Exposição em Fortaleza reúne raridades do ‘Arquivo Nirez’

Edwirges Nogueira Correspondente da Agência Brasil A antiga alfândega de Fortaleza, hoje sede da Caixa Cultural, abriga até o dia 16 de

Postado em: 29-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Edwirges Nogueira

Correspondente da Agência Brasil

A antiga alfândega de Fortaleza, hoje sede da Caixa Cultural, abriga até o dia 16 de abril uma exposição que mostra muitas histórias, inclusive a do próprio prédio. São fotos antigas de Fortaleza, discos de cera, rádios a válvula, microfones, revistas em quadrinhos da década de 50, caixas de fósforos, embalagens e outros itens.

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A exposição tem cerca de 300 peças, de um total de 141 mil, do Arquivo Nirez, criado e mantido pelo jornalista, historiador e memorialista Miguel Ângelo de Azevedo. “Você tem o mesmo nome da Chiquinha Gonzaga”, observou Nirez ao autografar os catálogos da exposição para a repórter da Agência Brasil. O nome completo da compositora e maestrina brasileira, que viveu entre os anos 1847 e 1935, é Francisca Edwiges Neves Gonzaga.

Ao mostrar o início do arquivo, Nerez lembrou que, aos 20 anos, ao ganhar de presente de aniversário um toca-discos (naquela época, em 1954, era chamado de picape), começou a comprar discos de cera “para deleite”.

Cada novo disco o levava a buscar outro e outro, especialmente reedições da década de 1930. Em certo momento, essas reedições acabaram e, ansioso por continuar a coleção, Nirez resolveu seguir a dica de um dos lojistas de discos: procurar com as famílias de Fortaleza. “A dificuldade era grande porque ninguém queria se desfazer dos discos”, conta. 

Mas, em 1957, começou a ser vendido no Ceará o LP, que reunia mais faixas de música que os discos de 78 rotações (rpm), que só tinham uma faixa de cada lado. “Eu botava cinco LPs debaixo do braço e ia às casas das pessoas para trocá-los por discos de cera. Elas gostavam da novidade e acabavam trocando, mas como não tinham o aparelho para reproduzi-los, até os toca-discos a gente negociava em troca dos discos de 78 rotações”.

Foi assim que Nirez reuniu 22 mil discos de cera, a maior discoteca particular do Brasil. As músicas de seu acervo são mostradas aos domingos no programa Arquivo de Cera, na Rádio Universitária FM, ligada à Universidade Federal do Ceará (UFC).

A trajetória de Nirez se confunde com a história que ele busca preservar. O historiador é filho do poeta e pintor Otacílio de Azevedo e irmão do astrônomo Rubens de Azevedo, que hoje dá nome ao planetário do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Quando criança, conviveu com o arquiteto húngaro Emílio Hinko, que projetou diversos prédios em Fortaleza. Alguns ainda resistem, como o Náutico Atlético Cearense, na Avenida Beira Mar.

Nirez atribui a Hinko o apelido pelo qual é conhecido. “Eu era vermelhinho e loiro, e ele me apelidou de inglês. Todo mundo passou a me chamar ‘inglês’, ‘inlês’, ‘niês’ e terminou em nirez. Como, eu não sei”, disse.

Fotografia

A coleção de fotos do Arquivo Nirez soma hoje cerca de 30 mil. Na sala de exposições da Caixa Cultural, algumas foram reproduzidas em grandes formatos.

O engenheiro civil aposentado Benedito Madeira Sobrinho, de 71 anos, se encantou com uma foto de 1912 que mostra a jovem Odele de Paula Pessoa segurando o estandarte da Liga Feminista Pro-Ceará Livre, considerada a primeira manifestação em defesa das mulheres no estado. “Essa foto é de 1912. As mulheres só passaram a votar em 1932 e Fortaleza já tinha uma liga feminista. Isso mostra um pouco do pioneirismo cearense”. 

As fotos antigas da cidade são outro destaque da mostra. Entre 1975 e 1991, Nirez manteve no jornal O Povo a coluna Fortaleza Ontem e Hoje, em que trazia uma foto antiga de um ponto da cidade e outra atual do mesmo ponto, mostrando o que mudou.

O acervo de Nirez continua em expansão. Durante o dia, ele faz pesquisas em Fortaleza, recebe doações e, à noite, recepciona as pessoas que desejam consultar o arquivo.  

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