Segunda-feira, 08 de julho de 2024

‘Como é a Pintura, a Poesia é’

Projeto ‘Exposição de Goiânia’ apresenta experimento estético do artista visual Luiz Martins

Postado em: 07-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: ‘Como é a Pintura,  a Poesia é’
Projeto ‘Exposição de Goiânia’ apresenta experimento estético do artista visual Luiz Martins

Bruna Policena*

Continua após a publicidade

A exposição do artista visual Luiz Martins intitulada Como é a ‘Pintura, a Poesia é’ é uma seleção de obras que dialogam com temáticas vindas da literatura que inspiram o trabalho de Martins. Sob curadoria de Samuel de Jesus, a mostra tem sua abertura nesta quinta-feira (7), às 19h, e estará disponível para visitação até 26 de janeiro de 2018, no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia. 

De raízes mineiras, Martins extrai o seu experimento estético que alcança, por meio das artes, a linguagem universal. Suportado pela práxis de lidar com matérias orgânicas e aproximá-las de suportes impressos, utiliza como insumo a escrita; através da impressão gráfica, tece um novo relevo. Assim, o artista se apropria do domínio técnico para, através de contínuas interferências físicas, transformar a matéria em sua obra com maestria e poesia.

Obras

Martins explica que suas temáticas dialogam com outras dimensões da arte, como a literatura, a poesia, como indica o título desta exposição. “Eu sempre trabalhei tendo a literatura como base estética do meu trabalho, e a montagem deste projeto é uma oportunidade de trazer um conjunto de trabalhos nos quais a curadoria encontrou uma ligação pertinente entre forma e espaço”, conta o artista. 

A exposição apresenta obras de diversas linguagens entre tridimensional e bidimensional, colagens com materiais como metal e papel sobre madeira. São aproximadamente 25 obras, assim divididas: quatro esculturas em metal e madeira, cinco desenhos em papel, seis colagens de papel sobre madeira, oito objetos de parede em metal e madeira e duas colagens em papel com folhas de jornais e livros. 

Assim, “amparado por Horácio – que, na sua arte poética escreveu a expressão ‘ut picturapoesis’, (‘Como a Pintura, a Poesia é’) –, defendo os trabalhos de Luiz Martins como poesia visual. O artista tem como característica principal o trabalho frenético na produção de objetos de arte que, frequentemente, revisita e, consequentemente, prolonga o diálogo entre signos de nossa ancestralidade com o mundo contemporâneo. A comprovação de tal exercício filosófico e estético pode ser observado em suas obras”, explica o também curador e professor Roberto Bertani.

Quanto ao processo de criação do artista visual, Luiz explica: “A escolha é um processo… Arte para mim é um processo que resulta em algo estético. Criar também é um processo diário de convivência entre estado de espírito e comunhão. Meu trabalho é o resultado de pesquisa e inquietação em que existe uma única certeza, que é a incerteza. Essa identidade expressiva acredito que seja a força dos objetos que tenho como base física e estética do meu trabalho, que é a arte de comunicação do homem, desde as expressões primitivas ao contemporâneo”. 

Nesta exposição oferecida pelo museu, o público observará que “está intrínseca nas obras expostas a ligação visceral do artista com os signos extraídos das formas mais ancestrais da comunicação e expressão gráfica, registradas através das pinturas rupestres, e os suportes gráficos contemporâneos suportados pelaimpressão gráfica industrializada”, complementa Bertani. A aproximação entre a pintura e a poesia pode ser referenciada por meio de imitações da natureza.

Ao observador atento, Bertani  recomenda: “Dirija o seu olhar para a composição material e plástica das criações, nas quais o artista se apropria de páginas retiradas de Bíblias impressas, que compõem e suportam a sua produção. É na eloquência e da pesquisa permanente deste artista singular que esta curadoria procura entreter os visitantes, com obras contundentes, e provocar a reflexão entre discurso óbvio e filosófico reflexivo”.

Luiz Martins

Vindo de uma temporada de projetos realizadosem países como Itália, Áustria e Portugal, Luiz Martins traz a Goiânia um projeto consistente e complexo de leituras visuais que faz uso da leitura do seu observador, uma interação de sentidos e reflexões variadas. Nascido em Minas Gerais, após concluir o período escolar secundário, transferiu-se para São Paulo, onde estudou arte em diversos cursos livres, incluindo o atelier dos artistas Adriana Rocha e Renata Barros. 

