De carona com os sonhos

A primeira aventura aconteceu no ano de 2016 quando Fred decidiu sair de Goiânia com destino a Florianópolis (SC) de carona

Postado em: 03-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A primeira aventura aconteceu no ano de 2016 quando Fred decidiu sair de Goiânia com destino a Florianópolis (SC) de carona

SABRINA MOURA*

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Até aonde você é capaz de ir para alcançar seus sonhos? Os empresários Frederico Linhares Silva, o Fred (25 anos), e Igor Franco Froes Arantes (24) saíram de carona em busca dos seus objetivos. A primeira aventura aconteceu no ano de 2016 quando Fred decidiu sair de Goiânia com destino a Florianópolis (SC) de carona. Na segunda viagem, Igor e Fred se aventuraram a chegar até São Paulo da mesma forma. 

A meta de ambos, nas próximas semanas, é chegar à Argentina. “Viajar de carona é aparentemente simples, só que, quando você está totalmente fora da sua zona de conforto, na estrada, sem o controle de nada, naquela dúvida se vai ou não conseguir a carona, pode haver um pequeno desespero no início”, conta Fred. 

*Integrante do programa de estágio de O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov 

Entrevista : Frederico Linhares e Igor Arantes  

Como começou essa história de viajar de carona?

(Fred) Na época, (outubro de 2016), eu realizava um projeto, com mais dois amigos, chamado Cinema Empreendedor. Nós visitávamos as escolas de Goiânia e Aparecida apresentando um documentário sobre empreendedorismo. Através das aulas que ministrávamos, sempre incentivávamos as crianças e adolescentes a ‘viver os sonhos’ através da oficina de cinema. 

Um dia, enquanto frequentávamos uma escola de desenvolvimento pessoal, um menininho chegou pra mim com a seguinte questão: ‘Tio, eu acho legal tudo isso que você faz, tudo o que você fala de empreendedorismo, de viver os sonhos, mas a gente não tem dinheiro… Como a gente vai fazer?’

Na hora, eu o incentivei, falei que ele não precisaria de dinheiro. Se ele tivesse uma visão clara dos seus objetivos, e começasse a falar para as pessoas, uma hora alguém o ajudaria. Só que foi uma resposta muito ‘da boca pra fora’, e eu fui pra casa pensando em uma maneira de mostrar, na prática, aquilo que eu tinha falado pra ele. 

Foi quando eu lembrei da minha vontade de viajar de carona, de amigos que também me falavam dessa vontade, só que não iam por medo e por falta de grana. Comecei a mapear, pelo Brasil, onde eu teria pessoas conhecidas que poderiam me dar um apoio ao chegar a cada cidade. Na época, eu tinha um amigo que morava em Florianópolis (SC) e havia me chamado para ir visitá-lo. Decidi pegar o projeto, no qual eu já trabalhava, e apresentar nas escolas pelas cidades em que eu iria passar, só que, para chegar até elas, eu iria de carona!

Como foi a preparação para a viajem?

(Fred) O primeiro passo foi conversar com alguns amigos e meus pais. A ideia inicial era ir sem grana nenhuma, ser algo extremo, do poder dos relacionamentos. Minha mãe já era acostumada com as loucuras, e, com o fato de ter o filho pelo mundo– pois eu já tinha viajado sozinho para a China –, seu único pedido foi para que eu levasse uma pequena quantia em dinheiro – estipulei R$ 15 por dia – para não passar fome nesse trajeto. (Igor) A grana do resgate (risos). 

O segundo passo foi mapear as cidades por onde passaria: Campinas (SP), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Itajaí (SC), Blumenau (SC) e Florianópolis (SC). Entrei em contato com meus amigos, com as escolas que poderia visitar, e pensei: ‘Vou’. Em um mês, mais ou menos, consegui me planejar. 

A magia aconteceu quando eu cheguei a São Paulo. Na verdade, eu já imaginava o que poderia acontecer quando você realmente traça um objetivo, tem uma mente clara e vai; é como se o universo conspirasse a favor. Quando cheguei a Campinas (SP), eu fiz uma publicação no Facebook onde eu contei a minha história e meus objetivos.  Essa publicação foi feita, à tarde, quando cheguei à casa do meu primeiro amigo. À noite, a publicação tinha muitas curtidas e muitos comentários de pessoas me apoiando, com mensagens do tipo: ‘Vem pra minha cidade, eu te ajudo’; ‘Se precisar de qualquer coisa em São Paulo, pode me chamar’… A galera foi literalmente foi abrindo suas casas para me receber.

Por eu ter ido sozinho, eu realmente estava focado. Passei por muito aprendizado, principalmente nos momentos de solidão (entre uma carona e outra). O mais incrível é que cada casa nova que eu conhecia as pessoas tinham um porquê especial do nosso encontro, um motivo além do meu autoconhecimento e da mensagem que eu procurava passar para as crianças. 

Como era a reação das crianças nas escolas em que você passava ao saberem como você tinha chegado até eles?

(Fred) Pelas escolas por que passei eu dei aula pra crianças de 6 a 8 anos (no começo), 13 a 14 anos e 16 a 17. Os pequenos são muito lúdicos, isso é muito bonitinho, escutei comentários como: “Ai, tio, você é muito doido, que legal!”. Eles acham mais graça da situação. Os mais jovens se sentem inspirados, a partir daí eu os motivava a ir atrás dessa coragem que eu tive. Depois de 23 dias, ao finalizar a viajem em Floripa, com minha meta cumprida de gastar só os R$ 15 por dia, minha realização pessoal foi muito grande. Uma viagem dessas te transforma.

