As joias da terra da Rainha:a música pop britânica

Beatles, Sex Pistols, The Smiths, Radiohead e Amy Winehouse: Cinco grande álbuns lançados na Inglaterra completam décadas fechadas em 2017

Postado em: 07-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: As joias da terra da Rainha:a música pop britânica
Beatles, Sex Pistols, The Smiths, Radiohead e Amy Winehouse: Cinco grande álbuns lançados na Inglaterra completam décadas fechadas em 2017

JÚNIOR BUENO

Existe uma lenda no mundo da música pop que, de tempos em tempos, mais precisamente a cada década, e mais precisamente ainda nos anos terminados em 7, um álbum definitivo para a história da música é lançado na Inglaterra. Verdade? Coincidência? O fato é que em 2017, alguns álbuns cultuados completam 10, 20, 30, 40 e 50 anos. O Essência elegeu os que são considerados divisores de águas, não só na carreira de seus realizadores, mas também na história, para traçar uma linha do tempo da música pop nos últimos 50 anos.

Continua após a publicidade

O legado desses álbuns é inquestionável: sem Sgt Peppers, dos Beatles a psicodelia experimentada até então por algumas bandas, nunca viria para o Mainstream; Sem NeverMindtheBollocks, Here’sthe Sex Pistols, o punk inglês não teria ultrapassado seu próprio quintal; Sem Strangeways, HereWe Come, dos Smiths, talvez o rock não teria sido salvo da breguice dos anos 80; Sem OK Computer, do Radiohead, os anos 90 não tivessem tido crônicas tão boas sobre aquela década; E sem Back to Black, melhor registro de Amy Winehouse, cantoras poderosas como Adele não teriam nem começado a cantar.Resta saber que grande álbum o ano de 2017 nos reserva.

 1967 – Sgt Peppers LonellyHeats Club Band,The Beatles

Desde o lançamento de Rubber Soul, em 1965, a maturidade era visível dentro do trabalho do The Beatles, cada vez mais distante do propósito excessivamente jovial apresentado em 1963 no debut PleasePlease Me. Com a chegada de Revolver (1966), as experiências lisérgicas do quarteto e uma necessidade natural em se reinventar, era apenas questão de tempo até que o grupo apresentasse algum registro de maior destaque, feito alcançado com louvor em junho de 1967, com o lançamento do icônico Sgt. Pepper’sLonelyHearts Club Band. 

Da capa carregada de cores e referências ao propósito conceitual que se instala logo na abertura do disco, cada faixa do álbum não representa apenas uma transformação na carreira da banda, mas para a música de forma geral. Princípio para aquilo que o grupo e uma centena de outros artistas viriam a desenvolver, o registro se divide em instantes de plena descoberta instrumental (Lucy in the Sky with Diamonds) e poética (A Day in the Life), abastecendo um dos catálogos mais ricos de toda a história da música.

  

1977 – Never Mind the Bollocks,  Here’s the Sex Pistols, Sex Pistols 

Não há nada além de ruídos, berros e distorções no propósito que movimenta o Sex Pistols em NeverMindtheBollocks, Here’sthe Sex Pistols. Talvez por isso ele permaneça tão atrativo, mesmo hoje, mais de 30 anos desde seu lançamento. Trabalho de estreia da banda inglesa, o registro cresce em uma medida natural de efemeridade e anarquia, como se tudo o que a banda quisesse fosse apenas se divertir de forma caótica. 

Enquanto os vocais de Johnny Rotten se espalham com aspereza, guitarras desfiguradas e a bateria de Paul Cook crescem e tropeçam a todo o instante, aprisionando o ouvinte em um cenário de completo descompromisso. Recheado por alguns dos maiores clássicos do Punk Rock – como GodSave The Queen, Problems, Anarchy in The U.K. e Holiday In The Sun -, o disco segue até o último instante em uma medida desinteressada e ainda assim atrativa. Um recorte da juventude britânica no fim da década de 1970, mas que estranhamente se mantém atual.

 1987 – Strangeways, Here We Come, The Smits 

Esperado pelos fãs e pela crítica, o álbum, na verdade, chegava às lojas após o fim da banda, anunciado alguns dias antes, porém, isso não fez com que o culto sobre o disco e sobre o grupo diminuísse, ao contrário, esse último trabalho só solidificou a aura que permeia Morrissey, voz e letras, Johnny Marr, guitarras, Andy Rourke, baixo, e Mike Joyce, bateria.

Com um timbre diferente do anterior, The Queen isDead, considerado a obra-prima do quarteto, Marr passa a usar mais os violões e cria arranjos mais intrincados, como Girlfriend in a Coma, Unhappy Birthday ou Stop Me IfYouThinkYou’veHeardThisOneBefore. Já Morrissey não deixa por menos e transforma em poesia a pungência de seus dias. Prova disso são as belíssimas Last Night I Dream that Somebody Loved me e I Won’t Share You.

