Sonho da vida ao volante

Motoristas de ônibus contam sobre os desafios do cotidiano na profissão no dia de São Cristóvão

Postado em: 25-07-2019 às 06h15
Por: Sheyla Sousa
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Motoristas de ônibus contam sobre os desafios do cotidiano na profissão no dia de São Cristóvão

Igor Caldas

O 25 de julho é associado ao dia dos motoristas porque também é  celebrado o dia do santo padroeiro da atividade dos transportes, São Cristóvão. A equipe do jornal O Hoje conversou com os profissionais que conduzem os ônibus do transporte coletivo na Capital para homenagear essa classe de trabalhadores que transporta a população que dá vida à Goiânia.

Todos os dias, Roberto Soares Rufino dirige um ônibus do transporte coletivo da Rápido Araguaia. Ele afirma que o diferencial no seu trabalho está na receptividade que tem com os passageiros. “Toda pessoa que entra no meu ônibus eu cumprimento com um bom dia e todo mundo que sai eu grito obrigado em agradecimento”. Ele é conhecido como “Roberto Bom Dia” pelo carinho que tem com as pessoas que entram no seu ônibus. O sonho de ser motorista profissional existe desde que Roberto era uma criança.

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Ele também acredita que a principal preocupação desse profissional deve ser com a segurança. “A principal preocupação do motorista deve ser a responsabilidade com a segurança. Ela não pode falhar nunca por que se trata de vidas em risco. No meu caso, eu tenho essas vidas como a carga mais valiosa do planeta. Além do transporte, acredito que meu trabalho tem que ser de deixar o dia daquela pessoa mais feliz porque eu carrego sonhos, realizações e projetos dentro do meu ônibus. É um trabalho de grande responsabilidade. Eu  levo as pessoas que dão vida a cidade”.

‘Bom Dia’ conta da dificuldade que passou até conseguir realizar seu sonho de infância. “Estava desempregado, passando por necessidades financeiras, falta de alimento em casa, uma situação muito difícil. Daí, saí na rua pedindo doações para as pessoas, contando do meu sonho, do meu objetivo de trocar minha habilitação de amador para a profissional. Assim que consegui fazer isso eu consegui me empregar”.

Comportamento acolhedor

Roberto Bom Dia faz um relato sobre o dia que sentiu que seu comportamento receptivo com os passageiros realmente faz a diferença. “Uma vez a porta do ônibus estava com problema e um passageiro reeducando do sistema prisional, com tornozeleira eletrônica queria entrar no ônibus. Depois que eu consegui abrir a porta ele perguntou se eu estava descriminando ele. Eu respondi que no meu ônibus entram todo tipo de pessoa de todas as cores e que não importa o passado delas, eu recebo todas da mesma forma. Todas merecem respeito”.

O profissional afirma que quando o ônibus chegou próximo ao Parque das Nações, o passageiro tirou o revólver da cintura e entregou a arma para o motorista. Segundo Roberto, ele estava planejando assaltar o ônibus, mas desistiu depois das palavras do condutor.

Sebastião Vagner de Oliveira, de 47 anos, trabalha há quase 19 anos na empresa de transporte coletivo HP transportes. Ele se orgulha de ser um profissional que conduz o ônibus e fala como enfrenta o estresse do corre-corre das ruas da Capital.

Ele afirma que é necessário um aprendizado para lidar com as situações adversas no trânsito. Sebastião trabalha desde a fundação da linha que passa no setor Veiga Jardim e tem uma rota fixa todos os dias. “A gente tem que estar renovando nossa rotina de alguma forma, se não perdemos o foco. Qualquer mudança que a gente fizer, por mínimo que seja, faz a diferença. Os dias não podem ser todos iguais se não você enlouquece, o trabalho fica chato”.

