Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Navegar é preciso, e fazer cinema é preciso

Curtas vencedores de disputa goiana serão exibidos em cidade portuguesa na tarde desta terça-feira (6)

Postado em: 06-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Curtas vencedores de disputa goiana serão exibidos em cidade portuguesa na tarde desta terça-feira (6)

GUSTAVO MOTTA*

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Os curtas-metragens que venceram o GO Film Festival serão exibidos, nesta terça-feira (6), a partir das 14h (12h pelo horário de Brasília), no Cine-teatro da Academia IRF Almadense. A projeções fazem parte da exposição Ser Criador, organizada pelo Agrupamento de Escolas Franciso Simões, em Almada (Portugal). “Recebemos esse convite para apresentar produções vencedoras da nossa programação, e acredito que vamos ter uma experiência muito bacana”, destaca Cristiano Sousa, curador da mostra goiana. Juntamente com Americo Jones, o cineasta estabeleceu uma parceria luso-brasileira pela troca de experiências e conhecimentos.

“Após a exibição de todos os filmes, vamos contar com a realização de debates”, destaca. Todos os curtas foram realizados no âmbito do GO Film, que ocorre desde 2016. A programação do evento propõe a realização de trabalhos com até três minutos de duração ao longo de 24 horas. “Essa é uma oportunidade para quem nunca realizou algum produto audiovisual, mas quer aprender na prática”, afirma. A última edição contou com patrocínio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, Cinema Lumière e da empresa de propaganda Crispim+Veiga.

Exibição

Americo Jones espera que a exibição dos filmes pode enriquecer o conhecimento de estudantes e criadores do audiovisual. “Eu quero que o público perceba a capacidade de se comunicar uma ideia, uma emoção e um conceito num espaço de tempo tão curto”. Em 2017, Aurora foi vencedor do prêmio de Melhor Curta Internacional. “O diretor, Luciano Sazo, é irmão de uma aluna minha”, conta. O professor português continua: “Como estava a organizar uma exposição com meus alunos (Ser Criador) pensei em introduzir o cinema nas atividades paralelas à essa realização”, destaca.

“Falei com o Cristiano, e, de imediato, ele disponibilizou os curtas e toda a informação sobre o GO Film”, lembra. Cristiano Sousa conta que tanto a exposição quanto a última edição do Go Film tinham afinidades temáticas, o que facilitou a comunicação para se pensar um projeto luso-brasileiro. A exibição dos filmes deve acontecer com um caráter pedagógico, como destaca o educador lusitano: “Eu divulguei a iniciativa em várias escolas portuguesas, e espero que compareçam alunos, professores, e que todos possam disfrutar de um momento que é único na cultura das instituições de ensino – o debate com criadores de cinema”.

Vencedores

A programação do GO Film propõe um desafio para a produção ao longo um único dia. Entre as obras vencedoras, constam filmes de realizadores situados em várias localidades. “Tivemos o privilégio de receber pessoas de outras regiões, e até de fora do país”, comemora Cristiano. O organizador conta que a mostra em solo lusitano visa a incentivar os estudantes portugueses a também produzir conteúdo audiovisual:  “Às vezes, muitas pessoas querem produzir, mas têm medo, pelo desconhecimento de como fazer, ou pela falta de recursos”, pontua.

“Os debates após as exibições devem acontecer com as participações de Aline Willik e Lino Gomes”. A primeira fez parte do núcleo de pesquisa Vivace, e foi uma das vencedoras do festival em 2016 com Aurora, O que foi que você Fez?. A realizadora conta que o projeto a estimulou a trabalhar com cinema, sendo que, até o momento, a criadora audiovisual assinou três curtas. “Eu também tenho um longa, Uma Rosa e um Cartão, previsto para estrear em maio”, afirma. A diretora começou a carreira no jornalismo, e se apaixonou pela arte: “Eu já atuava como repórter de TV, mas descobri que quando se põe a mão na massa para criar imagens, é que se entende o fazer cinema”.

“Eu e o Lino vamos falar com vários estudantes sobre esse fazer cinema”. Lino Gomes compõe a equipe vencedora de Aurora, uma realização da ChalecoFilms, dirigida pelo português Luciano Sazo. Foi a realização do curta que proporcionou o contato luso-brasileiro, e a experiência de trabalho cinematográfico deve ser discutida ao longo da Ser Criador. “Essa é uma oportunidade para que goianos tenham visibilidade lá fora”, destaca Cristiano, a exemplo de Willik. A jovem cineasta co-dirigiu E se?, juntamente com Juliana Carvalho, exibido na última edição do GO Film. A produção foi assinada pela Aitäh Filmes, um projeto de residência mantido na Estônia. 

