“A dança pode ser a nível pessoal, político e cultural”

Bailarino goiano radicado na Holanda há 19 anos, Ederson Xavier integrou primeiro elenco da Quasar Cia de Dança e esteve em Goiânia no último mês de agosto

Postado em: 09-08-2016 às 06h00
Por: Renato
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Bailarino goiano radicado na Holanda há 19 anos, Ederson Xavier integrou primeiro elenco da Quasar Cia de Dança e esteve em Goiânia no último mês de agosto

Há quase 30 anos, Ederson Xavier, bailarino goiano integrou o primeiro elenco da Quasar Cia de Dança, onde permaneceu de 1988 a 1993. Na época, bailarinos e diretores faziam parte de um sonho coletivo e não imaginavam o potencial de um grupo que seria referência no mundo todo. “Eu sempre acreditei na Quasar Cia de Dança, mas não imaginava que esta companhia um dia representaria não só Goiânia, mas o País”, afirma Ederson.
Natural de Goiânia, residente há 19 anos na Holanda, Ederson Xavier também integrou o Grupo de Dança Sinhá Afro-Jazz que, até hoje, é referência do Jazz em Goiás – passado de Sinhá para sua filha Cida Veiga, que ainda ministra aulas de afro-jazz. A formação clássica de Ederson veio de outra escola que também tem um nome forte e que forma bailarinos com um trabalho de excelência: ele participou do Corpo de Baile do Mvsika! Centro de Estudos e estudou pelo método Royal Academy of Dance.
Na sequência, Ederson estudou Improvisação/Coreografia e Técnica de Relaxamento na Faculdade de Artes de Amsterdam – Theater School Amsterdam (SNDO – Escola para o Desenvolvimento da Nova Dança). Trabalhou para Frankfurt Ballet Companhia de Dança (1997) – direção de William Forsythe –, como assistente de coreografia de Norton, com o balé Sub-Rosa. Além disso, foi convidado para trabalhar com o Scapino Ballet Rotterdam – direção de Ed Wubbe –, de 1997 a 2004. 
O primeiro trabalho como coreógrafo foi com o Ballet Quartet para o Scapino Ballet Rotterdam (1998) e, a partir daí, se tornou coreógrafo da Companhia. Atualmente, trabalha como coreógrafo e performer independente e ministra workshops de Improvisação/Coreografia, Consciência Corporal e Técnica de Dança para companhias e escolas de vários países. Faz parte das casas de produções Korzo Theater, em Den Haag NL e Dans Makers Amsterdam NL, que produzem trabalhos em teatros, filmes, instalações, galerias, eventos, concertos e comerciais.
Dono de um currículo louvável, o bailarino e coreógrafo goiano Ederson Xavier, esteve em Goiânia no último mês de agosto em uma oficina promovida pelo Das Los Grupo de Dança. A direção do grupo é de Tassiana Stacciarini (que também foi do primeiro elenco da Quasar), e a ação foi promovida pelo Fundo de Arte e Cultura da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce). A oficina A Abordagem Clássica em um Pensamento Contemporâneo foi aberta à comunidade e faz parte de uma série que será oferecida até o início do próximo ano.
O Essência mostra, a seguir, um bate-papo sobre a história profissional de Ederson em que foram abordados assuntos como as diferenças entre a dança na Holanda, e no Brasil. Confira!

Ederson, como bailarino, você participou do primeiro elenco da Quasar. Na época, como foi a montagem desta equipe? Você imaginou que a companhia fosse tomar tamanha proporção? 
A Quasar, na época foi formada através da muita luta e força de vontade de todos os membros, além do sonho e dos talentos que tínhamos reunidos neste grupo. De uma forma ou outra, apesar das dificuldades eu sempre acreditei na Quasar, mas não tinha pensado que fosse se transformar em umas das companhias que representasse não só Goiânia, mas o País.
 
Você também chegou a dançar com o grupo Sinhá, um mito quando o assunto é jazz. De que forma o jazz te inspira como bailarino e coreógrafo? Acredita que ainda utiliza técnicas durante seus processos coreográficos? 
A experiência de ter dançado no grupo da Sinhá me deu muita força, paixão, garra e muito  ritmo nos movimentos, no palco. Com certeza, essa experiência eu carrego no meu trabalho!

Hoje, podemos dizer que existe um estilo Ederson de coreografar e dançar? Quais são suas principais inspirações? 
Hoje, posso falar que minha principal inspiração é a riqueza da relação do nosso corpo com o outro; com o espaço que vivemos, com a mente e a conexão com nosso ser interior. A magia que o conhecimento do mesmo nos traz como pessoa física, espiritual e social, dando-nos possibilidade de ser e estar presente, em meio de tantas distrações efêmeras que nos rodeiam, a capacidade de focar em um só objetivo.
 
O Das Los tem um carinho imenso por ti. Como é vir a Goiânia e trabalhar com este grupo que ainda é tão jovem? 
Trabalhar com o Das Los é sempre uma troca, muito gratificante, pelo motivo da sede que o grupo carrega no sentido de crescer. 
 
Quais as principais diferenças que você analisa hoje em relação à dança no Brasil e na Holanda, onde reside há 19 anos? 
Difícil falar da relação ou das diferenças que existem  entre a dança holandesa e a brasileira, pois são tão diferentes em forma e, principalmente, em idade. Enquanto aqui há ainda uma necessidade de conhecer e descobrir o que a dança pode ser a nível pessoal, político e cultural, na Holanda já existe uma história muito longa relacionada à percepção da necessidade da dança como ponto principal do desenvolvimento cultural e moral do país. Lá também já chegou à exaustão, como foi o caso do corte de verbas em 2012. Ainda assim, o país segue consciente nessa percepção. No Brasil, ainda não pensamos assim, e a dança se torna elitizada ao invés de necessária.
 
O que acredita que falta no Brasil hoje para a dança conseguir alcançar o patamar de profissão para jovens bailarinos? 
Acredito que falta perceber e explorar sua grandeza cultural que já existe, principalmente nas áreas artísticas, e a dança pode ser uma das principais!

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Catherine Moraes Especial para O Hoje

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