Preocupação com aposentadoria 

O motorista de ônibus afirma que a principal motivação diária é sua família e mesmo trabalhando há muito tempo na empresa, ele demonstra preocupação com sua aposentadoria.  “Tive um pequeno que nasceu agora, ele faz com que eu venha trabalhar com alegria todos os dias. Fico um pouco preocupado é com a aposentadoria. Do jeito que mudou agora, é só Deus. Já estava mais ou menos perto de eu me aposentar, mas agora não sei como vai ser a questão dessa transição”, afirma.

Ele afirma que a principal preocupação de um motorista deve ser com a segurança de todos “O motorista é responsável pela segurança de todos a sua volta. O principal problema hoje em dia está na desatenção ao volante. A tecnologia beneficia a gente de muitas formas, mas infelizmente o povo ainda não aprendeu a lidar com ela de forma correta. Na minha opinião, o celular e fone de ouvido são os maiores causadores de acidentes. Não é só falar ao volante dirigindo, a desatenção do pedestre também pode se tornar mortal”.

O motorista conta sobre os acidentes que já presenciou enquanto estava trabalhando. “O mais recente foi na Rua 90 com a Avenida 136. Um menino saiu correndo e atravessou na frente do ônibus sem olhar. Eu estava andando devagar e bati nele. Graças a Deus não aconteceu nada de grave com ele. De acordo com Sebastião, sua rotina é guiada pela proteção divina. “Temos sempre que pegar com Deus para ele nos livrar das coisas ruins e acidentes que possam acontecer no nosso caminho”.

Nesse dia de São Cristóvão, Sebastião deixou uma mensagem a todos os motoristas. “Mais amor no trânsito, mais respeito e consideração pelo próximo. O trânsito é muito perigoso. Parece que por melhor que uma pessoa seja, ela entra dentro do carro e vira outra coisa. Não pode haver distração com o celular. A maioria das pessoas esquece disso. Todos os dias eu vejo acidentes que acontecem por banalidades. Eles poderiam ser impedidos”. 

Mulher no volante, perigo está distante 

Keila Vieira é motorista das vãs do City Bus 2.0 que circulam pelas ruas da Capital. Ela se sente realizada de ser mulher e conduzir passageiros com segurança para diversos destinos na cidade. Antes de ser motorista profissional, Keila trabalhava como instrutora e educadora de trânsito.

A profissional fala sobre a reação dos passageiros quando observam que é uma mulher que está ao volante.  “Dentro da van, eu nunca senti essa parte do preconceito em relação às mulheres no volante. Pelo contrário, vejo que as pessoas ficam torcendo pelo meu sucesso. Elas ficam felizes porque as mulheres estão chegando em posições de liderança no mercado”.

A prioridade pela segurança é unânime em todos os entrevistados. “A segurança é o fator mais importante da profissão. Também falo isso como educadora de trânsito. O motorista deve ficar 100% atento em tudo que está a sua volta. Precisa dar atenção a tudo que encontrar durante o percurso para evitar acidentes. 90% dos acidentes acontecem por uma falha humana. A segurança do trânsito envolve tudo que circula nas ruas. Desde o ciclista, carros e motos até os pedestres”, explica.

Além de Keila, mais cinco mulheres conduzem as vãs do City Bus 2.0 na cidade. Ela acredita na superioridade da condução feminina ao volante. “Olha, para ser bem sincera, nós somos bem melhores do que o homem no volante. Somos mais atenciosas, desgastamos menos o equipamento e temos o atendimento diferenciado aos passageiros. Damos mais atenção ao cliente e somos mais solidárias com os pedestres. Com certeza esse número só tende a aumentar. Acredito que o motorista tem que sentir paixão pelo que faz porque ele tem que zelar pela segurança dentro e fora do ônibus”.

A profissional completa dizendo que para reduzir acidentes, a educação de trânsito deveria ser repensada. “As pessoas não estão preocupadas com educação no trânsito. São pouquíssimas aulas até que você consiga tirar a Carteira Nacional de Habilitação. Então, as pessoas não vêem muito futuro nesse tipo de conhecimento. Em outros países ela é ensinada desde a pré-escola”. 

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