que ela estivesse evitando contato com a família da vítima e mantendo um perfil discreto nas redes sociais.

Durante a inspeção realizada em conjunto com a Vigilância Sanitária Municipal e o PROCON, foram identificadas diversas irregularidades graves. A clínica operava sem alvará sanitário, documento essencial para o funcionamento legal de estabelecimentos que oferecem serviços na área de saúde e estética.

Além disso, não havia um responsável técnico devidamente qualificado para supervisionar os procedimentos realizados, especialmente aqueles que envolvem o uso de substâncias injetáveis com potencial risco à saúde dos pacientes.

De acordo com a investigação, a proprietária se apresentava como biomédica, mas não possuía formação nem registro profissional na área. Segundo informações obtidas durante as diligências, ela afirmou ter cursado biomedicina até o terceiro período em uma faculdade no Paraguai, mas não apresentou documentos que comprovem sua qualificação para realizar procedimentos estéticos.

“A situação é extremamente grave e levanta sérias questões sobre a regulamentação e fiscalização desses estabelecimentos”, comenta a delegada responsável pelo caso, Débora Melo, enfatizando a importância de medidas rigorosas para garantir a segurança dos consumidores. “É inadmissível que clínicas operem à margem da lei, sem a devida autorização e com profissionais não habilitados, colocando em risco a vida dos pacientes.”

A delegacia prossegue com as investigações para determinar as responsabilidades pelo trágico incidente e avaliará as medidas necessárias para prevenir que casos semelhantes ocorram no futuro. O Ministério Público será acionado para avaliar possíveis medidas legais contra os responsáveis.

“Medicina é com médico”, alerta Cremego

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) emitiu um comunicado enfático reforçando os perigos associados a procedimentos estéticos realizados por indivíduos não capacitados. A nota, divulgada recentemente, destaca a importância de procedimentos invasivos serem conduzidos exclusivamente por médicos, em ambientes adequados e com técnicas seguras.

De acordo com o Cremego, o uso do PMMA em procedimentos estéticos, como preenchimento corporal e facial, representa um sério risco à saúde dos pacientes quando administrado por não profissionais. O órgão alerta que o PMMA não deve ser utilizado para preenchimentos extensos, como na remodelação glútea, devido aos potenciais danos à saúde.

O conselho apela às autoridades sanitárias e aos órgãos competentes para intensificar a fiscalização e combater vigorosamente o exercício ilegal da medicina estética. Além disso, o Cremego orienta os pacientes a verificarem sempre a formação dos profissionais responsáveis pelos procedimentos médicos, utilizando a ferramenta de busca disponível no site oficial do órgão (www.cremego.org.br).

O órgão também faz um apelo direto aos pacientes para que valorizem sua segurança e qualidade de vida, optando sempre por procedimentos realizados por médicos devidamente habilitados. Segundo o órgão, “Medicina é com médico”, enfatizando a importância de escolhas responsáveis e seguras em busca de tratamentos estéticos. 

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