Exercícios combatem Alzheimer

A prática de atividades físicas fortalece os neurônios responsáveis pela conexão entre nas células, que é a função prejudicada nas pessoas com Alzheimer

Postado em: 07-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Higor Santana*

Uma descoberta feita por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovou que praticar exercícios físicos pode ajudar na cura do Alzheimer. De acordo os especialistas, realizar atividades físicas por pelo menos três vezes na semana pode fazer com que os efeitos nocivos da doença sejam extintos.

O Alzheimer é uma doença que começa devagar, os primeiros sintomas são a perda de memória ou apatia, que progridem até interferir na realização das tarefas diárias. Com o tempo, a falta de memória se agrava e surgem déficits cognitivos como distúrbios de linguagem, alterações visuais, dificuldades motoras, declínio intelectual, sintomas psicóticos e alheamento.

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A velocidade da evolução da doença é variável. Alguns pacientes apresentam sintomas graves já no início do quadro, enquanto outros levam anos para despertar a atenção dos familiares. Enquanto alguns especialistas calculam que a duração média da demência até se tornar grave é de 10 a 12 anos, um trabalho clássico demonstrou deterioração cognitiva mais grave em 67% dos casos depois de 50 meses de evolução e, em 80%, depois de 80 meses.

O advogado Juvenal Costa, de 63 anos, pratica exercícios físicos há um ano e, para ele, as melhoras não só físicas. “Eu tenho me sentido bem. Antes me sentia sedentário, esquecido, agora tudo fica melhor. Se acontece uma melhora física, melhora tudo, todo o corpo, a mente, a memória. Tenho a sensação de que consigo me concentrar mais quando vou fazer algo, quando tenho que lembrar de fazer alguma coisa. Todo o corpo fica em sintonia”, disse.

De acordo com os estudos realizados, o estímulo das atividades físicas, sociais e de lazer em idosos e pacientes com doença de Alzheimer, pode ajudar a preservar funções cognitivas e retardar manifestações clínicas de demência como a perda da memória. Isso porque esses estímulos podem contribuir para a construção de reservas funcionais do cérebro, protegendo o órgão de lesões que causam prejuízos.

Velocidades mais rápidas de progressão da doença estão associadas à presença de fatores como histórico de outros casos na família, início anterior aos 65 anos, antecedentes de alcoolismo, baixa escolaridade e analfabetismo, além de fatores genéticos.

O responsável pela mudança de comportamento é um hormônio descoberto há pouco tempo, a irisina. Ela é produzida nos músculos com o estimulo da atividade física, e cai na corrente sanguínea. Antes, era usada para reduzir as reservas de gordura no estômago, mas com o novo estudo, foi comprovado o poder da irisina, sobre as relações neurológicas.

Ela fortalece os neurônios responsáveis pela conexão entre as células, que é a função prejudicada nas pessoas com Alzheimer. A irizina favorece a conexão em que as informações são registradas na memória. Alguns camundongos produziram a irizina durante testes realizados por cientistas, outros, receberam uma substância sintética, parecida com a irizina, os resultados foram idênticos. 

Cura

De acordo com os pesquisadores, esse estudo pode ser uma promessa de tratamento para quem sofre com a doença. Mas em seres humanos, a fabricação do medicamento pode demorar. Enquanto isso, médicos incentivam para a produção da irizina natural, nos exercícios físicos.

É como explica o médico cirurgião e clínico geral, Petrônio Gentil. “A prática de realizar exercícios sempre esteve paralela com a relação de corpo saudável, nos idosos não seria diferente. Com a idade, algumas funções do corpo começam a entrar em desgaste, principalmente a memória. Quanto mais você exercita o corpo, melhor vai ser o seu rendimento nas atividades do dia a dia”, afirma o médico.

Mas para praticar exercícios é preciso cuidado. É o que explica o personal Lukas Silva. “Como se trata de pessoas mais velhas, já de idade, a gente sabe que deve existir um cuidado redobrado. Pelo tempo, a condição física, a fragilidade, a própria mentalidade, a gente sabe que não se pode repassar uma atividade igual a de uma pessoa mais nova. A pessoa idosa não vai conseguir fazer o mesmo exercício ou a mesma sequência de atividades que uma pessoa de 25 anos, ela pode até acabar se machucando, depende muito da idade e do próprio condicionamento físico. Por isso é importante acompanhamento de um profissional nos exercícios”, afirma. 

Para o advogado Juvenal, quem pratica com cuidado nota a diferença, e ele ainda recomenda. “Notei a melhora na saúde como melhorar a pressão, disposição e respiração. Só isso aí já foi maravilhoso. Você sente um bem estar, uma coisa boa contigo mesmo. Desde quando comecei até agora, meu modo de viver mudou completamente, para melhor. Tenho falado para as pessoas próximas e para os amigos praticar exercícios, é muito bom. Vai se sentir  bem consigo mesmo, viver melhor, ter auto-estima boa”, disse o advogado.

