Quando a cozinha vira hobby

Arquiteto e urbanista conta como aprendeu a cozinhar e inspira-se na profissão para aguçar o paladar de seus convivas. Além de ter aprendido o segredo dos temperos, ele usa seu senso estético para t

Postado em: 01-04-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Arquiteto e urbanista conta como aprendeu a cozinhar e inspira-se na profissão para aguçar o paladar de seus convivas. Além de ter aprendido o segredo dos temperos, ele usa seu senso estético para t

ALINNE TELES, ESPECIAL PARA O HOJE

Hábitos saudáveis de vida foram incorporados na rotina do arquiteto Paulo Renato Alves, 41 anos, depois de ficar por quase 30 dias internado com pancreatite aguda no hospital Albert Einstein, em São Paulo, em 2012. A superação da doença fez com que ele abandonasse o tabagismo, adotasse a prática do esporte, uma alimentação saudável e, de efeito colateral, gerou uma paixão pelas panelas.

Como assim? “Sempre gostei de comer, mas aprendi a cozinhar depois da minha doença. Minha dieta ficou tão restrita que eu e minha esposa precisamos dar mais atenção ao modo de preparo dos alimentos. Buscamos mais informações sobre ingredientes e suas composições, começamos a testar receitas, e assim o gosto surgiu”, revela.

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Palavras e expressões como ‘mango’ ‘chutney’, ‘geleia de cabernetsauvignon’, ‘noz moscada’ e ‘cardamomo’ passaram a ser nomenclaturas tão familiares como termos técnicos da arquitetura. Apesar das restrições alimentares que seu estado de saúde impunha, ele passou a usar a liberdade de experimentar combinações permitidas para descobrir receitas. E elas foram surgindo. Até um caderno a família reservou para registrar as invenções – apesar de Paulo Renato revelar que, sempre quando vai repetir uma receita, acaba mudando alguma coisa para fazer novos testes. “Eu olho para uma folha de endívia e vejo um milhão de pratos dentro dela. O grande barato é descobrir sabores diferentes”, diz.

Assim, o arquiteto descobriu uma nova faceta para a cozinha. O espaço para se preparar alimentos ganhou um tom de criatividade e diversão. O lugar do qual muitos correm no fim de semana é onde ele passou a sentir prazer em estar. A fase difícil da dieta passou, mas o gosto pela cozinha permaneceu.

“Eu nem preciso ter um convidado em casa para ir para a cozinha. Aliás, é sozinho que faço experimentos com misturas inusitadas. Gosto de abrir a geladeira sem saber ao certo o que vou preparar. Pego os recursos que tenho, analiso as combinações possíveis e parto para a execução. É exatamente como projeto um edifício”, compara.

Um exemplo: dia desses, ele criou um Noisette de Fraldinha com Alho Poró. Cortou a carne em tiras e pediu às filhas para dar nós nas tirinhas antes de assar. Com essa artimanha, ela ficou ao ponto por fora e suculenta na parte dos nós, surpreendendo o paladar. “O grande diferencial das carnes é o ponto”, conta um segredo. Invenção que deu certo.

Sua fama espalhou logo, e as receitas passaram a fazer sucesso entre as filhas, os familiares e os amigos nos encontros de fim de semana. A descoberta da habilidade de alcançar o paladar do outro lhe proporcionou um sentimento de gratificação. “O prazer de servir veio como consequência da realização de saber preparar”, conta ele, que hoje aproveita os fins de semana de folga para cozinhar para os amigos.

A grande especialidade de Paulo Renato são as carnes. Uma delas são as carnes assadas no chairbroiler (um equipamento composto por grelhas com queimadores que aquece materiais radiantes responsáveis por proporcionar um sabor exclusivo aos alimentos), e aperitivos do tipo comida dibuteco – sempre feitos a partir de receitas mais saúde. O hambúrguer artesanal, preparado com um blend de cortes magros bovinos e gordura suína, é uma unanimidade entre seus convivas. “Hoje, minhas filhas de 11 e 7 anos preferem comer nosso hambúrguer caseiro às armadilhas kids de fastfood”, explica o arquiteto com jeito de mestre cuca.

