Da idolatria adolescente ao sonho realizado

Cantora brasileira fã dos Carpenters, Isabella Tavianni consegue autorização do membro remanescente da dupla, Richard, e grava álbum com músicas dos famosos irmãos com luxuosa presença de nomes de peso do pop dos anos 70

Postado em: 21-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cantora brasileira fã dos Carpenters, Isabella Tavianni consegue autorização do membro remanescente da dupla, Richard, e grava álbum com músicas dos famosos irmãos com luxuosa presença de nomes de peso do pop dos anos 70

Bruno Araujo/Agência O Globo

‘Eu não quero mais viver! Ela morreu, ela morreu!”, soluçava a jovem Isabella Maria, de 14 anos, molhando com as lágrimas uma coleção de LPs que tinha colocado sobre a cama de sua mãe – que chegou em seguida e não entendeu nada, pensando que se tratava de uma pessoa da família. Mas a tragédia era a morte da cantora Karen Carpenter, devido a distúrbios alimentares, aos 32 anos.

O ano era 1983, e Isabella, dois anos antes, tinha entrado para o fã-clube dos Carpenters, duo formado pelos irmãos americanos Karen e Richard (de hits como Close To You e We’ve Only Just Begun), um grande su­cesso com seu soft-rock nos anos 1970.

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“Uma prima me apresentou à versão deles de Please Mr. Postman quando eu tinha uns 7 anos”, lembra Isabella Taviani, como se tornou conhecida a jovem fã dos Carpenters nas últimas décadas. “Ela tinha uma coleção de LPs. Morávamos perto, no Catete, e toda tarde eu ia ouvir mú­si­ca com ela”.

Isabella cresceu, estudou canto e ganha a vida como cantora desde os anos 1990, com discos de sucesso como Diga Sim (2007) e Eu Raio X (2012). Os Carpenters nunca saíram da vitrola, e de vez em quando suas músicas pintavam nos shows.

“Em 1994, fiz um show com o Tom Capone (músico e produtor morto em 2004) em que cantava Desperado, em um arranjo lindo dele”, lembra ela. “Mais recentemente, de vez em quando canto Solitaire, Only Yesterday e, às vezes, Close to You.

Em 2010, ela resolveu registrar duas músicas dos Carpenters em parceria com o produtor Clemente Magalhães, ainda sem saber se aquilo teria um fim comercial.

“Gravamos Superstar e A Song for You, conta. “Curti o resultado, mas estava com composições prontas e acabei gravando o Eu Raio X. Como o disco foi bem, segui em frente e fiz o DVD do show em 2014. O projeto Carpenters ficou na gaveta”.

Até que, ainda em 2014, ela entrou em contato com o produtor Rodrigo Rios, brasileiro radicado em Los Angeles, que sugeriu que ela fosse à Califórnia.

“Ele até tinha uma forma de contactar o Richard Carpenter (hoje com 69 anos, o cantor e pianista atua nos bastidores, como produtor e executivo de gravadora, além de administrar o legado do duo), mas ele não pôde par­ticipar”, lembra Isabella, que passou 12 dias em Los Angeles, em outubro de 2014, gravando o recém-lançado disco Carpenters Avenue. “Arregimentamos uma banda de músicos americanos superprofissionais, eles gravaram tudo no pouco tempo que tínhamos, perfeitamente”.

Ela bancou o projeto

“O dólar estava a R$ 2,40 na época (hoje a moeda americana está cotada em cerca de R$ 3,60), mas mesmo assim eu gastei mais do que o dobro do valor de um disco meu de carreira”, avalia ela. “Estou muito feliz com o resultado, mas a grana acabou. Vou fazer um crowdfunding, pedir a ajuda dos fãs para a turnê”.

Se não contou com a participação de Richard Carpenter, Isabella teve alguns convidados de peso no disco.

“Chamei a Dionne Warwick por toda a relação que ela tinha com a Karen e os Carpenters. Ela topou e me brindou com uma linda interpretação em Close to You,  conta. “E ainda tive uma surpresa, a Monica Mancini”.

Por coincidência, Isabella gravou as vozes no estúdio que a cantora, filha do compositor Henry Mancini (1924-1994), – premiadíssimo autor de trilhas sonoras como a da Pantera Cor-de-Rosa e Moon River , de Bonequinha de Luxo, além de diversos outros standards da música americana –, tem em sociedade com o marido, o baterista e produtor Gregg Field.

“Ela acompanhou de perto as gravações, elogiou muito a minha voz, gostou dos timbres”, conta Isabella. “Até que um dia ela conversou com o marido e veio me dizer que tinha uma gravação inédita de Sometimes, composição de Mancini gravada pelos Carpenters, em voz e violão. Ela me ofereceu a música e a voz dela para fazer um dueto comigo. Foi maravilhoso.

“No último dia em Los Angeles tivemos um almoço de despedida. E a Monica me contou que tinha recebido na véspera um e-mail da Sally Stevens, cantora que gravava demos das composições do Mancini. Ela tinha mandado a mesma música, Sometimes, para a Monica, com um piano inédito gravado pelo pai dela. Foi inacreditável!”, lembra Isabella, feliz por poder contar com esta “participação especial” na sua versão.

A cantora carioca tentou registrar músicas de toda a carreira dos Carpenters, mas seu disco favorito ganhou um certo pistolão, ela admite. “O Horizon (1975) é o disco da minha infância, que eu ouço ao longo de toda a vida”, define ela.   “Acabaram entrando quatro de suas músicas: Desperado, Solitaire, Please Mr. Postman e Only Yesterday”. 

Ela, que já reuniu os velhos companheiros de fã-clube dos Carpenters para uma audição do disco (“vários tiveram opiniões muito fortes, nem sempre positivas, sobre as músicas”, observa), sabe que é um momento di­ferente de sua carreira.

“Eu aprendi muito gravando, trabalhei uma suavidade que não é típica minha, sou uma cantora mais intensa, mais agressiva”, diz. “Sei que o meu público não está acostumado com esse tipo de repertório, assim como quem conhece os Carpenters pode não saber quem sou eu ou não gostar da minha voz. Tudo pode acontecer”. 

Isabella já tem dois shows marcados, no fim de abril, em São Paulo e no Rio, além de ter sido convidada por Dionne Warwick para cantar nos shows da veterana cantora americana, nas duas cidades, na mesma semana. “O resto da turnê vai depender do crowdfunding”, diz ela. “Espero fazer um show elegante como o disco”.  

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