Neste período, tomou contato com o meio artístico de São Paulo e passou a frequentar o circuito artístico paulista, ao mesmo tempo em que aprimorou seus estudos e pesquisas sobre arte por dois anos. Então foi apresentado ao artista e jornalista Zelio Alves Pinto, e iniciou um intercambio como assistente por 12 anos. Nesse período, foiapresentado à arte rupestre brasileira, iniciou sua mais importante pesquisa, e começou a desenvolver obras em diversos suportes como papel, aço, madeira e tecidos variados.

Enquanto seu trabalho se concentrava  cada vez mais na linguagem tridimensional e na gravura principalmente na xilografia, o artista começou a apresentar suas obras em salões de arte por todo Brasil. A partir de sua primeira exposição – em 1996, no salão de arte da Fundação Casper Libero, sob curadoriadoValter Zanini –, sua obra tomou  dimensões de longo alcance, participando de exposições na pinacoteca de Amparo, em São Paulo, e no Centro de Criatividade de Curitiba, no Paraná. 

Em 2003, expôs pela primeira vez na Europa, na galeria do Forte em Chaves, em Portugal, e ganhou o prêmio Novos Novíssimos do Ibeu – Rio de Janeiro. Em 2006, foi convidado por Cristian e Larissa Weilland para ir a Viena. Nesse momento, iniciou sua carreira internacional, expondo, primeiro, na galeria Artmark. Logo em seguida, iniciou  seu projeto de exposições de esculturas e desenhos nas galeria Mochila e Plank. Passou também a dividir um atelier fixo, em Viena, com o artista venezuelano Gustavo Mendez. Dentre a programação de seu trabalho, ele desenvolve, todos os anos, exposições nesta cidade – desde individuais a coletivas. 

Em 2008, fez a exposição Corpo em Silêncio, no Museu Brasileiro de Escultura, em São Paulo, e em 2009, foi convidado a participar de uma residência artística, na cidade de Brand, Dinamarca, durante quatros semanas, com artistas do Japão, da Polônia, da Lituânia e da China. Depois, surgiram outros convites, e, em 2010, por meio de uma seletiva anual, foi aprovado seu projeto Corpo Silente, com o curador Enock Sacramento, para o instituto Cultural Caixa Econômica. 

No Museu Oscar Niemeyer, em Goiânia, fez sua última exposição em 2014, com o curador Adriano Casanova, apresentando a exposição Não Está no Dicionário. Em 2014, sua vida acadêmica – na Faculdade de Belas Artes e no Curso de Bacharel em Artes Visuais. Em 2015, começou a ser representado pela galeria Paralelo, na qual faz uma exposição individual com o curador Roberto Bertani, e lançou o livro Origens, com o curador Paulo Miyada, um recorte mais atual de sua obra.

Carreira

“Minha carreira, há 10 anos basicamente, é fora do Brasil. Tenho outro atelier em Viena, então acho minha experiência privilegiada pelo fato de estar baseado em dois grandes centros, São Paulo e Europa. A arte é parceira de uma boa estrutura educacional de base que, infelizmente, não temos no Brasil, então criamos nichos na sociedade de pessoas que sabem muito e, a maioria, nada”, diz Martins.

Ele ainda acrescenta que, pelo fato de a nossa cultura não ter estímulos para formar cidadãos, “a arte, como fonte de conhecimento é uma das melhores ferramentas para construção de um sujeito consciente e curioso. Porque a arte é uma expressão que desperta curiosidade da sociedade, em geral, e é sempre uma renovação, pois o artista é esse ser humano curioso, inquieto, enigmático, que contribui para que tudo possa tornar se uma alquimia”, conclui o artista Luiz Martins. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

‘Como é a pintura, a poesia é’ – Exposição individual de Luiz Martins

Curadoria: Samuel de Jesus 

Onde:  Centro Cultural da UFG (Av. Universitária, nº 1.533, Setor Leste Universitário – Goiânia)

Abertura: quinta-feira (7 de dezembro) às 19h

Visitação: de 8 de dezembro a 26 de janeiro 2018, de segunda a sexta, das 9h às 17h30 

Veja Também