Mas ele também acumula outros feitos culinários. Sabe fazer como poucos a tradicional receita do Bife Wellington, ou o inusitado Risoto do Sertão Italiano, feito à base de carne de sol com o gorgonzola milanês, dentre tantos outros, são bastante apreciados pelos amigos. 

A esposa, a veterinária Camila Amorim, que nos fins de semana faz o papel de assistente, garante que depois que o Paulo Renato aprendeu a cozinhar a casa nunca mais ficou vazia aos fins de semana. “Ele cozinha desde pratos elaborados a um hambúrguer. O resultado sempre é muito afinado, do sabor à forma de apresentação, sempre impecável, dos pratos”, conta.

Arquitetura no fogão

Então é assim, nos fins de semana, ele troca o mouse pela faca e os desenhos pelos temperos. A pauta deixa de ser os edifícios para ser o sabor dos pratos. Parece diferente para a maioria, mas, para Paulo Renato, a essência é a mesma: tudo parte da criatividade. Gastronomia e arquitetura guardam uma estreita grande relação com a estética, ele considera. “Assim como um projeto de arquitetura tem que ser belo e funcional, o mesmo raciocínio tem de ser aplicado ao cardápio. Tem que ser aprazível”, afirma.

Por isso, na varanda de sua casa, a comida é sempre empratada antes de servir. Se tiver crianças, ele usa a criatividade para desenhar carinhas e bichinhos com os alimentos. “Nós começamos a comer a partir da visão e do olfato. Se a comida está bonita, cheirosa, o sabor até realça. Pode ser um mexido que fica perfeito”, conta o arquiteto.

Até mesmo o mexido torna-se digno de estrelas no prestigiado Michelin – aquele guia de restaurantes internacionais que é venerado quase que como uma ‘Bíblia gourmet mundial’. Para ter ideia, esse empratado igual ao de um chef de cozinha nada mais é que um tradicional arroz frito no açafrão, com um pouquinho de pimenta e com tiras de carne seca. O detalhe ficou por conta da saladinha de manjericão com tomatinho cereja e um toque de creme balsâmico reduzido, usados para dar ainda mais beleza e sabor ao prato.

Uma de suas postagens mais recentes é um sanduíche de calabresa .  Paulo Renato refogou a linguiça na manteiga, junto à cebola, adicionou gotas de molho shoyo. Um segredinho: separou a cebola refogada, caramelizou no açúcar mascavo e tornou a colocá-la juntamente  com a linguiça. Fez o acabamento com a cebolinha para dar aquele toque estético, e colocou no pão. A imagem transmite pompa e sabor, mas o sanduíche é bem caseirinho. Bem ao estilo do arquiteto que aprendeu na prática a força da expressão “a gente como com os olhos” e a arte de conquistar o outro pelo estômago.

 

– Quando o popular fica ‘chic’ 

Até mesmoo tradicional pão com ovo da gema mole ganha roupagem gourmet para um lanchinho com a família, ensina Paulo Renato. “O preparo é simples e faz muito sucesso”, conta Paulo Renato, que aprendeu no prazer de cozinhar mais uma oportunidade para momentos de lazer com a família. 

São necessárias duas fatias de pão de forma a escolha, um ovo, duas fatias de muçarela, uma fatia de presunto, requeijão e um pouquinho de leite. O modo de preparo é bem simples: Pegue uma fatia de pão e faça um furo no meio. Depois, coloque em uma frigideira em fogo bem baixo. Passe requeijão na parte superior do pão e deixe no fogo por alguns minutos até que fique com uma textura crocante. 

Depois disso, quebre um ovo inteiro dentro do furo do pão que está na frigideira. Acrescente presunto picado e queijo. Pegue uma segunda fatia de pão e molhe no leite ou creme de leite, e cubra o pão que já está recheado na panela. Use temperos, ervas e sal a gosto. Por fim, forre com uma fatia de queijo muçarela.  Deixe em fogo baixo até o queijo ficar totalmente derretido.  E le voilà. Depois é só servir em pratos individuais. “O ovo fica perfeito. Quando corta o pão, a gema está mole. É quase que uma torta”, afirma Paulo Renato. 

 

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