Shows animam Goiânia no fim de semana

Um dos maiores nomes do rap brasileiro, Gabriel, O Pensador é atração neste fim de semana, em Goiânia, assim como o cantor Phellipe Haagensen e o sertanejo Thiago Brava

Postado em: 10-02-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Um dos maiores nomes do rap brasileiro, Gabriel, O Pensador é atração neste fim de semana, em Goiânia, assim como o cantor Phellipe Haagensen e o sertanejo Thiago Brava

Júnior Bueno

Quem estava vivo no Brasil em 1992 e sentiu na pele o arrocho da crise financeira e política causada pelo presidente Fernando Collor certamente se sentiu pelo menos um pouquinho vingado quando um garoto surgiu cantando “Hoje eu tô feliz, minha gente! Hoje eu tô feliz, matei o presidente!”. De lá pra cá, o carioca de Vila Isabel, Gabriel Contino, vulgo Gabriel, O Pensador domou as rédeas do mercado, surfou nas paradas de sucesso, se tornou uma figura onipresente no pop brasileiro dos anos 90 e entrou o século aprendendo a ser adaptar às novas regras do mercado, ditadas por quem ouve playlists enquanto confere o Instagram. 

Gabriel, O Pensador também diversificou suas atividades e se tornou escritor, palestrante, presidente de ONG – entre outras coisas. Neste fim de semana, o rapper se apresenta em Goiânia, dentro do projeto de verão Deu Praia – no setor Marista, em Goiânia –, com um show marcado por seus grandes sucessos como Cachimbo da Paz, Até Quando, Retrato de um Playboy, e Solitário Surfista. Músicas de seu álbum mais recente, Sem Crise, de 2012, também fazem parte do repertório. Sem lançar um álbum inédito desde então, o cantor tem lançado singles avulsos, na internet, como Chega, Muito Orgulho, que ele fez para seu pai, Cacimba de Mágoa, com o Falamansa, sobre o desastre ambiental de Mariana e Fé na Luta.

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Gabriel conversou com o Essência sobre música, projetos sociais, seu lado de escritor e sobre os novos tempos do mercado (confira abaixo). 

Sertanejo e eletrônica

Não é somente Gabriel, O Pensador que animará o projeto Deu Praia neste fim de semana. Hoje (10), o cantor Phellipe Haagensen vai se apresentar nas areias do local. O cantor e ator, que foi uma das estrelas do filme Cidade de Deus no papel do traficante Bené, traz pela primeira vez pra Goiânia o seu projeto SuaveS, que tem a proposta de modernizar o passado com interpretações de artistas como Djavan, Tim Maia, Cassia Eller, Criolo, Michael Jackson, Gal Costa, dançando ao som de arranjos de música eletrônica.

No domingo, é a vez do sertanejo Thiago Brava se apresentar a partir das 18h, no palco do espaço Deu Praia. Na a apresentação, o cantor vai mostrar canções do segundo DVD e terceiro CD da carreira, o Tudo Novo De Novo. O projeto conta com 20 faixas e apresenta um Thiago irreverente, mas ao mesmo tempo mais romântico e maduro musicalmente. A primeira música de trabalho é Ladrão de Lua e conta com a participação de Zé Neto & Cristiano. Músicas como Amiga Parceira, Namora Bobo e sucessos de outros trabalhos do cantor também vão fazer parte do show.

Serviço

Phellipe Haagensen 

Local: Deu Praia (Av. Americano do Brasil, Parque Areião, Setor Marista)

Quando: sexta-feira, 10 de fevereiro

Horário: a partir das 19h

Ingresso: R$ 20 (feminino) e R$ 40 (masculino)

Gabriel O Pensador 

Data: sábado, 11 de fevereiro

Horário: a partir das 16h

Ingresso: R$ 40 (feminino) e R$ 60 (masculino)

Thiago Brava no Deu Praia

Data: domingo, 12 de fevereiro

Horário: a partir das 18h

Ingresso: R$ 40 (feminino) e R$ 60 (masculino)

Entrevista: Gabriel, O Pensador 

Como costuma ser um show de rap direcionado para públicos que não somente o de rap?

Eu gosto quando é assim. A gente tem feito muitas festas, festivais. Na semana passada, eu toquei no Planeta Atlântida, que teve artistas dos mais variados gêneros e um público bem diverso. São shows divertidos, alegres. Muita gente depois vem comentar. É uma forma de as pessoas conhecerem meu trabalho mais de perto. 

24 anos depois de seu primeiro álbum, o que você acha que mudou mais significativamente no mercado musical de 1993 até hoje?

O mercado mudou pra caramba. A comunicação com o público mudou, eu uso muito as redes sociais. Pessoas me falam que músicas minhas fazem parte da vida delas, outras fazem interpretam coisas que eu escrevi de uma maneira que nem eu tinha imaginado. O artista não depende mais de CD, de palco de TV, não tem mais essa dependência. Eu estou há cinco anos sem lançar um álbum, mas já lancei quatro singles.

E como um artista que se expressa através da música, o que mudou?

