Invasões causam danos ambientais aos leitos dos rios

Moradores do Setor dos Funcionários em Goiânia denunciam invasão com mais de vinte casas construídas à beira do Córrego Capim Puba há mais de 30 anos

Postado em: 25-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Moradores do Setor dos Funcionários em Goiânia denunciam invasão com mais de vinte casas construídas à beira do Córrego Capim Puba há mais de 30 anos

Igor Caldas*

Ocupações irregulares em áreas de proteção ambiental (APA) são uma realidade consolidada na Capital. Segundo dados da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), desde janeiro do último ano, foram identificadas sete áreas de APA’s invadidas com edificações. Em seis delas, os ocupantes foram autuados. Neste mês, será feita a reintegração de posse em uma destas áreas e autuação de ocupantes da última invasão a ser identificada pela AMMA. 

Ao menos vinte casas compõem uma invasão às margens do Córrego Capim Puba nas ruas P-38 com a P-39 do Setor dos Funcionários. Além de estarem construídas em área de proteção ambiental, as casas também foram construídas em área de risco, pois foram construídas em cima de manilhas da rede de esgoto e tratamento da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago). Vizinhos da invasão, relatam que há descarte incorreto de resíduos sólidos e que os ocupantes da área jogam esgoto sem tratamento diretamente no leito do córrego.

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Moradores do bairro relatam descaso do governo, pois já fizeram denúncias e entraram com processos formais nos órgãos competentes há anos, mas a situação nunca foi resolvida por completo. Algumas famílias que habitavam a invasão já foram removidas e até indenizadas pelo Estado, mas nunca tarda para que o retorno dessas pessoas aos edifícios construídos na beira do córrego aconteça.

Consta em denúncia feita na Secretaria Municipal de Fiscalização em 2013, de processo número 54961227, uma ampliação de área construída em ocupação antiga na Rua P-38. O documento possui registro fotográfico do início da construção de um sobrado que hoje está com três andares. Simone Coutinho mora em uma casa que era da sua avó, vizinha à invasão. Ela relata que as obras continuam a acontecer e os invasores não fazem descarte correto do entulho, causando água parada e proliferação de mosquitos. 

“Já tem muitos anos que a gente está pelejando. Na casa da minha mãe, tem um pedaço que eles invadiram e impedem que eu faça a limpeza da vegetação do lote. O mato cresce em meio ao lixo que eles despejam e quando chove, enche de mosquito com a água parada”. Denuncia Coutinho. Ela também denuncia que as obras continuam, sempre no fim de semana. “Eles invadiram, o estado embargou a construção, mas depois eles voltam a mexer novamente. Sempre no final de semana. Sempre no domingo”.

O lixo e água parada já causaram complicações sérias para a moradora. Ela contraiu dois tipos de Dengue morando no local. “Eu peguei duas dengues, uma normal e uma hemorrágica. Não morri por que deus não deixou. Mas, também nunca mais  fui a mesma. A dengue hemorrágica acaba com a gente. Quando ela não  mata, deixa sequelas horríveis, só quem pegou sabe o tanto que é ruim”. Lamenta Coutinho. “Vaso de banheiro, pia de banheiro, material de obra, garrafas. Tudo isso que acumula água e causa o que? A maldita dengue! A prefeitura não está nem aí? Cadê o agir? Só tem blá blá blá”.

Simone declara que sente vergonha de ser brasileira devido ao descaso do Estado para com a população. Ela disse estar cansada pois, já recorreu a vários órgãos para o problema ser solucionado. “Estou cansada de tentar e não ver resultado. Eu já fiz abaixo assinado com moradores, já tentei resolver com vários órgãos do estado e nada. A gente precisa achar uma solução. Isso prejudica todas as pessoas que moram aqui. Não tenho nada contra eles, mas tudo isso tem causado problemas de saúde para os moradores de todo bairro”, denuncia Simone.

Crime ambiental

Segundo um dos moradores mais antigos da área que fica próxima a invasão, P.G de 69 anos, o problema acontece há décadas. “Sou o morador mais antigo desse pedaço. Moro aqui há 67 anos. A prefeitura já tirou várias vezes e eles voltam toda vez. Daí, eles foram indenizados e somem. De repente, voltam comprando carrão. Gastam tudo em cachaça e droga no final de semana. Parece que é um mau sem remédio. Essas idas e vindas desse povo tem mais de 30 anos”, relata P.G.

O morador que não quis ser identificado temendo represálias dos invasores também afirma que a invasão já foi ponto de tráfico. “No passado, eles tinham uma boca de fumo. Aí a policia quebrou a boca de fumo e faliu eles. Daí, eles ficam achando que foram os vizinhos que entregaram eles. Hoje, tratam a gente com ignorância, fecham a rua com tudo quanto é tipo de entulho pra gente não passar com o carro”.

P.G relata que é muito triste assistir o local em que foi nasceu e se criu transformar-se em um calabouço de proliferação de doenças. “Eu aprendi a nadar no Córrego Capim Puba. Já pesquei muito dourado grande aqui pra comer. Hoje, todo lixo que eles produzem é jogado dentro do córrego. São incapazes de pegarem uma sacola e levar o lixo no lugar correto. O esgoto, que deveria ser tratado como é feito com o nosso, é jogado direto nas águas que eu aprendi a nadar”. Lamenta P.G. 

Documentos comprovam a insistência de permanência nas invasões 

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