Durante a viagem o que você viu de assustador e de bom também?

(Fred) Um primeiro momento tenso, foi quando eu precisei dormir na rua quando eu estava saindo de São Paulo rumo a Curitiba. Eu não consegui carona, pois os postos em que eu havia planejado parar não estavam mais em funcionamento. Foi quando eu tive que andar uns dez quilômetros, além da minha programação, a pé. Ao chegar ao lugar onde consegui me alimentar, quando conversei com o pessoal; eles me deram a dica que, ali, passavam muitos ônibus que iriam a Floripa. 

Enquanto eu aguardava pra tentar conversar com alguém, me deparei com um cara de bicicleta que me pediu comida. Fui sincero com ele, e expliquei que aquela comida que eu tinha era pra mais tarde, porém o pessoal do estabelecimento poderia ajudar. Ele conseguiu a marmita dele, e voltou para o meu lado. Quando me perguntou de onde eu estava vindo, contei minha história, e ele me disse que tinha saído do Rio de Janeiro rumo a Florianópolis de ‘bike’ (risos). Eu fiquei sem acreditar, e, a partir daí, vi que eu não poderia reclamar! 

Nada deu certo. Estava cada vez mais escuro, e eu tive de achar um lugar para dormir. Era muito perigoso, mas não perdi meu foco, vivi a experiência. Naquele dia, havia falado com a minha irmã, e afirmei que estava tudo bem, mas a realidade é que acabei dormindo num banco, no frio. Foi uma das noites que mais dormi mal, acordando de meia em meia hora.

Em um dos momentos, uns flanelinhas se aproximaram de mim, perguntaram sobre a minha história, e garantiram que eu não precisava sentir medo deles. Para falar a verdade, eu não estava com medo; era mais cansaço. Os frentistas do local me aconselharam a embarcar em um ônibus interestadual para um outro posto, pois ali era perigoso, e os caminhoneiros não paravam. Só que eu já tinha gastado minha grana do dia, e não poderia bancar aquela passagem (R$ 5) bem no começo do dia.

Fiquei no ponto esperando na esperança de o motorista do ônibus me deixar passar. Enquanto aguardava, o mesmo flanelinha que tinha conversado comigo chegou e ficou do meu lado. Ele me disse que, geralmente, os motoristas deixavam entrar. Foi aí que ele me surpreendeu com a seguinte frase: “Poxa, eu gostei de você, da sua sinceridade lá atrás. Eu trabalhei lá em São Paulo, e estou com um dinheiro. Quando o ônibus chegar, não se preocupa, não; eu vou pagar pra você!”. Quando ele falou isso, eu não acreditei, e percebi que as coisas realmente conspiravam a favor dos sonhos. Foi uma sensação muito prazerosa! Essas foram algumas das histórias marcantes daqueles 23 dias. 

Vocês (Igor e Fred) já se conheciam? Como vocês começaram a viajar? E como foi a experiência juntos?

(Igor) Eu conhecia o Fred há mais de 5 anos. Por conta do destino, nos afastamos, mas sempre estávamos acompanhando um ao outro. Em uma dessas idas e vindas, ele me contou essa história da viagem, e eu disse que, na próxima, eu queria estar junto.  A segunda viagem começou a dar certo graças a um evento que eu teria em São Paulo em novembro (de 2017). Já tinha os ingressos na mão e a vontade de levar o Fred comigo para o evento, justamente para ele conhecer e entender o mais do meu meio. Ele topou a experiência, e decidimos ir de carona.

Saímos duas semanas antes do evento. Eu, de certa forma, já fui mais acomodado, porque o Fred já tinha passado pela experiência e já tinha todos os contatos daquele caminho. Só que, como sempre, tinha que ter algumas barreiras: aonde iríamos sair tinha uns oito caminhões que saíam todos os dias do lugar. Confiamos em uma informação de 2016, e fomos confiantes que daria certo. No dia da viagem, chegamos ao posto dois minutos atrasados e descobrimos que só saíram dois caminhões por dia, onde, antes, saiam oito –  caminhões estes que já tínhamos perdido.

Passamos por muitos momentos de desistência. O Fred, por já ter tido a experiência, me acalmou e me disse: “Estamos saindo, antes, justamente porque tudo pode acontecer no caminho”. 

Às 17h e pouca evolução, nos deparamos com o trigésimo primeiro caminhão. Foi aí que o caminhoneiro disse que aquele era o nosso dia de sorte: ele estava indo para Marília (SP) e conseguiria nos deixar em São José do Rio Preto (SP), a 300 quilômetros de São Paulo – pra quem nem tinha saído do Estado de Goiás! Cada viajem tem sua história e suas surpresas. Nessa viagem, o nossa lema era ‘paciência, persistência e nunca desistir’!

Por que vocês querem ir à Argentina?

(Igor) Nessa nova aventura, nada está muito programado. Vamos em busca de expandir o mercado da empresa que eu represento hoje. Além de expandir, enxergamos a oportunidade de pisar em um país latino-americano e superar a barreira dos nossos medos com uma distância maior. Essa experiência e vivência são o que nos move. Vamos pôr, nessa viagem, as experiências das de 2016 e 2017, novamente visitando escolas e mostrando o poder dos relacionamentos! 

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