Visibilidade

Pedro Novaes é presidente da Associação de Produtoras Independentes de Cinema e TV de Goiás (GO Filmes), e destaca a importância de projetos dessa natureza. “Elas são fundamentais para dar visibilidade ao cinema feito no Estado, e para fomentar a circulação dos trabalhos produzidos aqui”, destaca. Aline Willik é exemplo da relevância de iniciativas como a do GO Film. Um dos curtas que a diretora está realizando se chama Mindthe Gap, rodado em Londres. Além disso, a realizadora já participou de júris em festivais na Itália e Brasil. “Também fui curadora, no Brasil, do Curta Canedo – Festival de Cinema de Senador Canedo”.

Novaes acredita que o acesso a um público internacional é parte fundamental na trajetória de uma produção, e o contato e realização de parcerias com pessoas de outras realidade pode auxiliar na capacitação de quem produz os filmes. “É em projetos como esse que se conhece outros realizadores, e se estabelece redes de comunicação entre profissionais da área”. O cineasta destaca que o mercado atual é muito competitivo e, muitas vezes, as obras têm dificuldades em alcançar um grande público. “Enfrentamos um gargalo na distribuição fílmica, porque as criações dos grandes estúdios competem de modo desigual com o produtor independente – por isso a importância dos festivais é tão grande”.

“Eles acabam sendo a principal janela para que títulosvariados alcancem um público amplo”, pontua. O presidente da Go Filmes avalia que exposições têm fomentado a produção local.Americo Jones, o curador e professor português que citamos no começo da matéria, destaca que as obras premiados no GO Film garantem uma experiência estética e técnica a jovens. O lusitano também destaca que“ver esses curtas realizados pelo nosso país-irmão é fundamental para abrir novos horizontes na compreensão de filmografias que estão excluídas dos grandes círculos de sucesso mainstream”.

GO Film

“Esse projeto mostra que é possível realizar curtas de qualidade, em pouco tempo e com baixo orçamento”, destaca Cristiano. O GO Film nasceu em 2016, e visa dar oportunidade a produtores que queriam realizar filmes com até três minutos de duração. A exibição de obras e premiação dos melhores trabalhos completa a programação do evento, e ocorrem sempre no Cinema Lumière do Shopping Bouganville, em Goiânia. No ano passado, a grande largada do desafio de se produzir em 24 horas começou em 21 de outubro, às 18h, com a divulgação de um tema proposto, além de objeto de cena e plano que precisariam ser executados. O tema da edição 2017 foi O Lado bom da Vida. Outras exigências do regulamento incluíram um plano que mostrasse um livro, e um close-up sobre um olho.

“A experiência em fazer o curta em 24 horas é um enorme desafio, bom para colocar em prática a sincronização da equipe, além de estimular a criatividade e nos ensinar a resolver imprevistos do tempo”, destaca Diogo Garcia, um dos vencedores da premiação. O curta Atravessa, da equipe Grua& Cia., da qual faz parte, recebeu uma Menção Honrosa na última edição do GO Film. O cineasta conta que participou duas vezes do evento, mas avalia como única a experiência do imediatismo, de se produzir em curtos espaços de tempo.“Apenas na primeira edição, em 2016, tivemos cerca de cem filmes produzidos”, comemora Cristiano. 

Aline Willik acredita que é importante destacar a relevância de uma iniciativa que permite a abertura da criação audiovisual para quem nunca atuou na área antes. “O GO Film é fundamental para estimular quem sempre quis produzir e teve boas ideias, bons roteiros, mas nunca foi incluído nesse meio – por ele ser muito fechado”. A diretora critica a postura de alguns projetos públicos de fomento à produção, por sempre apoiarem os mesmos realizadores, geralmente conceituados: “Isso muitas vezes desestimula as pessoas que querem começar e que, às vezes, se julgam pouco capacitadas”.

O cineasta Paulo Vespúcio preside o júri do festival, que premia em diversas categorias: Melhor Curta, Melhor Curta Goiano, Melhor Direção, Ator, Atriz, Roteiro e Melhor Curta Convencional. O público também elege um título para a categoria de Melhor Curta. Ficções, animações e documentários são os tipos de filme aceitos pelo regulamento. Cristiano Sousa destaca que o corpo de jurados sempre foi composto por especialistas em cinema, e profissionais com larga experiência na sétima arte. O coletivo é formado por Alex Amaral, Rosa Berardo, Almir Amorim, Luzi Amorim, Itamar Borges, Paulo Vespúcio e Pedro Sousa.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov 

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