Quinta-feira, 28 de março de 2024

‘Lucrecia’ está em cartaz no Rio

Cineasta de sons, Lucrecia e o seu cinema tornaram-se referência para diretor da peça

Postado em: 14-02-2016 às 00h00
Por: Redação

Sons ao redor sempre mobilizaram a cineasta argentina Lucrecia Martel. Quando pequena, fascinava-se com as lendas orais de terror narradas por sua avó; e notou cedo que, se assistisse a filmes de terror sem áudio, não sentia medo, mas, se os visse sonorizados, não dormia à noite. Reconhecida hoje como uma cineasta de sons, Lucrecia e o seu cinema tornaram-se referência para o diretor Alexandre Mello e a sua mais recente pesquisa, que resultou na peça Lucrecia, em cartaz no Sesc Tijuca, no Rio de Janeiro.  

Resultado de uma residência artística iniciada no Festival Dois Pontos, em 2015, o projeto se desenvolveu no ano passado e agora chega à cena como uma instalação sonora-dramática inspirada na filmografia da argentina e, principalmente, no modo como Lucrecia relaciona sons e imagens.

“A encenação se baseia no efeito da trilha sonora nos filmes dela”, diz Mello. “O que mais me marcou quando vi O Pântano, por exemplo, foi o barulho das cadeiras de metal arrastadas por aquelas figuras decadentes e alcoolizadas na piscina, na primeira cena do filme. Aquilo não me saiu da memória”.

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A ideia de sons que “não saem da memória”, portanto, guiam o trabalho, cuja narrativa, assinada por Leandro Baumgratz, inspira-se tanto em O Pântano como em entrevistas e palestras da cineasta. Em suas falas, Lucrecia costuma comparar a sala de cinema a uma piscina vazia, onde em vez de água o ar preenche o espaço e propaga sons que têm a função de tocar e atravessar os espectadores.  

“A partir de todo esse material recolhido, chamamos o Leandro para criar uma história original”, diz Mello. 

Para sustentá-la, há um tripé de conceitos. Além da força do som, a trama foca na decadência dos moldes familiares da classe média e na visão de mundo de uma criança de 12 anos. Tais ideias se concretizam num lugar chamado Villa Lucrecia, um reduto suburbano onde vive uma família guiada pela matriarca Sulamita (Eliane Costa) e o marido aposentado, Soriano (Oscar Saraiva), que convivem com seus três filhos (Nina Reis, Guilherme Prates e Paula Loffler), a empregada da casa (Luana Salazar) e dois convidados (Rogério Garcia e Jojo Rodrigues). “No fundo, investigamos uma família em processo de dissolução”, diz Mello. “Ainda existe amor em Villa Lucrecia, mas ele está borrado pela infinita distância entre os mundos dos componentes dessa família”, finaliza. (Agência O Globo) 

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