Santos, pratos e imagens

A comida sai do prato, ganha o mundo virtual das redes, cai nas graças da publicidade e vira obra de arte

Postado em: 29-09-2017 às 06h00
Por: Guilherme Araújo
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A comida sai do prato, ganha o mundo virtual das redes, cai nas graças da publicidade e vira obra de arte

Lila Nascimento, Especial para O HOJE

Comer. Talvez um dos
verbos mais conjugados ao longo da existência humana. Come-se para viver. Mas
há quem viva para comer. E quantos não são… Comer é verbo transitivo e
intransitivo, depende da fome. Comer é assunto em qualquer roda de amigos,
conhecidos e/ou agregados. Acabou o assunto? Pode começar a falar de comida. É
batata! Não há quem não tenha uma receita ou quem não saiba fazer nada, mas
adore comer. E quem não gosta? Bem, e quando a paixão pela comida se une com
aquilo que você mais gosta de fazer pode-se dizer que se chegou ao êxtase. E aí
consegue-se transformar a arte de cozinhar em obra de arte para se comer com os
olhos. Os pratos se tornam mais que simples pratos. Eles se tornam santos pratos.

Há pouquíssimo tempo, a
palavra “gourmet” nem era pronunciada. Mas foi só ela sair do limbo em que
vivia, renegada aos primeiros bristôs (olha outra palavrinha nova no nosso
vocabulário) abertos no Brasil, e inspirados nos pequenos restaurantes
franceses, que a culinária, quer dizer, a gastronomia, começou também a ter
pedigree. E foi aí que essas obras de arte passaram a ter a obrigação de serem
mostradas aos quatro cantos, seja por meio da publicidade, das fotografias de
família ou nas redes sociais. Pronto. Fotografar e gravar imagens de pratos
criados por chefs virou profissão. E para quem gosta, das mais prazerosas.

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O jornalista e fotógrafo
Rimene Amaral e o publicitário e cinegrafista Pedro Pio comungam da mesma
paixão: a imagem. Um prefere guardar o momento. O outro, o movimento. Mas os
dois conseguem capturar a alma dessas obras feitas para serem comidas e as
escancarar para serem devoradas com os olhos. E foi dessa peraltice de dois
profissionais criativos que surgiu o Santo Prato Mídia, projeto posto em
execução por eles para registrar todo o processo de criação desses mestres das
caçarolas. As imagens – fotografias e vídeos – são produzidas em alto padrão para
serem usadas em todo tipo de mídia, de redes sociais a publicidade impressa e
televisiva.

“É comer com os olhos.
Fazemos isso antes de comer, no sentido literal da palavra. E quando capturamos
as imagens nós também as eternizamos e as colocamos como parte da história”,
diz Rimene, que também se mete a cozinhei… quer dizer, a chef, de vez em
quando. “É mais que mostrar um chef preparando a comida. É mostrar detalhes que
os olhos não percebem. É mostrar a paixão do profissional através das nossas
lentes”, explica Pedro. O Santo Prato consegue expor mais que imagens
benfeitas. O projeto traz no DNA uma nova forma de mostrar a comida e seu
ritual, com plasticidade e recursos curiosos que fazem das fotos e dos vídeos verdadeiras
preciosidades plasticamente perfeitas. “Era uma coisa meio despretensiosa. Mas
o Santo Prato começou a agradar. E fazer um trabalho de qualidade com a paixão
que a gente tem por isso é um êxtase”, revela o jornalista Rimene Amaral. 

Santa música

Os vídeos produzidos pelo
Santo Prato se destacam também por causa da trilha. As músicas clássicas usadas
na maioria das peças agregam charme e fineza. Mas os criadores do projeto se
esbarraram num problema. Nem todas as músicas estão à disposição e usá-las sem
autorização poderia gerar dores de cabeça. A ideia, então, foi criar as
próprias músicas. Ousadia? Sim. Mas que casou perfeitamente com a vontade do
músico e produtor musical Bruno Lobo, nome forte quando o assunto é fazer som.
E som de qualidade, som-arte.

Bruno foi convidado e
aceitou sem nem pensar. “Eu fiquei extremamente feliz com o convite! Sou uma
pessoa que ama criar. Sou das artes e me dou bem com quem entende de arte, seja
qual for ela: um livro, um filme, uma dança, uma pintura, uma comida…”, conta
o músico, que será o responsável pela criação das trilhas dos vídeos do Santo
Prato Mídia. Para ele, notas musicais complementam notas gustativas. “É o
universo te propondo – e te convidando – para apreciar com mais detalhes um
prato, seja ele rápido como fastfood,
com mais dedicação tipo massas de pão caseiras, ou bem intensas como a cozinha baiana
ou paraense. Para cada situação, um vinho que se complementa e uma trilha que
alimenta”, poetisa ele.

Bruno diz que para criar
a música certa é preciso fechar os olhos e imaginar. Depois, com a imaginação,
vai sentindo o paladar e, mentalmente, ouvindo músicas diferentes. Ele entendeu
rápido. “Entra-se na mente de quem propõe ouvir a música e tira lá de dentro a
ideia que ela espera ouvir. Uma comida pode vir em tom de balada, com pimenta e
muito alho. Mas, também, pode vir em tom de música clássica como massas frescas
e bastante pomodoro. Pode vir um tango para uma peça ‘jugosa’ em uma parrilla
argentina, quem sabe?”. A grande sacada da produção musical, de acordo com ele,
é levar o ouvinte ao interior de si mesmo quando se está “experienciando”
alguma sensação, seja ela de festa ou culinária.

E assim como muita gente
que gosta de comida, Bruno também tem lá seus dias de cozinheir… quer dizer, chef. “Meu prato preferido, modéstia à parte,
é um que eu faço: costela bovina cozida na pressão apenas com a água da cebola,
vinho tinto seco e mandioca. Fica Divino!”. Pode-se imaginar. E a trilha para
este e para cada uma das peças do Santo Prato Mídianão será ouvida em qualquer
lugar, apenas onde o bom-gosto, o sabor e o amor pela arte da culinária
estiverem presentes.

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