Quatro anos se passaram e obra do BRT Norte-Sul em Goiânia segue sem conclusão

Prefeitura corre contra o tempo e tem pouco menos de três meses para finalizar obra no novo prazo estipulado| Foto: Wesey Costa

Postado em: 07-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Prefeitura corre contra o tempo e tem pouco menos de três meses para finalizar obra no novo prazo estipulado| Foto: Wesey Costa

Igor Caldas

Com atraso histórico de quatro anos para conclusão do BRT Norte-Sul em Goiânia, ainda resta cerca de metade da obra a ser concluída. A gestão Iris Rezende corre contra o tempo e tem pouco menos de três meses para finalizá-la no novo prazo estipulado, em outubro de 2020. O trecho do Corredor do BRT na Avenida Goiás Norte carece de atenção. As pistas laterais na Avenida Oriente foram executadas e as calçadas ainda estão sendo construídas na Avenida Goiás Norte. A sinalização horizontal, vertical e semafórica não foi concluída.

No Trecho Norte, terminais Perimetral e Rodoviária ainda estão sendo executados além das estações de embarque e desembarque de passageiros. Apenas a lateral do Terminal Recanto do Bosque foi concluída e opera as linhas dos ônibus convencionais enquanto as obras da outra parte que inclui a plataforma do BRT, com a área de manobras, a plataforma dos ônibus convencionais e o pátio de estacionamento dos ônibus acontecem.

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A prefeitura culpa a suspensão da obra pelo atraso nos serviços na contramão da Avenida Goiás, entre a Avenida Independência e a Praça Cívica e entre a Rua 1 e a Praça Cívica, no sentido Norte-Sul. No entanto, no sentido Norte-Sul da Avenida Goiás, os trabalhos da rede de drenagem e do corredor do BRT, entre a Avenida Independência até a Rua 1, foram concluídas. Resta executar as calçadas acessíveis, iluminação e o paisagismo.

No Trecho Sul, os serviços no entorno da Praça do Cruzeiro foram concluídos. As obras estão sendo executadas na Rua 84, até a Praça Cívica. O pavimento rígido do trecho está com 90% concluído. Resta a construção da estação de embarque e desembarque entre a Rua 104 e a Rua 94. A execução da rede de drenagem no trecho entre a Rua 124 e a Praça Cívica (sentido Praça do Cruzeiro/ Praça Cívica) ainda não foi concluída e o pavimento flexível está em execução.

As pistas que compõem o corredor e das laterais, entre a Praça do Cruzeiro e o Terminal Isidória, foram executadas. As calçadas estão em fase de colocação de piso tátil. As obras da construção do novo Terminal Isidória, transferido para outro lugar desde setembro do último ano, ainda está na fase de terraplenagem e fundação. O novo terminal terá plataformas para atender o BRT e os ônibus comuns, fazendo a integração das linhas. O entorno da Praça Cívica deve ser a última etapa do BRT Norte-Sul a ser executada e o trecho da Avenida Goiás, a partir da Rua 1.

Implantação de BRT priorizou facilidade, diz especialista  

O especialista em engenharia de transportes que atua no Instituto Federal Goiano (IFG), Marcos Rothen, afirma que o local de implantação do sistema BRT não priorizou a demanda por mobilidade urbana e sim a facilidade de implantação. “A rua pela qual o BRT vai passar, praticamente já existia na Rua 90. Eles fizeram a obra lá porque era um lugar mais fácil de executar. Gastaram muito dinheiro e os benefícios serão ínfimos”, declara.

O especialista defende que a região da Rua 90, por exemplo, vai demorar muito a ser transformada com a substituição das inúmeras casas pelas grandes habitações de edifícios verticais, aumentando fluxo do trânsito e exigindo mais da infraestrutura viária no local. “Apenas após essa mudança urbanística, a estrutura viária construída no local seria necessária. Talvez, no futuro, o BRT seja um tiro no pé, uma decepção”.

O engenheiro cita outro exemplo de obras do BRT que não seriam prioridade. “Mesma coisa acontece na região da Goiás Norte. Ela já possuía o corredor central onde foi construída a pista de rolamento do BRT. Aquela parte da cidade ainda está se desenvolvendo e não exige muito da estrutura viária”.

Ele ressalta que se o sistema do BRT não tiver um funcionamento de alta qualidade, pode ser um verdadeiro desperdício para a mobilidade urbana da Capital. “Se o transporte não atrair os motoristas a deixarem seus veículos em casa, a situação pode piorar ao invés de melhorar. Vai ficar ruim para todo mundo”.

O engenheiro destaca que os veículos do BRT devem ser confortáveis, espaçosos, e seguros para que atraiam os motoristas individuais a deixarem seus veículos em casa. Marcos não parece estar convencido de que o sistema BRT vai trazer benefícios reais para a Capital. “Não vai ter qualidade suficiente para melhorar a mobilidade. Seria necessário que ele fosse construído na Avenida 85, onde há um tráfego muito maior”.

Plano Diretor

Erika Cristine Kneib, arquiteta, urbanista e doutora em transportes afirma que as obras viárias em Goiânia são muito importantes, mas têm que estar dentro de um planejamento maior do sistema viário da Capital. “Se forem planejadas de maneira equivocada, as estruturas podem agravar a situação do trânsito ao invés de melhorá-la”. Erika defende que a solução para fluidez no trânsito é o investimento em transporte público que diminuiria os veículos nas ruas.

A especialista em transportes alega que a baixa fluidez no trânsito está associada ao excesso de uso de automóveis e por sua vez, está relacionada à quantidade de vias na cidade. Segundo ela, a melhoria do transporte coletivo diminuiria veículos nas ruas, melhorando a mobilidade da Capital.

Erika Kneib elogia o Plano Diretor de Goiânia de 2007 que prevê uma série de obras para o transporte público. O documento está sendo revisado pela Câmara Municipal de Goiânia. “A proposta do Plano Diretor de 2007 é muito positiva no fortalecimento do Transporte Público e a revisão que está sendo feita continua com esse planejamento”. No entanto, alega que nos mais de 12 anos que estão entre a aprovação e atual revisão do Plano Diretor, pouco do que foi pensado teve implementação.

“O grande problema é que o planejamento existe, mas implementou-se pouco do que foi planejado”. Ela garante que de todos os corredores de ônibus e ciclovias presentes no mapa do Plano Diretor de 2007, apenas 15% pode ter saído do papel. “Muito do que foi planejado ainda precisa ser implementado e tem que estar articulado com o todo. Não dá para brotar uma obra nova que não está no contexto da cidade”. (Especial para O Hoje)

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