Assim como o vinho, nossa certeza é a morte

Não existe certo ou errado, nem razão e respostas. Não importa o quanto você tente, não importa se são boas suas intenções, você comete erros

Postado em: 21-10-2021 às 17h10
Por: Redação
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Não existe certo ou errado, nem razão e respostas. Não importa o quanto você tente, não importa se são boas suas intenções, você comete erros

Por Edna Gomes

Vinho morre, sabia? É, amigos leitores, sinto muito em dizer, mas a única certeza na vida de um vinho é que um dia ele vai morrer. Assim como na minha vida, ou na sua, quer coisa mais humana? A única certeza da vida, é a morte!

Não existe certo ou errado, nem razão e respostas. Não importa o quanto você tente, não importa se são boas suas intenções, você comete erros. Você irá machucar pessoas e se machucar. Há apenas uma coisa que pode ser dita, esquecer e perdoar. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer. Assim como a vida, a composição de um vinho é muito complexa – tem a ver com as uvas, o corpo, os taninos e tudo o mais. O fato é que cada vinho é único, e cada vinho tem seu tempo, a sua validade. Se algum dia alguém perguntar sobre uma certeza, direi que a morte está certa!

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De tantos e muitos, no final restará apenas você e ela…tudo aquilo que amava ficará, restará as sementes do que lhe foram plantado nos corações e brotarão as emoções de uma bela colheita ou não! Então, vamos imaginar a linha de vida de um vinho. Tudo começa quando acaba a fermentação, e o vinho se torna, de fato, um vinho. É inevitável que o vinho e o ar se encontrem nesse momento, ou seja, começa a oxidação. Claro que é uma oxidação mínima, pois os barris de carvalho, os tanques de inox, a garrafa, foram todos feitos para evitar ao mínimo que o processo aconteça. Acontece pouco, mas acontece. Nessa fase, a oxidação é desejável – ela revela os sabores, deixa-os mais profundos, amacia a potência, deixa o vinho mais fácil e mais gostoso de beber.

O vinho começa a evoluir, e isso é muito bom! Porém, uma hora, ele chega ao auge. E sabe o que espera qualquer um depois de seu auge? A decadência! Quando atinge o seu ponto alto, o vinho começa perder suas propriedades, os sabores vão ficando passados (como o de uma fruta que amadureceu demais), a acidez se perde, fica “chocho”. Tintos muito descoloridos e brancos muito escuros podem ser indícios de decrepitude. Isso até o fim: o vinho vira vinagre. Como é a vida! Viramos pó. Ilusão e realidade há uma distância a ser percorrida por nossa percepção ao enxergar a morte distante e a vida próxima, quando diminuímos essa distância, diminuímos a ilusão da certeza na vida e a incerteza na morte, realizando isso viveremos plenamente. Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida, é o único consolo que sinto ao pensar na inevitabilidade da minha morte é o mesmo que se sente quando o barco está em perigo: encontramo-nos todos na mesma situação. A morte nos ensina a transitoriedade de todas as coisas. A convivência mais próxima com a natureza e a consequente observação do ciclo vital de todos os seres vivos permite-nos sentir-se parte desse conjunto, e aí a morte é aceita, por sua vez, como parte da existência. A vida flui como um rio deslizando em verdejantes planícies. As pessoas que desejam redescobrir o sentido da vida devem vivê-la na melhor de suas qualidades.

A morte não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Tolice é viver a vida assim, sem aventura e feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver numa viagem louca e termina a outra viagem é além do céu com o desconhecido. Viva a vida no caminho, porque a jornada é mais importante que a chegada. Eu acredito que o sentido da vida seja trazer sentido a outras vidas! Um vinho “morto” não terá mais nada a oferecer com o tempo. Por isso, há quem diga que é melhor abrir um vinho um dia antes do seu apogeu do que um dia depois. Mas, quando é esse apogeu? Ninguém realmente sabe.Não há tempo para viver em vão. Assim como o vinho, a vida é de quem se permite viver e não morrer no vazio. Viva pelo prazer, porque a morte, o céu ou o inferno, nos espera! (Especial para O Hoje)

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