De acordo com o doutor Petrônio, exercício físico é saudável para todos os indivíduos. “É interessante notar não só pacientes do Alzheimer, mas também qualquer pessoa, de modo geral. Em quem sofre com a doença, os benefícios da atividade não se limita a aspectos físicos, pois melhora e muito o estado de espírito do paciente”, ressalta. 

Benefícios da atividade física na terceira idade são sentidos rapidamente  

O envelhecimento para muitos é visto como o fim da vida, quando a pessoa idosa não se sente mais firme para realizar tarefas que fazia quando mais nova. Mas para alguns não. Esse período, considerado o da melhor idade, pode ser aproveitado como forma de fazer o que sempre teve vontade, mas com cuidado e acompanhamento.

Como é o caso do mecânico José Euripediz, de 58 anos. Durante a semana, José faz caminhada com um dos filhos no bairro onde mora. Nos fins de semana faz questão de jogar futebol com os amigos. “É muito bom, me sinto mais jovem, meu filho me apoia muito e a gente faz questão de sair para correr, conversar, isso exercita não só o corpo, mas também a mente. Gosto muito de jogar bola com os amigos, dar aquela exercitada. É bem melhor correr e se exercitar do que ficar sentado no sofá vendo a vida passar”, relata. 

Das doenças que afetam pessoas na terceira idade, o Alzheimer e o mal de Parkinson são as mais ocorrentes. O Alzheimer afeta 6% da população a partir dos 65 anos e 15% da população com mais de 80 anos. Um estudo feito na Universidade de São Paulo e na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo com apoio da Fapesp, comprovou a hipótese de que praticar atividades físicas e sociais ajudam e protegem o corpo e o cérebro de danos contra doenças.

“Observamos que a estimulação foi suficiente para interromper a formação de placas senis e promover uma ligeira melhoria na memória espacial dos animais”, disse Tânia Araújo Viel, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e coordenadora do estudo.

Na avaliação dos pesquisadores, o estudo comprova que a estimulação cognitiva, social e física pode ser complementar às atuais abordagens farmacológicas no tratamento da doença na terceira idade. O estudo comprova ainda, que mudanças positivas no estilo de vida, podem promover a neuroplasticidade do cérebro e contribuir para construção de uma reserva cognitiva durante o envelhecimento.

Alteração

Segundo a pesquisadora, a alteração do estilo de vida também inclui a utilização de nutracêuticos, alimentos que além de nutrir, podem ter outros efeitos benéficos à saúde, para a construção da reserva cognitiva, que é um efeito semelhante ao observado com o enriquecimento ambiental. 

De acordo com o médico Petrônio Gentil, a falta de oportunidade de praticar atividade física na terceira idade pode fazer com que os idosos desanimem, e em alguns casos fiquem depressivos sobre a vontade de viver, e para essas pessoas a atividade física é um modo de mostrar que ainda são capazes de fazer coisas que faziam.

“Devemos trabalhar no objetivo de obter um melhor estilo e qualidade de vida aos idosos, e espalhar os benefícios que as atividades físicas trazem, inserir uma rotina de exercícios para essa população”, afirma o médico.

Segundo o personal trainer Alexandre Moreira, o recomendado é praticar pelo menos três vezes por semana.  “Quando uma pessoa idosa for realizar algum tipo de exercício, é bom fazer por pelo menos três vezes por semana, e com o acompanhamento de um profissional. Se for diariamente, o recomendado é fazer em períodos de 15 minutos sem se esforçar, de manhã ou a noite, com atividades que trabalham o alongamento e a respiração”, afirma o profissional.

Bem estar

Os benefícios da atividade física na terceira idade se baseiam na melhoria do bem-estar geral, a melhora da condição da saúde física e a preservação da independência, lembrando que a atividade física é uma das intervenções mais eficientes quanto à melhora da qualidade de vida dos idosos, por que auxilia na mudança do processo de envelhecimento, promovendo a independência e autonomia nas atividades do cotidiano.

O principal benefício que a atividade física promove no envelhecimento é a capacidade funcional, que proporciona manutenção dos sistemas fisiológicos por um tempo maior, contribuindo com um melhor desempenho físico.

“É importante incentivar o uso da recreação para os idosos, porque a recreação permite um combate ao aborrecimento, estabelece novos contatos, incentiva o gosto pela ação e compensa a falta de atividade profissional, sendo uma forma de evitar um pouco da irritação que muitas vezes torna a pessoa idosa ociosa”, disse o doutor Petrônio.

Segundo o médico, na terceira idade, a qualidade de vida se evidencia na capacidade de viver sem doenças, de superar as dificuldades dos estados ou condições de morbidade, com isso, podemos aliviar a dor, o mal-estar e as doenças, intervindo então sobre os problemas que podem gerar dependências e desconfortos. (Higor Santana é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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