Espetáculo ‘O Abajur Lilás’ retorna em grande temporada

Grupo Teatro Destinatário leva para texto de Plínio Marcos montagem ousada com debates sobre temas contemporâneos

Postado em: 12-05-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Grupo Teatro Destinatário leva para texto de Plínio Marcos montagem ousada com debates sobre temas contemporâneos

Bruna Policena

O espetáculo O Abajur Lilás está de volta em placo goiano para uma grande temporada. A peça, escrita pelo dramaturgo Plínio Marcos, em 1969, estreou em Goiânia, em 2014, pelas mãos do Grupo Teatro Destinatário, com direção de Natássia Garcia, em uma montagem ousada e contundente que faz jus à aura marginal da obra do autor. O sucesso da montagem foi imediato graças à propaganda boca a boca. Agora, a trupe está de volta para uma temporada ainda maior com este que é um dos espetáculos mais comentados dos últimos tempos da cena teatral goiana.

A temporada vem com uma nova proposta, o Boteco Político, que vai debater, após cada apresentação, temas contemporâneos que, de alguma forma, estão ligados ao universo da obra de Plínio Marcos – como feminicídio, prostituição, políticas de saúde coletiva, ditadura civil-militar, homofobia e o teatro de Plínio Marcos. O endereço da atual montagem é o Espaço Cultural Novo Ato, no Setor Crimeia Leste. A temporada conta com o apoio institucional da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Goiânia, edital 2016.

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Na peça, Giro, Oswaldo, Dilma, Célia, Leninha e outros personagens– representativos da temática abordada – são as figuras que habitam o “mocó” e compõem o cenário da zona de prostituição. A direção realista de Natássia Garcia capta a crueza da ação, em um ousado jogo de cena, que escancara o lado mais duro de quem enfrenta a sociedade vivendo à margem. Assim, as cenas são cruas e não se furtam da violência, do escárnio e da nudez do elenco, que se despe metafórica e literalmente, em nome da verdade contida no texto.

A diretora define que, “com humor e dor, os atores e as atrizes buscam expor ao público os estados e as relações de poder que envolvem estes personagens, que sobrevivem em condições precárias, na base da ‘crueldade’. Na encenação, na metáfora e no simbolismo dos estilhaços do abajur lilás, são esgarçados o movimento de desumanização, o sentimento de amor, de desamor e as possibilidades de fé na humanidade”. 

A direção de arte é de Luan Roger de Carvalho, Natássia Garcia e Naty Paiva. O trabalho de pesquisa para a cenografia e o figurino é uma atração à parte. Com esmero, peças de época foram coletadas em brechós para recriar fielmente um cafofo suburbano da década de 1960. O cenário é planejado de maneira tal que o público acaba fazendo parte da cena, não como simples espectadores, mas como testemunha da ação.

O Abajur Lilás

A peça foi escrita em 1969, em plena ditadura militar, porém só foi liberada pela censura 11 anos depois, em 1980. Tendo a montagem sido interrompida e retomada algumas vezes até sua liberação, O Abajur Lilás mobilizou toda a classe teatral, tornando-se símbolo de resistência.

A ação tem lugar no prostíbulo de Giro, um homossexual sem piedade que conta com o violento Osvaldo, seu amante, para fazer valer sua autoridade ali. Em estado de extrema degradação humana, três prostitutas tentam sobreviver: a sofrida Dilma, que se apega aos valores e ao filho que precisa criar; a rebelde Célia, que só deseja tomar o prostíbulo e o poder para si; e a dissimulada Leninha, novata no lugar, individualista e parece não se abalar com os conflitos alheios. Tudo se complica quando um abajur aparece quebrado no dormitório e nenhuma das três assume a culpa.

Sem disfarces nem qualquer piedade, Plínio Marcos retrata as camadas mais marginalizadas da sociedade, seres sem perspectiva outra, que sobreviver um dia após o outro de uma vida ingrata. As três prostitutas, o cafetão e o segurança fazem o que podem para defender o que é seu em um entorno marcado pelas relações de poder, onde a justiça parece não existir, e os interesses individuais ditam as leis.

Quem foi Plínio Marcos?

Nascido em Santos em 1935, Plínio Marcos foi um escritor, ator e teatrólogo brasileiro cujas obras se destacavam pela denúncia e protesto contra as formas de organizações sociais. Suas principais peças são Dois Perdidos Numa Noite Suja (1966), Navalha na Carne (1967), Balbina de Iansã (1971) e Abajur Lilás (1976).

