Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Comemorando 50 anos de carreira, Carlos Brandão lança o DVD ‘Amostra Grátis’

Além do lançamento, o músico já pensa em um novo projeto, um vinil com composições “dessa molecada nova”

Postado em: 07-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Comemorando 50 anos de carreira, Carlos Brandão lança o DVD ‘Amostra Grátis’
Além do lançamento, o músico já pensa em um novo projeto, um vinil com composições “dessa molecada nova”

Júnior Bueno

Um dos maiores expoentes da música popular brasileira feita em Goiás (como chamamos isso, MPBG?), Carlos Brandão é uma figura onipresente na cena cultural goianiense. Tanto que já se intitula o ‘Véi’ Brandão, e quase todo mundo o chama só pelo sobrenome, tamanha a intimidade. O cantor e compositor comemora, neste ano, 50 anos de carreira: sua primeira composição foi em 1967. De lá para cá, Brandão fez parte de todos os movimentos e configurações musicais de Goiânia, compôs com seus pares de então e de agora, e sempre esteve em movimento. “Eu tenho saudade é do futuro, o que passou está lá, eu quero é o novo”, diz.

Continua após a publicidade

Um pedaço dessa carreira poderá ser conferido, na noite de hoje (7), no Teatro Sesi. Brandão lança o DVD Amostra Grátis, que ele gravou no palco do teatro no ano passado. “O show de hoje terá algumas músicas do DVD, mas vou cantar algumas do CD Cai Pro Pau, Gordin Mané. O diferencial desse show é a participação de pessoas que já gravaram músicas minhas. Tem Maria Eugênia, Gustavo Veiga, Fernando Perillo, Tom Chris e o Valter Mustafé. Cada um vai cantar uma música comigo e, depois, cantar uma de seu repertório”, adianta Brandão. E, no repertório, Pé de Flor, Mentira Morena, Essência de Rapaz, Sem Pressa, Coisa Encantada, Comendo você, Bonjour amour, Amostra Grátis e Baixinha. A noite ainda reserva uma atração literária: um sarau de poesias com Paulo Manoel, João Felipe, Rafael Vaz e Jeferson Neves. 

Cinco décadas não pesam para o compositor, tampouco o colocam no patamar de uma vaca sagrada. Pelo contrário, Brandão é bem acessível. Sua falta de afetação é tanta que ele não pretende fazer nenhuma coletânea comemorativa ou coisa do tipo. “Eu só me liguei nesse negócio de que já são 50 anos, quando vocês me lembraram, agora”, disse à nossa reportagem. Para este ano, um projeto que pode tomar corpo é um disco de vinil. “É um disco chamado Novidade em que eu vou gravar somente músicas de jovens compositores de 18, 19, 20 anos. A minha intenção seria fazer isso”. 

“Quando as pessoas perguntam ‘você tem saudade do quê?’, é comum ouvir coisas como ‘no meu tempo era melhor’ isso. Eu digo que, antigamente, era muito ruim; eu não tenho saudade nenhuma, só quero saber do futuro”, diz. Mas visitar o passado é fundamental quando se fala em Carlos Brandão, porque ele é um capítulo à parte na história da música goiana. Música que para ele não importa muito se é chamada de goiana, de MPB feita em Goiás ou apenas de música brasileira. O que diferencia essa produção local, segundo ele, é a qualidade. “Essa música feita aqui começou, no fim dos anos 60, com um punhado de gente que está aí até hoje. Ela tem um diferencial, que é ser feita com muita qualidade. Gustav Veiga, João Caetano, Amauri Garcia, todos eles estão fazendo música e do mesmo nível que fazia antigamente. Não perderam o tesão, o pique”.

Para ele, a música goiana não precisa ser referendada por pessoas de fora para que seja reconhecida; é necessário apenas que seja ouvida. “Eu nunca pensei, pessoalmente, ultrapassar lugar nenhum. Acho bobagem, ainda mais hoje, que as fronteiras são uma coisa relativa. E o sucesso também. Tem um punhado de meios de levar sua música para todos os cantos do mundo. Essa noção de sucesso é uma bobagem, tem gente que persegue, tem gente que se frustra quando não consegue, mas eu, em instante algum eu pensei nisso”.

O repertório de Carlos Brandão foi revisitado no ano passado pelo cantor João Lucas. O contato do compositor com as novas gerações é de longa data: “A minha relação com essa molecada que faz música em Goiás começou na década de 70. Eu sempre dei muita força para quem está começando, pois acho que o mercado é cruel. Muitos deles trabalharam comigo na produção de shows e festivais no Martim Cererê. É muito bacana ess troca de carinhos que existe entre nós”.

Multiartista, Brandão é compositor, cantor, escritor, jornalista e agitador cultural. E já esteve no outro lado do balcão como superintendente de ação cultural, diretor do Centro Cultural Martim Cererê, diretor do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, produtor no Centro Cultural Oscar Niemeyer e diretor do Teatro Goiânia em diferentes épocas e gestões. Como criador, ele é um crítico ferrenho da maneira como a cultura é tratada ultimamente. “Eu acho muito triste o momento que nós estamos vivendo. A Secretaria de Cultura do Estado virou Secretaria de Educação e Cultura, isso é inadmissível. As pessoas que estão lá dentro nem olharam para a história delas para ajudar a tomar uma decisão dessas”.

A gestão da cultura feita pelo município e os entraves envolvendo o Ministério da Cultura também foram criticados por Brandão. “A Secretaria Municipal está investindo hoje, mas o antigo secretário e o antigo prefeito destruíram tudo, não tem mais orçamento nem nada. O próprio Goiânia Ouro foi destruído. Não se pode contratar bilheteiro, auxiliar de limpeza,  técnicos, porque esses cargos foram extintos”. Sobre a gestão federal, Brandão diz que há alguns grupos que são mais facilmente atendidos que outros”. Segundo ele, as leis de incentivo poderiam funcionar de forma menos burocrática para atender demandas mais distantes dos grandes centros. “Esses projetos são decididos por pessoas que são totalmente alheias à area. Se você tem um artista lá em Minaçu, um violeiro que nunca soube o que é a lei, ninguém nunca vai saber quem é esse cara. As leis e os fundos hoje servem para as secretarias lavarem as mãos”.

Veja Também