Funarte irá promover encontro de luthiers do Brasil

Os primeiros profissionais vieram junto com a imigração de italianos e alemães, mas a profissão só foi regulamentada pelo Ministério do Trabalho em 2002

Postado em: 05-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Os primeiros profissionais vieram junto com a imigração de italianos e alemães, mas a profissão só foi regulamentada pelo Ministério do Trabalho em 2002

Cortar, lixar e dar forma à madeira para construir um instrumento musical. Esta arte é conhecida mundialmente como lutheria e o profissional que trabalha com ela, luthier. No Brasil existem, atualmente, cerca de 500 luthiers espalhados pelo País. Os primeiros profissionais vieram junto com a imigração de italianos e alemães, mas a profissão só foi regulamentada pelo Ministério do Trabalho em 2002.

Com o objetivo de promover pesquisas sobre a lutheria e incentivar a criação de uma associação que represente e defenda os interesses do segmento, a Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), realizará, em março de 2018, um encontro com todos os luthiers do Brasil. O encontro será o terceiro promovido pelo Centro de Música da Funarte, por meio da Coordenação de Música de Concerto. Outros dois encontros sobre o tema foram realizados em 2017, no Rio de Janeiro. O primeiro, ocorrido em agosto, deu início ao mapeamento dos profissionais no estado. O segundo, realizado em dezembro, estendeu o mapeamento para luthiers de outras regiões.

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“O primeiro encontro serviu para fazermos uma aproximação destes profissionais, um levantamento de suas dificuldades, desafios, e uma troca de experiências sobre o trabalho e exercício da profissão”, explica o coordenador de Música e Concerto da Funarte, José Duarte Miller Schiller. Já no segundo encontro, a Funarte apresentou um modelo de estatuto no qual os luthiers poderão se basear para criar a sua associação.

Mapeamento 

“Além da criação da associação, do mapeamento da categoria, o 3º encontro pretende discutir a criação de um intercâmbio de informações, inicialmente por meio do portal da Funarte e depois pelo site da associação. Teremos uma pauta de proposta, contribuições, oficinas e cursos a partir das necessidades e objetivos da lutheria”, informa Schille.

Orlando Ramos Júnior, um dos profissionais que está à frente do movimento que defende a criação de uma associação, é luthier e também servidor da Coordenação de Música e Concerto da Funarte. Ele iniciou o aprendizado da arte da lutheria com o pai, Orlando Ramos, filho adotivo de um dos pioneiros da lutheria no Brasil, Guido Pascoli. Fez ainda o curso de Lutheria da Funarte durante cinco, anos com o próprio Guido Pascoli, e um estágio com o maestro Luca Belini, na cidade conhecida como berço da lutheria italiana, Cremona. Para Ramos Júnior, a associação ajudaria os luthiers brasileiros a extrapolarem os limites da fronteira nacional. “Poderíamos competir com o mercado externo, porque o nosso trabalho é digno de exportação”, defende.

Ramos Júnior atua na área de confecção e reforma de instrumentos e fabrica uma média de seis instrumentos por ano, entre violinos, viola de orquestra, violoncelo, contrabaixo acústico e violão. “Essa sempre foi minha única profissão e sustento minha família com o lucro da minha oficina”, afirma o luthier que cobra, em média, R$ 13 mil pela confecção de um violino. Ele defende ainda a criação de um Conselho regulador da profissão como forma de buscar a valorização e a divulgação da lutheria brasileira que, de acordo com ele é bem ampla.

Para Fernando Cardoso, outro ex-aluno do curso de Lutheria da Funarte, as principais dificuldades encontradas para exercer a profissão no Brasil são relacionadas aos impostos. “Muitas vezes, acaba sendo inviável fazer determinados trabalhos devido aos valores que temos que pagar pela importação, além dos que são pagos aqui”, afirma Cardoso, para quem o acesso ao material de trabalho, como madeiras, livros e ferramentas deveria ser facilitado. “Quase tudo tem que vir do exterior”, informa o luthier. (MinC) 

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