Iniciou-se no teatro fazendo pequenos papéis no Teatro da Liberdade. Entrou para o Clube da Poesia, do jornal O Diário, de Santos, onde publicava suas poesias. Assumiu a direção de várias peças. Sua primeira peça, Barrela, apresentada em 1959, foi proibida pela censura, assim ficando durante 21 anos.

Em 1960, foi para a cidade de São Paulo. Entrou para a Companhia Cacilda Becker, montou várias peças. Seus personagens, quase invariavelmente, eram mendigos, vagabundos, delinquentes e prostitutas. Plínio usava uma linguagem característica do submundo. Durante o regime militar, implantado em 1964, suas obras foram muito censuradas.

Como ator, Plínio Marcos participou da novela Beto Rockfeller e, como jornalista, escreveu para os jornais Folha de S.Paulo, Última Hora, Folha da Tarde e para as revistas Veja, Pasquim, Opinião – dentre outras. Escreveu vários livros. Suas obras foram publicadas e encenadas em vários países. Plínio Marcos de Barros morreu em São Paulo no dia 29 de novembro de 1999.

O Grupo 

O Grupo Teatro Destinatário nasceu em março de 2011, tendo como suas primeiras experiências, intervenções artísticas em hospitais da cidade de Goiânia e interior do Estado de Goiás. O repertório do grupo já contou com as montagens TV Insônia (2012), Acaso em Cores – Dom Quixote (2012), Tudo em Cores e Outras Poesias (2015). Atualmente, estão em circulação os espetáculos Quecosô, Oncotô, Oncovô – Goiás Singulares no Plural (2013), Bumba, Meu boi Estrela (2014) e O Abajur Lilás (2014).

O Teatro Destinatário já circulou em várias cidades do interior do Estado de Goiás e em cidades como Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES) e Mato Grosso (MT). Com seis anos de estrada mantendo a mesma formação, exploram os processos de criação coletiva, onde os integrantes estão envolvidos em todas as etapas de produção de suas obras artísticas.

Para o público infantil, o Teatro Destinatário oferece atividades de contação de histórias, em parceria com livrarias, shoppings, e projetos pela cidade. O grupo já foi contemplado com editais do Fundo Estadual de Cultura de Goiás e Lei Municipal de Incentivo Goiânia, e já participaram de inúmeros festivais.  

Serviço:

‘O Abajur Lilás’, com Grupo Teatro Destinatário

Quando: 12, 13, 19, 20, 26 e 27 de maio de 2017

Onde: Espaço Cultural Novo Ato (R. Dr. Sebastião Fleury Curado, 193, St. Crimeia Leste, Goiânia)

Horários: Sextas às 19h e sábados às 20h

Entrada: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente por meio dos números: (62) 3225-1136, (62) 99857-3230 e (62) 99115-1631


PROGRAMAÇÃO:

12/5 (sexta-feira)

– Espetáculo O Abajur Lilás às 19h

– Debate – Políticas de Saúde Coletiva e Prostituição, com José Antônio e Yordana Lara

13/5 (sábado)

– Espetáculo O Abajur Lilás às  20h

– Debate – Homofobia – Luta contra o Preconceito e Resistência Política e Social, com Leo Mendes. Mediação: Luciano de Freitas, ator do elenco

19/5 (sexta-feira)

– Espetáculo O Abajur Lilás às 19h

– Debate – Ditadura Militar, Golpe e a Atualidade do Tema, com professora Miriam Bianca e professor José Paulo Pietrafesa

20/5 (sábado)

– Espetáculo O Abajur Lilás às 20h

– Debate – O teatro de Plínio Marcos, com a diretora Natássia Garcia e o grupo Teatro Destinatário. Mediação: Jéssika Hannder

26/5 (sexta-feira)

– Espetáculo O Abajur Lilás às 19h

– Debate – Feminismo e a Luta contra o Feminicídio e a Cultura do Estupro, com professora Luciana de Oliveira Dias, mediação Ludmyla Marques, atriz do elenco

27/5 (sábado)

– Espetáculo O Abajur Lilás às 20h

– Debate – Prostituição e Profissionais do Sexo, com Marcos Maria Branquinho. Mediação: Thiago Santana, ator do elenco 

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