O Circo Laheto continua suas atividades

Projeto é continua sendo realizado no Parque da Criança, depois de decisão assinada no fim do ano passado

Postado em: 06-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Projeto é continua sendo realizado no Parque da Criança, depois de decisão assinada no fim do ano passado

Elisama Ximenes

Chapéu azul com pena amarela, nariz e boca, igualmente, vermelhos e, nos olhos, pinturas triangulares em amarelo e azul.  Essas cores também fazem a paleta das roupas do palhaço que é símbolo do Circo Laheto. Apesar da figura que estampa o logotipo do circo, de lá não saem só palhaços, mas, também, malabaristas e todos os tipos de artistas que podem compor um circo. Como o diretor Maneco Maracá diz, é o chamado Circo Social, que acolhe e dá oportunidades para alunos de escolas públicas de Goiânia. É um espaço de inclusão inserido em um meio lúdico e educativo. Porém, nas últimas semanas do ano, o circo, como todo, teve que se equilibrar na corda bamba que dividia o futuro da instituição no local em que se instala atualmente – o Parque da Criança.

De um lado da corda: continuariam na mesma, ou seja, permaneceriam no Parque da Criança, onde estão desde 2002, por tempo indeterminado. Do outro: teriam de se submeter a uma possível decisão do Estado de remanejá-los para a área do aeroporto Santa Genoveva, porque, ao que parecia, o espaço deles seria apropriado para outros fins. A incerteza pairou sobre a organização, que poderia ficar no Jardim Goiás por apenas mais um ano ou menos. As quase 150 crianças atendidas pelo circo hoje teriam que percorrer uma distância maior para chegar ao novo local em um ano. Ou, pior, teriam que desistir do curso, já que os serviços prestados pela Organização Não Governamental (ONG) funciona no contraturno do horário em que vão à escola. Essas crianças e adolescentes são, em sua maioria, das duas principais escolas públicas ligadas ao circo, que ficam na região centro-sul e leste de Goiânia. Para se ter uma ideia, o aeroporto fica na região norte, a cerca de 15 km do atual local do circo.

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Ficou marcado, então, para o dia 27 de dezembro, a assinatura de um acordo que diria qual seria o destino da instituição. A proposta de remanejamento era da Secretaria de Gestão e Planejamento do Governo de Goiás (Segplan), chefiada por Joaquim Mesquita, que recebeu a equipe no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. A resposta, então, foi positiva e um documento foi assinado, definindo que o Circo Laheto (se pronuncia ‘larretô’) poderia continuar no Parque da Criança por tempo indeterminado. Sem o prazo de um ano e, tampouco, a ameaça de interrupção imediata dos projetos. 

“Estamos muito felizes, porque o governo do Estado foi sensível à nossa demanda”, afirma o diretor. Segundo Maneco, isso foi fundamental para alimentar as esperanças da equipe e das crianças e adolescentes que elencam o circo. “O espaço é importante para nós, porque ele tem história e identidade, meninos que foram alunos aqui, hoje, são professores, para se ter uma ideia”, explica a coordenadora pedagógica Seluta Rodrigues. A carga simbólica que o Parque da Criança tem para a ONG é o mais importante para ela, porque, querendo ou não, há toda uma articulação com a comunidade da região e as crianças que o frequentam. “A área do parque é pequena, mas a grandeza dele para nós vai muito além do território”, afirma Seluta. Romper a relação com a comunidade, que encontra, no circo, apoio e inclusão, seria a maior perda social para Maneco.

 A justificativa para a possibilidade de remanejamento era de que haveria um projeto para o local. Mas, conforme Joaquim explicou para a equipe do circo, ainda não há nada concreto e, quando se concretizar, pode demorar anos para ser construído. Além disso, o espaço do Parque da Criança foi criado com fins bem definidos. Trata-se de uma doação do Governo do Estado para  recreação de crianças e adolescentes carentes. Pelo menos é o que está promulgado na Lei número 11.063, do dia 5 de dezembro de 1991. A lei diz do Parque Recreativo Janaína Adorno, que, depois, ganhou o título de Parque da Criança. Além do Laheto, o local abriga também outras instituições como os Atletas de Jesus, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e a Fundação Pró-Cerrado. As únicas instituições que não cumprem essa finalidade e estão ali são um fórum, uma delegacia e a Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego).

O Circo Laheto existe desde 1994 e, inicialmente, funcionou no Jardim Dom Fernando, onde, hoje, é a escola de circo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) – também fundada por Maneco Maracá. Desde então, ele exerce uma função cultural, social e educacional importante para a articulação da comunidade da região, que respalda sua história. Quem vê a equipe de 20 pessoas que comanda as atividades do circo, hoje, nem imagina que começaram com apenas quatro. O crescimento foi tamanho, que chegou a se tornar campo de estágio para estudantes de pedagogia e matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG). 

Boa parte da renda que movimenta o circo vem das apresentações artísticas que realizam. Segundo o diretor, eles conseguem promover de 80 a 100 apresentações locais e nacionais por ano. Assim, de acordo com ele, é possível contar com uma renda anual de 80 mil reais advinda dessas atividades. Além disso, também contam com um repasse da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), de quase 109 mil reais por ano, que é fundamental para a manutenção do espaço e suas ações. Mas, até o fim de 2016, a prefeitura ainda não havia contribuído com o referente ao ano. Em nota, a Semas afirma que “foi realizado um termo aditivo ao convênio, para que sejam quitadas as parcelas em atraso”. A assinatura é confirmada por Maneco. A secretaria também informou que os atrasos se devem a uma ausência do repasse por parte do Recurso Federal  focado em arte, circo e cidadania. Para Maneco, isso tem a ver, também, com um desinteresse público pelas políticas de assistência social.

Aguardando a regularização do apoio financeiro da prefeitura da Capital, o circo permanece na luta para ficar de pé, no local em que se consolidaram. São mais de 20 anos de história, respaldada na interação com a comunidade e nas políticas de inclusão social, educacional e cultural. A importância da ONG é tamanha que, no ano passado, Larissa Sttéfany de Paula Guedes lançou, com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o livro Era Uma Vez Um Circo: A História Do Circo Laheto, que narra o legado da instituição. Nele, Larissa conta, também, sobre dramas antigos parecidos com os vividos atualmente. Como quando foram despejados de outro local do Parque da Criança para, então, conquistarem o espaço em que estão hoje. O Circo Laheto é forte e está pronto para qualquer luta que tiver que enfrentar para garantir sua permanência na esfera cultural e social da cidade, garantindo a continuidade dos projetos que acolhem e já acolheram tantas crianças e adolescentes. Em férias, os planos são de que as atividades sejam retomadas no fim de janeiro, junto com o retorno das aulas. 

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