A velocidade da cabeça das pessoas mudou, os jovens hoje são mais dinâmicos. Eu estou vendo um clipe que me mandaram pelo whatsapp; no meio dele, o celular apita avisando que tem notificação no instagram, todo mundo faz muitas coisas ao mesmo tempo. A mudança é na forma mesmo de se consumir música. Quem consome, hoje, não é o cara que ouvia o vinil e parava o que estivesse fazendo para escutar um álbum inteiro. A gente tem que entender essa mudança e acompanhar.

Você nasceu na elite, mas boa parte de suas canções carregam mensagens de inclusão para as minorias e pessoas mais pobres. De onde vem essa identificação?

A música tem uma função social. Eu sempre falei sobre desigualdade, mas não somente desigualdade financeira. A não ser em uma música específica do meu primeiro álbum, que era sobre isso; na maior parte, eu falo sobre buscar liberdade, justiça e respeito, que são mensagens que servem para todas as classes. Eu tenho uma coisa de quebrar muros, inclusive o Spotfy fez um documentário sobre mim que o título foi muito feliz: Derrubando Muros e Expandindo Horizontes. Também tem o fato de que eu eu tive um histórico de ter amigos na favela, mas tenho que explicar isso, senão fica parecendo aquele estereótipo de ‘garoto rico que vai conhecer a favela’. O que acontece é que minha mãe foi pobre, filha de um policial e uma professora. Eu não nasci em berço de ouro. Mas, à medida que eu fui crescendo, ela foi ganhando dinheiro como jornalista e a gente foi mudando de vida, sempre se mudando para bairros melhores. Quando eu tinha 12 anos e fui morar em São Conrado, que é um bairro nobre da Zona Sul, era a fase em que eu ia surfar, andar de skate, e fiz amizade com uma galera da favela. Nessa idade, eu estava formando meus valores, minha personalidade, então um pouco do que eu canto veio daí. E também de observar, de ver filmes, de jornais, livros. Eu posso compor sobre a situação de um refugiado sírio sem necessariamente ser um.

Como foi o trabalho com a ONG Pensando Junto?

A gente começou com um trabalho para ajudar 16 jovens que ficavam no sinal de trânsito. Primeiro levamos ele para um trabalho que havia, que era longe da Rocinha, e não deu muito certo. Eu era um artista que visitava ONGs; me deu vontade de  fazer eu mesmo alguma coisa. Eu fiz com meu tio e mais um amigo bancando junto comigo. Ao todo, foram 30 crianças e adolescentes que fizeram parte, e a ONG promovia inclusão através do rap, da música, de atividades físicas – entre outras coisas. O projeto já não existe mais, mas até hoje eu encontro os meninos, que hoje já tem filhos, têm profissão, saíram da rua. A gente não teve sucesso em todos os casos, porque existe a sedução do roubo, do tráfico, dessas coisas. Eu vivi muito de perto a realidade desses meninos da favela.

Como está a carreira do Gabriel, ‘O Escritor’?

Eu tenho um livro, Um Garoto Chamado Rorbeto, e, com ele, eu dou palestras para jovens. Puxo um papo sobre racismo, surf, amizade, tudo isso. E me atenho às coisas positivas, como um garoto da Rocinha que está se formando agora. Isso é bom, porque serve de exemplo, de como o esporte, o estudo, o trabalho podem levar aqueles garotos adiante. E, mais do que fazer sucesso, o importante é seguir no caminho do bem, ser feliz, resistir. A palavra adequada é resistência.

O Caetano Veloso disse que o rap é a nova MPB. Como você avalia o rap hoje? 

Na minha ONG, eu vi a força que o rap tem como meio de expressão. A música, em geral,  tem isso – como a MPB na época da ditadura ou mesmo o samba nos primórdios. O diferencial é que o rap traz na essência o estímulo à liberdade de se expressar. Tem outro tipo de rap, que é mais de curtição, e tem um que tem uma mensagem. Sem perceber, é o que eu fiz na minha carreira. Hoje, a cena está mais variada e renovada por nomes como o Criolo, a Karol Conká e o Rael. Desde que eu comecei, o rap cantado em português evoluiu muito.

Em 1993, você cantou em Lôraburra versos como “O lugar dessas cadelas era mesmo no puteiro”. Com o movimento feminista cada vez mais forte no Brasil, essa música seria gravada hoje?

Não e eu te digo por que. Há algumas semanas, eu publiquei nas minhas redes um poema sobre a bunda em que eu explico por que não canto mais essa música e outras do álbum Nádegas a Declarar. Eu sempre falei da mulher de uma forma que eu vi que desvalorizava. Era um pouco moralista, e fiz essa música como um aviso para uma amiga, para ela não ir naquela onda e tal. Era para chocar, no bom sentido, para sacudir, mas percebi que a linguagem não é respeitosa, é bem machista. E, bem antes do ‘politicamente correto’, eu me sentia mal cantando coisas como ‘mas eu só vou te usar, você não é nada pra mim’. Não tinha nada a ver, eu não era mais aquele cara. Então eu aboli essas músicas do meu repertório. Foram válidas, levantaram debates, mas não são mais cantadas há algum tempo.  

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