La La Land é queridinho do momento

O que a crítica viu em ‘La La Land’, vencedor do Globo de Ouro e aposta para ser o ‘papa Oscar’ da temporada? O romance pode ser uma pista

Postado em: 14-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O que a crítica viu em ‘La La Land’, vencedor do Globo de Ouro e aposta para ser o ‘papa Oscar’ da temporada? O romance pode ser uma pista

Júnior Bueno

Você não gosta de musical, tem preconceito mesmo, acha bizarro aquela gente que, do nada, sai cantando no meio do filme e dançando coreografias com sorriso de propaganda e  vai deixar passar La La Land: Cantando Estações? Azar o seu. Mesmo quem não gosta do gênero terá de reconhecer que o filme é bem mais que apenas um musical. Segundo a crítica especializada, é preciso toda a má vontade do mundo para não torcer pelo casal formado pelo Ryan Gosling e pela Emma Stone.

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Primeiro de tudo, há que se ignorar esse subtítulo horrendo que inventaram no Brasil. O que exatamente “cantando estações” quer dizer? Vai saber. O longa do jovem prodígio DamienChazelle (de Whiplash) vem arrebatando corações por onde passa, inclusive no último domingo, conquistou nada menos que sete estatuetas do Globo de Ouro, sendo assim o filme mais premiado da história. E até agora, ninguém contestou o mérito do filme em merecer cada um dos prêmios. E é pré-favorito para o Oscar – embora existam concorrentes melhores.  Tanto burburinho em torno do filme fez comq eu sua estreia no Brasil fosse antecipada em uma semana.

Segundo o site Observatório de Cinema, com La La Land, o diretor do filme,DamienChazelle, deixa de ser uma promessa e se torna uma realidade dentro do cinema americano. “Seu novo filme acima de tudo mostra uma grande sofisticação de um cineasta novo, que carrega uma enorme experiência consigo”, escreveu o crítico Bruno Pinheiro. A prova do  talento  

do diretor já se mostra na cena inicial, onde a câmera passeia por uma avenida através de  um plano sequência onde a primeira performance musical é mostrada, posteriormente apresentando os personagens principais da trama, introduz da melhor forma possível o que veremos ao decorrer do filme. 

Ryan Gosling no papel de Sebastian, um pianista de Jazz, e Emma Stone no papel de Mia, uma atriz em busca de trabalho em Hollywood, interpretam de forma encantadora esses personagens extremamente intrigantes. Segundo Cauê Muraro,do G1, o casal é um dos trunfos do filme. “Cantando, eles nem são tudo isso. Mas pode apostar que os dois redefiniram o clichê de que ‘rolou uma química’. Subiram o nível. Não se sinta mal se, no fim de tudo, estiver torcendo para a vida imitar a arte e os astros repetirem fora da ficção aquele entendimento todo”.

Alguns encontros acontecem entre os dois, porém, diferentemente de outros filmes, a relação entre ambos vai se postergando a cada encontro. Então somente após esses esbarros, Sebastian e Mia começam a trilhar uma jornada juntos. Uma trajetória acima de tudo de aprendizado, onde mais que evidenciar o teor romântico que ambos vivem, há a necessidade de mostrar o quanto um interfere na vida do outro de forma positiva ou negativa, em momentos bons ou ruins. Ou seja, uma visão ainda pouco explorada do amor romântico em Hollywood.

Muitas vezes o problema de um filme musical é justamente quando as performances musicais comprometem o desenvolvimento do roteiro, o que não é o caso de La La Land, que transforma essas cenas em grandes atrações que sempre estão inerentes ao script.As qualidades do filme também se manifestam através de uma trilha sonora excelente, uma decapagem onde a câmera passeia pelo cenário, e uma direção que consegue captar os sentimentos de cada momento vivido pelos personagens de Gosling e Stone.

A trilha sonora parece ser um dos elementos fílmicos que DamienChazelle mais se interessa e se aprofunda em seus filmes.Com Whiplash, o diretor já mostrou toda sua capacidade no trabalho sonoro, tanto em seu design de som, quando na própria trilha. Jazz seria então sua zona de conforto, então por que não experimentá-lo em La La Land também? Quase todos os grandes cineastas demonstram de certa forma essa ‘zona de conforto’, onde figuram alguns de seus filmes de maiores sucessos. Resta então esperar Chazelle se aventurar em outros campos, capacidade sabemos que ele têm de sobra.

A ideia tinha tudo para dar errado: usar um musical, gênero fora de moda  para celebrar a chamada “era de ouro de Hollywood e Los Angeles, thecityof stars” e, nas palavras do diretor e roteirista DamienChazelle, “retratar sonhos e falar de paixão pela arte e paixão pelo amor, através da música e da dança”. Mas La La Land é bom e é bonito e seu ‘pulo do gato’ é não ser um filme de época, e ambientar a história nos dias de hoje, e isso não torna a trama distante de quem a assiste. 

As referências a outros filmes são quase obrigatórias, já que se trata de um filme sobre os filmes, por assim dizer.Direta ou indiretamente, pelo nome ou não, são citados incontáveis astros e filmes antigos, como Casablanca, Cantando na Chuva, Juventude Transviada, Sinfonia de Paris, Os Guarda-Chuvas do Amor, musicais de Fred Astaire e Ginger Rogers em geral e até A Bela Adormecida.Se tanto saudosismo não cansa, é porque La La Land tem autoironia e usa o fato de se passar nos dias atuais para fazer piada. No meio de uma música retrô-saudosista, aparece um toque de celular, por exemplo.

La La Land pode ser acusado de escapista ou alienado, em uma época que pede engajamento, os discursos do Globo de Ouro e os protestos por premiações com mais diversidade são prova disso. Há grandes filmes no páreo, como Fences e Moonlight. Talvez isso atrapalhe o musical na corrida pelo Oscar. Mas, se a estatueta vier, que seja lembrada como um momento em que Hollywood quis, sim, se autoconsagrar – mas através de um filme bastante digno. O prêmio não será um absurdo, nem de longe. 

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