O Brasil dos Fagners

O cantor que abriu as portas do Brasil para uma geração de músicos nordestinos comemora quatro décadas de carreira e canta seus maiores sucessos, hoje, em Goiânia

Postado em: 31-05-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O cantor que abriu as portas do Brasil para uma geração de músicos nordestinos comemora quatro décadas de carreira e canta seus maiores sucessos, hoje, em Goiânia

Júnior Bueno

Em 1971, o cantor cearense Fagner gravou seu primeiro compacto simples em parceria com outro cearense, Wilson Cirino. Lançado pela gravadora RGE, o álbum não fez muito sucesso. Neste ano, existiam no Brasil, segundo a pesquisa Nomes do Brasil, do IBGE, 805 homens chamados Fagner. Em 2016, quando o cantor comemora 45 anos dessa primeira gravação e 43 de sucesso popular, existem 30.017 pessoas registradas como o cantor. “Em todos os lugares em que eu vou, sempre tem alguém falando que se chama Fagner em minha homenagem,” disse o cantor, em entrevista ao Essência (veja ao lado). 

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Quando Raimundo Fagner Cândido Lopes, que faz show hoje em Goiânia, abriu as portas do Nordeste para a música brasileira, ele não imaginava que povoaria o País com gerações inteiras de xarás. O cantor vem a Goiânia para apresentar, dentro do projeto Flamboyant In Concert, o show com que vem excursionando pelo Brasil para comemorar os 40 anos de carreira, contados a partir do lançamento de seu primeiro cultuado álbum, Manera Fru Fru, Manera, em 1973, quando varreu o Brasil cantando de um jeito diferente dos cantores de então. 

Desta geração de cantores-compositores nordestinos, saíram também Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Fagner, Belchior e Ednardo – dentre outros. Vindo do Ceará em 1970 para estudar arquitetura na Universidade de Brasília, Fagner participou do Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília, com Mucuripe, parceria com Belchior, e classificou-se em primeiro lugar. No mesmo festival, recebeu menção honrosa e prêmio de Melhor Intérprete com Cavalo Ferro, dele e de Ricardo Bezerra, e sexto lugar com a música Manera Fru Fru, Manera, também com Ricardo Bezerra. 

A partir de então, Fagner conseguiu despertar a atenção da imprensa do Sudeste, sendo suas canções intensamente executadas nos bares da Capital do País. Nascido em Oroz, no Ceará, ele já havia ganhado, aos 5 anos, um concurso em uma rádio local. Em 1971, ano em que tudo mudou para o jovem Fagner, Elis Regina gravou Mucuripe, dando início à sua carreira a sério, e dando um fim à possível sina de arquiteto. O primeiro LP de 1973 inclui Canteiros, um de seus maiores sucessos, música sobre poesia de Cecília Meireles. Mais tarde, fez a trilha sonora do filme Joana, a Francesa, que o levou à França, onde teve aulas de violão flamenco e canto. 

De volta ao Brasil, lança outros álbuns na segunda metade dos anos 70, combinando um repertório romântico a partir de Raimundo Fagner, de 1976, com a linha nordestina de seu trabalho. Ao mesmo tempo, grava músicas de sambistas, como Sinal Fechado, de Paulinho da Viola. Outros trabalhos, como Orós, disco que teve arranjos e direção musical de Hermeto Pascoal, demonstram uma atitude mais vanguardista e menos preocupada com o sucesso comercial.

Nas décadas de 80 e 90, seus discos se dividem entre o romântico e o nordestino, incluindo canções em trilhas de novelas e tornando Fagner um cantor conhecido em todo o País, intérprete e compositor de enormes sucessos como Ave Noturna, Astro Vagabundo, Última Mentira, Fracassos, Revelação, Deslizes e a indefectível Borbulhas de Amor, tradução de Ferreira Gullar de um bolero latino. 

Suas músicas, assim como seu nome, povoaram o Brasil, e nesta noite, no estacionamento do Shopping Flamboyant, sons que evocam o Nordeste brasileiro em todas as suas cores e texturas poderão ser ouvidos. Fagners e Marias e Josés poderão gritar a plenos pulmões que têm um coração. E que esse coração é alado.

SERVIÇO

Show com Fagner no ‘Flamboyant In Concert’ 

Data: Hoje (31 de maio) 

Horário: 19h30

Onde: Shopping Flamboyant Center

Ingressos esgotados   

Entrevista Fagner 

Como é o show que você vai trazer a Goiânia, comemorando os 40 anos de carreira?

O show mostra a maioria das músicas, os sucessos mais conhecidos pelo público. Só com essas daria um show de mais de duas horas. Mas ainda tem músicas novas, do álbum Pássaros Urbanos, e até uma música inédita, que eu fiz com o Moacyr Franco e o Zeca Baleiro. E do CD que eu gravei em 2003, com o Zeca, tem Dezembros. 

A sua geração foi importante para que a música feita no Nordeste ficasse conhecida no Brasil. Você tem acompanhado a música feita no Nordeste atualmente?

Hoje em dia, é mais difícil de eu acompanhar, mas, pelo que chega a mim, o que toca mais lá, que faz mais sucesso, é o que está na moda, o forró e o sertanejo. Mas eu já fiz discos só com artistas nordestinos, compositores de lá. Eu sempre faço essa vassourada, e é claro que há grandes músicos no Nordeste, mas o que se sobressai, com essa crise, é a música mais comercial, da moda.

E essa crise afetou a sua carreira?

Ela afeta tudo. Mas, no meu caso, minha agenda continua a mesma. A gente continua muito forte, na ativa. E os músicos que vieram depois, como o Zeca, o Chico César, que já têm algum tempo de estrada, continuam persistindo na qualidade e no repertório. Não podemos parar. A criatividade está acima de qualquer crise.

Como você viu essa questão do Ministério da Cultura ter sido extinto pelo presidente em exercício e, após protestos da classe artística, ter voltado?

Eu acho que o MinC deveria ser para os menos favorecidos. Deveria ter mais acesso para as iniciativas emergentes. Mas o que se vê é mais lobby, o que existe é uma forçação de barra, né? Muitos artistas têm meios de produzir com o próprio dinheiro, mas estão mamando em verba pública. Eu nunca me vali desses meios. Se o Ministério vai existir, e ele tem que existir, que seja para uma coisa melhor. O MinC foi feito para descobrir as culturas emergentes. Se ele vier, tem que ter esse foco.

Nesses mais de 40 anos de carreira, foram muitos os Fagners que foram apresentados a você, que foram batizados em sua homenagem?

A todos os lugares aonde vou, sempre tem alguém falando que se chama Fagner em minha homenagem. Dos anos 70 para cá, eu devo ser um dos brasileiros que foram homenageados assim. Um amigo me disse que tem grupos de ‘zap’ só com Fagners. E é um nome incomum. Se houvesse uma pesquisa, eu gostaria de saber quantos existem.

Há sim, o IBGE fez recentemente sobre os nomes do Brasil…

(Risos) Se você puder me mande, por favor, eu vou gostar muito! 

 

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