Após 4 anos, Enel Goiás segue entre as piores distribuidoras de energia

Situação da empresa não agrada agência reguladora, clientes e agora até funcionários | Foto: Wesley Costa

Postado em: 01-03-2021 às 08h15
Por: Sheyla Sousa
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Situação da empresa não agrada agência reguladora, clientes e agora até funcionários | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

A Enel Goiás completa quatro anos de atuação no Estado, mas a empresa continua configurando entra as últimas colocações no ranking de prestação de serviço da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O último levantamento feito pela Agência é de 2019 e nele, das 29 empresas avaliadas, a concessionária aparece em penúltimo lugar.

A situação ainda é desagradável para a Enel que, desde quando a empresa assumiu a concessão da energia de Goiás, em 2017, a empresa sempre amargou nas últimas colocações do levantamento. Um dado importante é que a empresa é responsável pela eletricidade de 98,7% do Estado. Ou seja, ela está presente em 237 municípios goianos. Ainda não se sabe se a Enel colhe, depois de 1.460 dias de gestão, a imagem negativa que antiga Celg D, mas muitos clientes não percebem diferença entre uma e outra.

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A aposentada Marly dos Santos Oliveira, de 63 anos, mora há oito anos no Residencial Real Conquista em Goiânia e já sentiu o impacto no bolso pelas constantes quedas de energia no setor. Ela é deficiente visual e utiliza muito de alguns aparelhos elétricos para se localizar dentro de casa. “Eu tenho uma moça que trabalha aqui, mas ela não fica todo momento aqui e é por meio de alguns eletrodomésticos que eu sei se estou no quarto ou na sala. Mas sempre falta energia, eles desligam e eu sofro para conseguir ligá-los”, relata.

Para tentar completar a renda extra, ela, migrante da região Nordeste do País para Goiânia, vende açaí e cupuaçu – duas frutas nativas do Norte do Brasil. Porém, o freezer antigo que ela tinha queimou com duas quedas de energia que, segundo ela, ocorreram em menos de meia hora de intervalo.

“Logo depois, eu não escutei mais o barulho que ele fazia tradicionalmente. Eu pedi para a moça olhar no dia seguinte e minhas polpas estavam todas descongeladas. A minha cozinha ficou alagada e poderia escorregar e me machucar quando fosse pegar uma água, por exemplo”, relata.

Marly revela que pensou em entrar com o pedido de ressarcimento com a Enel, mas foi persuadida a não realizar isso, pois não daria em nada. A solução encontrada por ela foi comprar um novo freezer para poder armazenar as polpas. “Tive que gastar um dinheiro que não podia no momento. Mas não poderia perder esses alimentos. Eu teria um prejuízo de mais de R$ 1 mil”, alega.

Segundo ela, no setor é constante acabar com a energia e nem é necessário cair chuva para isso acontecer. “Aqui do nada a luz acaba, volta, acaba e volta. Sei que aqui deve ter muito mais pessoas que tiveram prejuízo com isso, mas muitos não correm atrás com medo de não dar em nada”, reforça.

Reforço

A Enel chegou a inaugurar duas obras em Goiânia no último dia 12 de fevereiro: a subestação Santa Genoveva e a ampliou a subestação Meia Ponte. De acordo com a companhia, juntas, as obras tiveram o investimento de R$ 56,1 milhões. Durante a solenidade, a empresa prometeu a construção de mais de 67 quilômetros de novas redes de distribuição que atenderão cerca de 180 mil clientes de Goiânia, Trindade e Senador Canedo.

Porém, para a cliente o investimento tem que ser ainda maior, pois tem bairros que estão mais afastados da região Central. “Nós aqui sofremos com isso direto e não dá para continuar com tanta queda de energia para causar mais prejuízos. E não é só isso, as ruas ficam totalmente escuras e quem anda por aí também se sente desprotegido. Em certos momentos, a gente até sente saudades da Celg, pois não tinha esse tanto de problema”, reforça. 

Audiência encaminha abertura de CEI para investigar Enel 

No último dia 18 de fevereiro, o vereador Mauro Rubem (PT) iniciou o recolhimento de assinaturas de outros parlamentares, junto ao grupo de trabalho criado em audiência pública, para a instalação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) destinada a apurar irregularidades na Enel Distribuição Goiás. Segundo o Regimento da Câmara, é necessário que um terço dos parlamentares assinem o documento.

A decisão foi tomada após audiência pública presidida por Mauro Rubem (PT), no último dia 11 de fevereiro, para discutir as responsabilidades da Enel junto aos prestadores de serviço, que fizeram fortes denúncias de exploração, precarização do trabalho, perseguição e humilhação. Os terceirizados da Enel também fizeram uma paralisação de alerta pedindo melhores condições de trabalho, como pagamento de horas extras, isonomia salarial e valorização da mão-de-obra,e relataram em audiência as dificuldades que estão enfrentando.

O vereador petista lembra que “desde que a Enel comprou a Companhia Energética de Goiás (Celg) a empresa só aumentou seus lucros, diminuiu os investimentos, elevou o valor da tarifa de energia e piorou o serviço, ou seja, um quadro que só traz prejuízo ao consumidor goiano”. Aliado a tais problemas, lembra Mauro Rubem, a Enel vem realizando sucessivas demissões de trabalhadores sob a alegação de que não estariam cumprindo as metas estabelecidas.

O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas de Goiás (Stiueg), que tem prestado solidariedade e apoio ao grupo de eletricitários, também participou da audiência. O advogado do Sindicato, Welton Marden de Almeida, presente na mesa de discussão, pontuou os prejuízos que a população goiana levou e continua levando com a privatização da CELG.

“A Celg, no ato de sua privatização, devia cerca de R$ 6 bilhões. A primeira proposta de privatização era por quase esse valor, mas foi formado um cartel de empresas afirmando que não pagariam o preço proposto, já que a dívida era alta”, explica. Após a compra da estatal brasileira pela italiana Enel, a empresa estrangeira ganhou R$ 100 milhões de isenção de ICMS por ano e foi criada uma associação para suportar a dívida da Celg. “Aqueles R$ 6 bilhões que baixaram o preço da CELG está sendo pago pelo povo goiano”, enfatizou o advogado do Stiueg.

A audiência contou ainda com a participação de outros sete vereadores; eletricistas, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (Stiueg); Federação Regional dos Eletricitários e Saneamento e a Agência Goiana de Regulação e Associação das Donas de Casa de Goiás. A Enel não compareceu à audiência ou mandou um representante para prestar esclarecimento ao grupo representante dos mais de 8 mil da categoria de eletricistas.

O eletricista Alex, subiu à tribuna durante a audiência pública, para reforçar a importância daquele momento, já que a Enel não abriu portas para negociação. “Este grupo está aqui enquanto nossos colegas estão lá fora, na chuva, tem mais trabalhadores no interior do estado esperando nossa resposta também”, alertou.

Para o vereador Mauro Rubem, que tem acompanhado a organização dos eletricitários da Enel em prol de seus direitos, a Câmara não pode se furtar aos graves problemas que enfrentam os trabalhadores terceirizados da companhia. “A Enel foi contratada para explorar o serviço público de distribuição de energia elétrica em Goiás e não para explorar o trabalhador goiano e, em especial, o goianiense”, arrematou o parlamentar. (Especial para O Hoje)

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