Orquestra Filarmônica de Goiás volta aos palcos

Filarmônica de Goiás estreia temporada 2016, em 17 de março, com concerto no Brasileu França

Postado em: 10-03-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Filarmônica de Goiás estreia temporada 2016, em 17 de março, com concerto no Brasileu França

Para o regente, a abertura da temporada foi projetada para ser a emblemática de sua abordagem para a programação de 2016. “Tenho três ‘temas’ que atravessam a temporada: tradição, atualidade e Brasil. A Bachiana Brasileira Nº 2 é uma das obras mais famosas do compositor Villa Lobos, e o Concerto para Violoncelo e Orquestra, de Dvorak é, certamente, uma das obras mais amadas do repertório. Eu sempre gosto de trazer novas peças para o público, e a obra do Brett Deans será uma estreia brasileira. É um trabalho extremamente sugestivo e atmosférico para cordas e eletrônicos, baseado na obra do com­positor Carlo Gesualdo (1566-1613), cuja música foi considerada extremamente moderna para sua época e que ganhou notoriedade universal por matar sua esposa e seu amante depois de descobrir-los em flagrante. Os efeitos utilizados na música são quase semelhantes à música de um filme; você sente algo da atmosfera daquela noite fatídica em Nápoles”, explica o maestro. 

Mudanças

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Há um ano e meio, o Essência noticiou que a OFG seria gerida por uma Organização Social, mas tudo indica que a resolução passará a ter forma somente neste ano, já que é fato a publicação no Diário Oficial no último mês de fevereiro. “Durante o exercício de 2016, o Estado pretende transferir a gestão da OFG para uma Organização Social. O processo licitatório já foi iniciado, e a seleção da instituição cultural deverá ser feita em breve”, diz Ana Elisa Santos, superintendente da OFG, que explica quais serão os benefícios para a orquestra: “Assim como quaisquer outros equipamentos culturais, cujas gestões tenham sido transferidas para um parceiro privado, o efeito primeiro é o da desburocratização e a profissionalização dos projetos em andamento. No caso da Filarmônica, a nova gestão irá administrar, além dos recursos financeiros e técnicos que possibilitam a execução das temporadas anuais de concertos, a contratação do corpo instru­mentista”. 

Sobre a questão da suposta cobrança de ingressos para os concertos, a superintendente esclarece: “É natural que, a partir da celebração do Contrato de Gestão entre OS e governo do Estado, novas metas sejam instituídas com um maior índice de fiscalização no que diz respeito ao empreendimento dos recursos financeiros. Sendo assim, uma das cláusulas do contrato prevê que a OS deve buscar novas fontes orçamentárias que venham a complementar os repasses governamentais. Uma delas é a cobrança de ingressos a preços populares, outra são as captações, doações e legados feitos na iniciativa privada, e assim por diante”.

SERVIÇO

Concerto de abertura da temporada 2016 da Orquestra Filarmônica de Goiás

Quando: 17 de março (quinta-feira)

Onde: Instituto Tecnológico de Goiás em Artes Basileu França (Avenida Universitária, nº 1.750 – Setor Leste Universitário, Goiânia)

Horário: 20h30 / Entrada gratuita 

Entrevista : Neil Thomson 

Para saber mais sobre as novidades desta temporada, o Essência conversou com o maestro Neil Thomson, que também faz uma avaliação do desempenho dos músicos no período em que está à frente da Filarmônica. Confira a entrevista.

Podemos esperar da orquestra, neste ano, concertos com obras de compositores mais conhecidos do público – como Mozart e Beethoven?

