Contradições mostram que cariocas não compreendem direitos humanos, diz pesquisa

Para a pesquisadora Julita Lemgruber, existe incompreensão do termo ‘direitos humanos’

Postado em: 10-04-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Vinícius Lisboa, Repórter da Agência Brasil

A defesa dos direitos humanos é incompatível com o controle da criminalidade para 73% dos cariocas, segundo a pesquisa Olho por Olho?, divulgada recentemente pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Quando confrontados com exemplos de situações mais concretas, no entanto, os entrevistados posicionam-se muitas vezes a favor dos direitos de que afirmam discordar, apontam os pesquisadores responsáveis. “Temos contradições. Embora grande parte da população não acredite que lutar contra a violência seja compatível com o respeito aos direitos humanos, em uma série de outros dados, fica claro que a população não aceita violações específicas”, diz a coordenadora do centro de pesquisas, Julita Lemgruber.

Na opinião da pesquisadora, existe incompreensão do termo ‘direitos humanos’ que, muitas vezes, é confundido com impunidade ou ‘privilégio de criminosos’. “A gente tem um dever de casa de explorar essas brechas e trabalhar com a população”, afirma.

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Para 56% dos entrevistados, quem defende direitos humanos defende bandidos. Apesar disso, 47% discordam da frase “os bandidos não respeitam os direitos dos outros, por isso, não merecem ter direitos”.

A maior parte (61%) dos entrevistados afirma que a polícia deve, sempre que tiver escolha, prender em vez de matar. Para 93%, a polícia não pode atirar em quem acha que é criminoso. Além disso, mesmo diante da certeza de que alguém cometeu um crime, 75% são contra o disparo, e 69% são contra a polícia atirar em quem está fugindo e 29% discordam até mesmo de que a polícia dispare contra quem está apontando uma arma para os agentes. “Essa pesquisa aponta para a possibilidade de desconstrução dessa lógica do ‘bandido bom é bandido morto’. Há espaço para discussão com a sociedade”, destacou Julita.

A pesquisa identificou uma base de cerca de 40% dos cariocas que têm uma atitude pró-direitos humanos na questão da segurança pública. Eles são contra o chavão “bandido bom é bandido morto”, discordam da pena de morte e são contra linchamentos. Por outro lado, 12,5% declararam ser a favor da frase, da pena capital e da justiça com as próprias mãos.

Para o pesquisador Ignacio Cano, os dois grandes freios à ideia de que bandido bom é bandido morto são a defesa da legalidade e a religião. O estudo identificou que 37% da população concorda que bandido bom é bandido morto. Cano diz que é preciso desnaturalizar a ideia de ‘guerra’ no Rio de Janeiro, desconstruir a demonização da figura do traficante e apontar o fundo racista nas violações dos direitos humanos.

Exposição

A pesquisa mapeou também a exposição de pessoas a cenas de violência, e identificou  Facebook e WhatsApp como principais plataformas em que entrevistados tiveram acesso a vídeos de violação de direitos humanos. Do total de entrevistados, 42% já viram pessoas sendo mortas na internet, 40% já assistiram a tiroteios envolvendo policiais e 38% já viram vídeos de linchamentos. A pesquisa ouviu 2.353 pessoas, com ao menos 16 anos, em pontos de fluxo do município do Rio. O questionário, com mais de 40 perguntas, foi aplicado em março e abril do ano passado. 

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