Talento inegável

Astro mais reluzente do cinema americano, na atualidade, Leonardo DiCaprio chega ao auge da carreira e está prestes a levar seu primeiro Oscar

Postado em: 07-02-2016 às 00h00
Por: Redação
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Astro mais reluzente do cinema americano, na atualidade, Leonardo DiCaprio chega ao auge da carreira e está prestes a levar seu primeiro Oscar

(Fabiano Ristow/Agência O Globo)

A primeira vez em que Leonardo DiCaprio foi indicado ao Oscar foi há 22 anos, por Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (1993), como melhor ator coadjuvante. Ele concorreria à cobiçada estatueta de melhor ator outras três vezes, sem nunca levar o troféu para casa. Agora, com O Regresso – que entrou em cartaz na última quinta-feira (4) no Brasil concorrendo em 12 categorias, incluindo a de melhor filme –, ele pode finalmente receber, no dia 28 de fevereiro, o prêmio mais importante da indústria do cinema. Caso a vitória se concretize, fãs ao redor do mundo vão compartilhar um sentimento de justiça fei­ta.

O número de derrotas de DiCaprio está longe de ser um recorde. Richard Burton (1925-1984), por exemplo, saiu da cerimônia sete vezes de mãos vazias. Peter O’Toole (1932-2013), oito. Entre artistas ainda vivos, Amy Adams também disputou cinco vezes as categorias de atuação (como protagonista ou coadjuvante). Mas as consecutivas perdas do californiano de 41 anos parecem despertar uma revolta com poucos precedentes – além de inúmeras piadas nas redes sociais. O fruto de tanta indignação, argumentam especialistas e colegas de profissão, vem da noção de que o ex-namorado de Gisele Bündchen precisa ser recompensado com a láurea máxima de Hollywood por ser um dos atores mais talentosos de sua geração.

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“Essa percepção de fato existe, você não acreditaria nas reações públicas que eu vejo. São 100% favoráveis a ele. As pessoas acham que ele merecia ter ganhado o Os­car há muito tempo. E, de fato, quem na casa dos 40 anos se iguala a ele em Hollywood?”, diz o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, descartando que nomes como Matt Damon, 45, possam se equiparar a DiCaprio.

O tempo máximo em que DiCaprio permaneceu sem receber uma indicação ao Oscar fotam os 11 anos que separam Gilbert Grape, em que ele interpretou um jovem autista, e O Aviador (2004). Ele disputou novamente por Diamante de Sangue (2006) e O Lobo de Wall Street (2013).

Pela performance em O Regresso, do mexicano Alejandro G. Iñárritu, ele venceu, no sábado (30 de janeiro), o prêmio do Sindicado dos Atores dos EUA, o SAG – um excelente prenúncio do que pode acontecer no Oscar, já que a categoria é a de maior peso entre os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (cerca de 1,1 mil atores dos quase 6 mil membros).

“Na verdade, eu fico até surpresa que ele ainda não tenha ganhado três ou quatro Oscars”, dispara Ellen Lewis, produtora de elenco (profissão que nos créditos aparece como “casting by” ou “casting director”) que costuma escalar atores dos filmes de Martin Scorsese desde Contos de Nova York (1989). “Para começar, o que ele fez em Gilbert Grape foi de partir o coração. E aí te­mos o retrato maníaco de Jordan Belfort em O Lobo…. Cada performance dele é lancinante e estabelece novos parâmetros. Tive a sorte de trabalharmos juntos em seis filmes, e eu realmente espero que desta vez a Academia reconheça o papel dele como Hugh Glass.

Ela se refere ao protagonista de O Regresso, um caçador real que, nos anos 1820, foi deixado para trás pelos companheiros após ser atacado por um urso. A produção chamou a atenção pelas condições extremas a que a equipe foi submetida. Vegetariano, DiCaprio precisou comer um pedaço de fígado cru. Também aprendeu a atirar com uma espingarda e a falar duas línguas indígenas, além de ter estudado com um especialista em antigas técnicas de cura. Em entrevistas, ele afirmou que esse foi o trabalho mais difícil de sua carreira. A atuação de DiCaprio arrancou superlativos da crítica. A revista especializada Variety, considerada a bíblia do cinema, chamou a sua performance de “200% comprometida”.

“O que o destaca (dos demais atores da mesma geração) é que ele não é estacional”, opina Marcela Altberg, produtora de elenco desde 1995 e premiada com o APTR na categoria especial “casting para musicais”.  “Não mon­tou uma carreira calcada em cima da beleza, algo muito comum quando o ator é bonito. E em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil, quando a pessoa é muito bonita, não é permitido que ela tenha talento. É um preconceito reverso. Ele quebrou isso, o que também ajudou a cativar o público. Procurou fazer escolhas que o colocassem em outro lugar. Um filme que me chamou muito a atenção foi A Praia (2000), que veio depois do estrondoso sucesso de Titanic (1997). Ele era jovem, mas fez aquilo com o maior primor.

DiCaprio começou a carreira aparecendo em comerciais da TV, logo emplacando papéis em seriados, como Santa Barbara e Tudo em Família. Sua estreia no cinema foi no terrir Criaturas 3 (1991), em que viveu o enteado do malvado proprietário de um imóvel.

A versatilidade do ator também é destacada por Ilene Starger, produtora de elenco que escalou DiCaprio em As Filhas de Marvin (1996), ao lado de Meryl Streep e Diane Keaton. Segundo ela, DiCaprio, nos bastidores, é um ator que, mesmo sem sair do personagem, interage com a equipe e os outros colegas de elenco:

“O que o torna brilhante é que ele também tem alma. Aquele filme foi um projeto sustentado pelo amor que tínhamos pela história. Naquela época, já era evidente, pelos trabalhos dele em O Despertar de um Homem (1993) e Gilbert Grape, que se tratava de um artista com uma extraordinária sensibilidade e complexidade. Ele sempre impôs desafios para si mesmo. Foi maravilhoso testemunhar seu talento prodigioso e o merecido suces­so que veio depois de alguns anos.

“Diário de um Adolescente (1995) me marcou mui­to, embora ele tenha entrado depois nessa figura do galã”, ressalta Fátima Toledo, uma das principais preparadoras de elenco do Brasil. “Mas agora ele está retomando (o potencial). Mesmo a atuação exagerada de O Lobo… era compatível com o estilo do filme. É isso que me surpreende: ele passeia por tons diferentes, de acordo com o universo, sempre passando o mais importante: a verdade.

 

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