Esta é, de longe, a temporada mais aventureira e ambiciosa que a OFG produziu até agora! Eu tenho uma filosofia muito clara sobre o que uma orquestra deve tocar. Cada orquestra deve ter seu núcleo-repertório, ou seja, os grandes clássicos que as pessoas conhecem e amam. Neste ano, temos uma enorme variedade de música de Mozart, Haydn, Beethoven, Schubert, Brahms, Dvorak, Liszt, Tchaikovsky, Rachmaninov e Mahler. E esses são apenas os destaques. Em segundo lugar, cada orquestra tem o dever de desempenhar obras de sua geração. Historicamente, esse tem sido o caso. Até o fim do século 19, as pessoas realmente estavam tocando música ‘moderna’. Na época de Mozart, eles tocavam música de Mozart; no tempo de Tchaikovsy, tocavam música de Tchaikovsky – e assim por diante. Somente durante o século 20, começamos a construir um repertório composto por música ‘antiga’. Portanto, neste ano, o público terá a oportunidade única de ouvir alguns dos melhores repertórios mais modernos: Philip Glass (tributo a Heroes, de David Bowie), Harrison Birtwistle, Steve Martland, Karlheinz Stockhausen, Richard Rodney Bennett, Luciano Berio, bem como duas estreias mundiais de compositores brasileiros, o distinto Ronaldo Miranda e Helder Oliveira (o vencedor da competição de jovens com­po­sitores). Outro destaque será o concerto para pick-ups e orquestra, de Gabriel Prokofiev (neto do famoso compositor russo Sergei Prokofiev), desempenhado pela estrela local DJ Múcio. Finalmente, cada orquestra deve tocar a música do seu próprio país – para mim é um dever moral promover e manter viva esta parte do patrimônio de um país. Eu desenvolvi grande amor e entusiasmo pela música brasileira, ao longo dos últimos dois anos, por isso estou muito feliz por tocarmos as Bachianas Brasileiras 2, 3 e 9, de Villa-Lobos; a Sinfonia  Nº 4, de Camargo Guarnieri; A Retirada da Laguna, de Guerra-Peixe (que tocamos e gravamos com sucesso na última temporada e vamos levar para a turnê nacional neste ano) e músicas dos compositores Nepomuceno, Mahle e Santoro. Também faremos um segundo CD de música do Guerra-Peixe. Enfim, a nossa lista de artistas convidados é impressionante, como sempre incluindo Fabio Mechetti, Jean-Louis Steuerman, Arnaldo Cohen e Sonia Rubinsky, bem como estrelas em ascensão, como Luiz Felipe e Cristian Budu. Também realizaremos a nossa turnê nacional: tocaremos no Festival de Inverno de Campos do Jordão (SP), na Sala São Paulo (SP) e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ). Jean-Louis Steuerman será nosso solista em Primeiro Concerto para Piano, de Rachmaninoff.

Como você avalia a evolução da orquestra nestes dois anos como regente da OFG? Você nos disse, uma vez, que estaria trabalhando para dar uma ‘identidade’ sua à orquestra. Você diria que o seu desejo já foi realizado?  

Eu acho que a orquestra tem certamente uma identidade. Nós já temos uma forma reconhecível de tocar, um estilo altamente energético e comunicativo, que eu sei que o público aprecia. Isso também é algo que é constantemente comentado quando tocamos em uma turnê. Existem três componentes da identidade de uma orquestra: ‘como’ nós tocamos, ‘o que’ nós tocamos e ‘onde’ tocamos. Nós já estamos fazendo muito bem com a forma ‘como’ nós tocamos. Nesta temporada, estou trabalhando para construir  ‘o que’ e ‘onde’, o alargamento do repertório, explorando novos locais e alcançando novos públicos. Tocaremos em parques, bairros e em igrejas locais. Faremos uma turnê por algumas cidades do Estado de Goiás e um concerto no Bolshoi Pub. Também estou iniciando um ‘orquestra pop-up’, ou seja, um pequeno grupo de músicos que vai viajar em torno da cidade e tocar concertos improvisados em diferentes locais – pode ser em qualquer lugar: um centro comercial, uma escola, uma casa de idosos, um hospital… Eu quero que a orquestra esteja firmemente no coração da comunidade; quero que ela toque o maior número possível de repertório para o maior núme­ro possível de pessoas.

E qual é a sua opinião com relação ao público nestes dois anos?

No ano passado, tivemos muito sucesso, tanto em nível local quanto nacional, mas o maior momento para mim foi em junho, quando havia mais de cinco mil pessoas na plateia. Eu acredito que esse foi o momento em que a OFG ‘descobriu’ o seu público. Goiânia é um lugar fascinante para mim! É uma nova cidade, com uma população liberal, de mente aberta e com uma vida cultural variada, rica (meus amigos me dizem que é a Seattle do Brasil!). Eu sinto que há um entusiasmo genuíno para a orquestra, uma fome de boa música de todos os gêneros e uma curiosidade para experimentar coisas novas. Este é, no meu ponto de vista, algo bastante raro, e, por causa da relação entre a orquestra e o público, eu sinto que nós podemos criar algo que seja verdadeiramente goiano. É maravilhoso olhar para outras orquestras para admirar suas qualidades, mas eu nunca quis que a OFG fosse uma mera cópia de outra coisa. Podemos ser algo inteiramen­te novo e único no Brasil; uma orquestra moderna de uma cidade moderna.

Atualmente, a Filarmônica de Goiás está entre as melhores orquestras do Brasil. Esta posição aumenta a responsabilidade da OFG? Podemos esperar algo da sua parte para que esta imagem seja mantida?

Tem sido extremamente gratificante ouvir estes elogios; eles são um testemunho da habilidade e da determinação dos músicos. Para mim, no entanto, este não é um momento para qualquer complacência. Eu simplesmente continuarei a construir e aperfeiçoar a qualidade musical da orquestra; sempre há coisas que po­demos fazer melhor. Vivemos em tempos difíceis, mas aqui, em Goiás, vocês têm algo bonito, de que todos podem se orgulhar!

 

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