Cinema de animação cresce no país, mas sofre com falta de capacitação

De acordo com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), 373 filmes de animação foram produzidos no Brasil entre 2000 e 2004

Postado em: 08-07-2017 às 13h50
Por: Toni Nascimento
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De acordo com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), 373 filmes de animação foram produzidos no Brasil entre 2000 e 2004

A animação brasileira completou um século este ano. Há 100
anos, no dia 22 de janeiro de 1917, foi exibido o primeiro filme brasileiro de
animação da história: O Kaiser. O curta, do cartunista Álvaro Marins, exibido
no Cinema Pathé, na Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro, perdeu-se no tempo.

Hoje, o Brasil é reconhecido internacionalmente, com
premiações consecutivas no festival de animação mais importante do mundo,
Annecy – festival realizado anualmente na cidade de Annecy, na França, criado
em 1960 e organizado pela Associação Internacional de Filmes de Animação
(Association d’International du Film d’Animation). Por dois anos consecutivos,
longas brasileiros venceram o prêmio Cristal do festival.

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Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognesi, foi o
vencedor em 2013 e O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, recebeu o prêmio Cristal
de Melhor Filme pelo júri e pelo público, em 2014. Outro filme, da única mulher
brasileira premiada no festival, é o curta Guida (2015), de Urbes. Soma-se a
isso o fato de o longa Menino e o Mundo ter recebido indicação ao Oscar, em
2016.

De acordo com a Associação Brasileira de Cinema de Animação
(ABCA), 373 filmes de animação foram produzidos no Brasil entre 2000 e 2004.
Enquanto 216 filmes foram produzidos no Brasil nos anos 1990. Ou seja, foram
produzidos 72% a mais do que na década anterior.

Segundo Cândida Luz Liberato, integrante da ABCA, contribuem
para o desenvolvimento do mercado as inúmeras iniciativas governamentais, por
meio de programas de fomento ao setor audiovisual. Leis de incentivo, editais,
o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e o aumento da demanda de distribuidoras
e canais de televisão por conteúdo nacional (filmes, séries e animações),
consequência da Lei 12.485/11 (a Lei da TV Paga), corroboram nesse sentido.

Cândida Liberato explica, no entanto, que a animação
brasileira não nasceu da criação de grandes estúdios, e sim da vontade de
pioneiros e entusiastas. Para ela, apesar dos incentivos públicos existentes,
um dos desafios do setor é o diálogo com o Poder Público. “É preciso o
estabelecimento de padrões específicos de regras de fomento para o setor de
animação, porque atualmente as regras são as mesmas usadas para outras técnicas
de conteúdo audiovisual”, disse.

Ela ressalta que, apesar de as animações terem um potencial
de exportação e retorno financeiro maior em comparação a outras técnicas de
audiovisual, a demanda de tempo e recursos financeiros para a produção também é
superior. Uma das principais demandas do setor é capacitação.

Segundo a integrante da ABCA, poucos profissionais são capacitados
para fazerem roteiros e produção de animação com qualidade técnica.
“Atualmente, temos poucos cursos de capacitação na técnica de animação.
Esses cursos têm que ter uma carga horária alta e respeitar as especificidades
do setor. É bem diferente de um roteiro e produção de um longa-metragem ou de
um documentário, por exemplo”, explica. Outro problema apontado é o fato
de os cursos da área se concentrarem no eixo Rio-São Paulo e a produção seguir
essa tendência.

Para Maurício Fonteles, professor do Departamento de
Audiovisual da Universidade de Brasília (UnB), a tendência de crescimento da
produção do setor de animação é influenciada pela facilidade de acesso a
equipamentos e tecnologia para a produção, diminuindo consideravelmente os
custos do processo, comparado aos anos anteriores. No entanto, um dos desafios,
segundo o professor, é a falta de investimento na formação dos profissionais da
área. “As universidades brasileiras não investem na formação voltada para
o cinema de animação, a própria UnB já teve um núcleo de animação, mas foi
extinto”, destaca.

Fonteles ressalta que agências de propaganda têm uma longa
tradição de empregar a animação como forma de despertar o interesse do
consumidor em seus comerciais. “Fora do âmbito publicitário, uma das
maiores conquistas do setor audiovisual foi a Lei da TV Paga, que aumentou a
demanda por conteúdo nacional para ser veiculado nos canais de TV por
assinatura, com uma cota de três horas e meia da sua grade de programação
semanal, em horário nobre, das 18h às 24h, para os trabalhos das produtoras
brasileiras independentes”, detalha.

Fortalecimento do setor e exportação de talentos

Apesar das demandas, a força do setor de animação nacional é
cada dia maior, conforme avalia a Associação Brasileira de Cinema de Animação
(ABCA). Uma prova foi a compra da animação Lino, de Rafael Ribas, pelos
estúdios Fox. O filme, dublado por Selton Mello, Paolla Oliveira e Dira Paes,
tem estreia prevista para 7 de setembro em mais de 400 salas do Brasil.

Outro destaque da animação é o estúdio brasiliense Anim’all,
que tem feito sucesso nas redes sociais desde que começou a animar tirinhas do
quadrinista Caio Gomez. Com relação à exportação de talentos, um dos nomes mais
lembrados é o de Matias Liebrecht. O paulistano trabalhou com o londrino Tim
Burton em Frankenweenie, filme da Disney de 2012. O brasileiro também atuou no
longa Isle of dogs, do americano Wes Anderson. Com previsão de lançamento em
2018, o filme terá as vozes de Edward Norton, Bill Murray, Tilda Swinton e Scarlett
Johansson, dentre outros nomes estrelados.

(Agência Brasil) 

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