Marco Veras estreia um papel ‘sério’ no cinema

Ator vive pai em conflito com descoberta de que o filho tem Síndrome de Down e sua luta pela aceitação desta situação

Postado em: 25-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ator vive pai em conflito com descoberta de que o filho tem Síndrome de Down e sua luta pela aceitação desta situação

Conhecido pelos dotes humorísticos – escancarados nos vídeos que fez com o grupo Porta dos Fundos, em quadros do Zorra Total, em shows de stand-up e em reportagens do Encontro com Fátima Bernardes –, Marcos Veras está dando um tempo na comédia. Ele mudou o tom para interpretar o personagem principal de O Filho Eterno, um escritor em início de carreira e de vida familiar surpreendido pela notícia de que seu filho recém-nascido tem síndrome de Down. Produzido por Rodrigo Teixeira e dirigido por Paulo Machline, o filme é o primeiro trabalho de Veras como protagonista de um drama no cinema. E à carga emocional da história so­ma-se muita expectativa, já que a inspiração para o longa é o aclamado livro homônimo do escritor catarinense Cristovão Tezza, um romance autobiográfico que conquistou 65 mil leitores desde sua publicação, em 2007.

Em Curitiba desde o dia 12 de março para a preparação e as filmagens, iniciadas no dia 23, Veras disse estar entusiasmado com o desafio de interpretar Roberto, um pai com sentimentos conflitantes em relação às li­mitações impostas pela condição genética do filho. 

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“A grande preocupação é não transformá-lo num vilão, num canalha, num cara que o público possa odiar. Nós temos nossas qualidades e defeitos, e esse cara vive em conflito com isso tudo. Esse personagem, em fase de amadurecimento, é um pouco o símbolo de um pai de primeira viagem, que tem problemas com a profissão, com a vida familiar e com a vida pessoal. Vive essa situação 24 ho­ras por dia”, diz Veras.

“Nunca dei muita bola para a sugestão da Giovanna Machline, que indicou o Veras, mas, quando chegou mais perto de escolher o elenco, achei que poderia funcionar. A gente começou aquele processo de tentar descobrir quem era esse escritor ensi­mes­mado, meio infantil. Rodrigo Teixeira ressaltou as pequenas maldades dele ao longo do filme. Então, decidimos que tínhamos de pegar uma pessoa solar para interpretá-lo. Acabou que conhecemos o Veras e fizemos uma leitura. Os caminhos levaram a ele”, explicou o diretor.

Veras encara o personagem com um misto de naturalidade e contrariedade: “É natural que haja um estranhamento das pessoas ao me ver nesse papel”, disse ele. “Mas é minha obrigação mostrar que sei fazer outras coisas”. O filme e o personagem são inspirados na experiência pessoal de Tezza, registrada no livro que angariou os prêmios Jabuti, Portugal Telecom e São Paulo de Literatura. Em 1980, ele descobriu que seu filho Felipe nascera com síndrome de Down. Mas só em 2007 resolveu dar forma literária ao que classificou como um trauma em sua vida. 

“Não passava pela minha cabeça escrever sobre aquilo”, disse o autor. “Só depois eu comecei a pensar na possibilidade, porque a mi­nha relação com o Felipe já tinha se trans­formado. Não tinha mais aquele trauma. E tinha que dar uma forma literária para aquilo. Fiz meio de impulso, estava com mui­to medo, era meu primeiro livro pessoal”. 

Veras interpreta Roberto, alter ego de Tez­za. O filme relata as dificuldades enfrentadas pelo escritor iniciante para estabelecer relação com o filho, batizado de Fabrício na ficção. É uma narrativa em primeira pessoa que revela sensações como medo, insegurança e vergonha diante da condição da criança.

“O livro não é muito querido pelo universo de famílias que têm casos de síndrome de Down, porque é um desabafo”, explica Machline, em entrevista por telefone da capital paranaense, onde as filmagens seguiriam até a última quarta-feira. “Diz o que esses pais sentem, mas ninguém tem coragem de falar. Quando a gente começou a estabelecer as premissas do trabalho de adaptação, sabíamos que tinha ali uma limitação.  (Agência O Globo)

 

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