Apesar do clima tenso no estúdio, os garotos de Manchester souberam execrar as diferenças e criar um material primoroso, tanto que Strangeways, que é o nome de um bairro na cidade e faz um trocadilho com os rumos do grupo, é considerado pela banda como sendo o melhor trabalho do grupo. “É uma pena não ter feito turnê desse disco”, afirmou Rourke, em sua passagem por Curitiba, em 2008.

Esbanjando autoironia e evocando um poema do escritor irlandês Oscar Wilde, Paint a Vulgar Picture critica o sistema brutal da indústria fonográfica, que cria teias estratégicas para sugar o máximo de cada artista. Death of a Disco Dancer relembra o ódio de Morrissey pela música eletrônica e o faz afirmar: “A morte de um ‘baladeiro’/Bem, isso sempre acontece por aqui/ E se você acha que a Paz/É um objetivo comum/Isso mostra o quão pequeno é”. Além disso, essa é a única faixa que conta com Morrissey tocando um instrumento: um piano, vagaroso e bem diferente do som das ‘discos’.

1997 – Ok Computer, Radiohead 

É tão curioso quanto arriscado eleger um álbum de uma década tão recente como um clássico, mas Ok Computer merece o posto. É modelar, é referencial. Parece ter sido concebido num daqueles raríssimos momentos de inspiração tão elevada que uma nota a mais, um segundo a menos, uma palavra mal colocada poriam tudo a perder. Um daqueles momentos em que os relógios pararam (inclusive o Big Ben!) e os olhares de todo mundo se voltaram à Grã-Bretanha para assistir ao Radiohead cravar definitivamente seu nome na História da Música. 

Não é por acaso que Ok Computer foi chamado o Dark Side of the Moon dos anos 90. Assim como o clássico do Pink Floyd, OK Computer é conceitual, exige um profundo exercício mental para ser compreendido e se tornou referência imediata na música que seria feita subseqüentemente. Que o digam Coldplay, Muse, Elbow, Travis, etc.Absolutamente todos os infindáveis ruídos presentes no álbum têm razão de ser. Tudo o que está ali é partícula indivisível de um organismo que compõe uma obra-prima. Mesmo com esse conceito na cabeça, assim como as grandes obras de arte, Ok Computer permanece indecifrável: a magia que permeia o álbum está sempre lá, inatingível, mesmo que você esteja escutando o disco pela enésima vez.

 

 2007 – Back to Black, Amy Winehouse 

Segundo e último álbum de estúdio gravado por Amy Winehouse, Back to Black foi uma sensação geral no mundo da música. Lançado oficialmente no finzinho de 2006, o disco alcançou progressivamente os números mais altos dos rankings musicais, as notas mais altas em revistas especializadas e críticas elogiosas, focando principalmente na evolução de Amy Winehouse e sua ousadia em guinar a criação musical para algo menos jazzístico-clássico, uma espécie de antônimo de Frank, o seu primeiro álbum.

A própria cantora, em entrevistas posteriores, disse que não queria seguir na mesma pegada do jazz ‘puro’, com acordes mais complexos, harmonias que precisavam de maior cuidado, retoques e revisões. Sua intenção era trazer algo mais despojado, mais… ‘popular’, e por isso mesmo percebemos que Back to Black se aproxima de ritmos, tons e melodias realmente mais diretas, embora ainda traga um excelente trabalho de musicalização.

O mix de estilos e a maior liberdade que Winehouse teve para trabalhar fez de Back to Black um grande acerto musical. Seus produtores permitiram maiores experimentações e até apoiaram o trilha mais soul/R&B que a cantora propunha. Também as composições sofreram uma sensível alteração. Enquanto o tom quase prepotente (alguns geniais) das letras de Frank apontavam para uma independência feminina em relação ao homem e uma ‘pouca importância’ dada ao relacionamento; em Back to Black, o tom é de uma amargura genuína, algo vindo da vida pessoal da artista, que acabara de terminar um relacionamento e esteve, em meados de 2005, com sérios problemas relacionados a drogas pesadas e álcool.

Back to Black também foi a sensação do 50º Grammy Awards, levando os prêmios de Gravação do Ano (Rehab), Canção do Ano (Rehab), Artista Revelação (Amy Winehouse), Melhor Álbum Pop e Melhor Interpretação Vocal Feminina (Rehab – Amy Winehouse).Antes da morte de Amy Winehouse, muitos críticos de música e mesmo outros analistas falavam da promessa que a artista fizera: após a recaída que teve em seguida ao lançamento de Back to Black, conseguir se livrar das drogas, ter um filho e então gravar um álbum que ela já estava preparando. Hoje, ficamos imaginando o que poderia vir em seguida. 

Com o lançamento do primeiro álbum póstumo da cantora, Lioness: Hidden Treasures, tivemos contato com outras gravações suas, demos de canções que entraram com outro arranjo para Frank ou Back to Black, e algumas inéditas. É de se lamentar uma perda tão grande para a música, mas nunca deixar de apreciar tão potente trabalho.

 

Veja Também