Quando os fogos assustam

Virada de ano exige atenção dos donos de cães e gatos sobre medo

Postado em: 28-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Quando os fogos assustam
Virada de ano exige atenção dos donos de cães e gatos sobre medo

Gustavo Motta*

A virada de ano é uma época de alto astral, viagens, e sonhos com futuras realizações. Um dos momentos mais incríveis dessa época acontece com os shows pirotécnicos nas grandes cidades, que encantam com sons e cores. Apesar do encantamento dos fogos, os espetáculos de luz do Ano Novo podem causar uma reação contrária em animais como cães e gatos – o medo.

Continua após a publicidade

“O barulho pode assustar os animais, porque a audição deles é mais sensível que a nossa”, conta Wanderson Ferreira, que atua como membro do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Kellen Oliveira, esposa de Wanderson, também se especializou em medicina veterinária: “Pets têm medo de fogos quando não passam por um treinamento ou por situações de barulhos intensos durante os primeiros quatro meses de vida”, conta.

A frequência dos sons é medida em Hertz (Hz), e quanto maior a capacidade que um animal tem para ouvir, maior é a sua “faixa de audição”. Sendo assim, a faixa média dos cães equivale à 65.000 Hz, enquanto que gatos podem ouvir até mais – em alguns casos alcançam 100.000 Hz. “Nós humanos temos uma faixa de 20.000 Hz, então a audição dos animais é mais eficiente que a nossa”, destaca a veterinária.

Sensibilidade

Wanderson ressalta que os pets são mais sensíveis aos sons, de modo que um barulho, considerado alto aos ouvidos de um humano, são ainda mais intensos para cães e gatos. Alguns sons baixos, que pessoas não conseguem detectar, podem ser ouvidos pelos animais. “Eles têm uma sensibilidade maior”, avalia. O veterinário ainda afirma que o medo de barulho independe do porte ou raça do bicho: “Cães de guarda podem morrer de pavor dos fogos, enquanto que animais menores podem nem se importar com o barulho”.

O especialista alerta para a atenção aos riscos que o medo pode provocar à imunidade dos pets: “O estresse causado pode levar à queda de imunidade do animal, e isso aumenta as chances de se contrair doenças, como pneumonia e diarreia”. Kellen ainda ressalta que esse sentimento se intensifica na ausência do tutor, o que pode levar ao desenvolvimento de ansiedade. A médica veterinária conta que existem técnicas para diminuir a sensibilidade do pet ao som considerado hostil.

“Essa técnica nada mais é do que condicionar o animal a ouvir o ruído de modo suave, para que se acostume”, conta a veterinária. À medida que o pet reage positivamente aos estímulos, o som é aumentado até que, após ser condicionado a não ter medo, o cão ou gato não se assuste. Kellen afirma que essa técnica deve ser associada à outra, que permite ao animal desviar a atenção do sinal emitido para brincadeiras ou qualquer tipo de distração. Wanderson cita outras medidas, paliativas, que podem ser empregadas pelos donos para acalmar os animais.

Afeto e medo

“O bicho se sente mais seguro quando está junto do tutor, abraçado por ele”, conta o veterinário. Uma técnica que pode ser empregada para acalmar o pet, consiste em passar uma faixa de tecido elástico pelo pescoço do animal, o que pode simular um abraço. “Funciona como uma ilusão afetiva no animal”, afirma. O especialista acredita que levar o bicho para um local mais seguro e recluso no ambiente doméstico, como um quarto, e abraçá-lo, também colabora para tranquilizar o animal de estimação.

“Abraçar o bicho pode levá-lo a entender que o dono também está com medo”, discorda a esposa. A veterinária conta que dar conforto ao pet, como oferecer um petisco que ele goste ou brincar com o animal, são medidas  frequentemente sugeridas. Kellen também conta que os donos podem adquirir produtos que acalmam cães e gatos: “Feromônios estão disponíveis à venda, mas o uso dessas substâncias requer um tempo de antecedência entre 10 e 15 dias para ter efeito”.

Os veterinários ressaltam a importância dos donos conhecerem a linguagem corporal e os comportamentos dos pets, quando manifestam medo. “Eles tendem a assumir posição de submissão: se abaixar e colocar a cauda entre as pernas”, afirma Kellen. Para Wanderson, os donos podem perceber o medo quando os pets se escondem: “Eles ficam atrás de geladeira ou em baixo de camas, e costumam defecar e urinar quando sentem medo”. Os animais também podem tentar fugir, e a especialista destaca que muitos se machucam em portas ou vidraças. Além de fezes e urina, o vômito é outro indício do medo.

Pets

Tandara dos Reis, 24, é tutora de uma gata com 10 anos de idade, juntamente com dois filhotes dela. “A Peluda sempre deu muito trabalho quando ocorrem queimas de fogos – durante virada de ano, copa do mundo, finais de campeonato, e outros momentos”, afirma. Os pequenos também não gostam do barulho, e a dona conta que eles se escondem sob a cama. Uma técnica paliativa, defendida por Wanderson, é o uso de algodão nos ouvidos para minimizar os impactos da audição.

“Já tentei colocar algodão, mas eles acabam tirando”, lamenta a dona. Tandara destaca, como curiosidade, o fato dos pets preverem o momento de queima dos fogos: “Na última virada, eles começaram a se esconder na véspera da meia-noite, como se já estivessem se antecipando aos barulhos”. O veterinário complementa essa capacidade de prever o momento: “Muitas vezes quando são levados a um especialista, os pets associam o tratamento que recebem a algo doloroso e estressante, então é comum que eles se escondam antes de uma consulta ou de qualquer situação que entendam como desconfortável”.

Auxílio veterinário

Kellen Oliveira reforça a importância de se buscar ajuda profissional para tratar o medo dos cães e gatos. “Os médicos veterinários podem indicar especialistas em comportamento animal, além de treinamentos para tutores, e tratamentos medicamentosos à base de florais”, pontua. Wanderson ressalta que quanto antes se procura ajuda médica, com mais facilidade o problema é solucionado. O veterinário conta que a realização de exames como de sangue e ultrassom, para avaliar órgãos e estruturas internas, colaboram na detecção de problemas e facilitam a indicação de tratamentos.

O cuidador de pets destaca a importância da medicação, caso necessária, prescrita por um profissional veterinário. “Às vezes, um tutor chega até uma pet-shop e alguém sem habilitação recomenda um produto, o que pode ser muito perigoso”, avalia. O uso de compostos que podem ser utilizados tanto em humanos, quanto em animais, desperta o risco de super-dosagens que podem levar cães e gatos a óbito.

A especialista reforça que é importante acostumar o animal a diversos tipos de sons, logo nos primeiros meses de vida. “É importante apresentar barulhos de liquidificador, furadeira, tampas de panelas, secadores, aspiradores de pó, bombinhas, e outros que os animais de estimação possam ter contato ao longo da vida”, ressalta. Quanto ao dia-a-dia, é recomendado que pets com problemas cardíacos não sejam deixados sozinhos durante a queima de fogos – o que também pode levar à morte.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov. 

Veja Também