Complexo Cultural Bumba meu boi pode se tornar Patrimônio Cultur

O primeiro passo para o reconhecimento internacional concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) será dado nesta quinta-feira (5)

Postado em: 05-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O primeiro passo para o reconhecimento internacional concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) será dado nesta quinta-feira (5)

Além de ser uma brincadeira daquelas boas de participar ou assistir, o Bumba meu boi, presente em todo o estado do Maranhão, é também um complexo ritualístico que envolve formas de expressão musical, coreográfica, cênica, plástica e lúdica. Considerado Patrimônio Cultural do Brasil desde 2011 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), o Complexo Cultural do Bumba meu boi pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 

O primeiro passo para o reconhecimento internacional concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) será dado nesta quinta-feira (5), com a entrega do dossiê de candidatura do bem cultural ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). 

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Segundo a secretária-executiva do MinC, Mariana Ribas, que representará o ministro Sérgio Sá Leitão na cerimônia, a previsão é que o Comitê do Patrimônio Imaterial decida sobre a inserção do bem brasileiro na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade já em 2019. “Esperamos que toda a magnitude do Bumba meu boi também receba o reconhecimento internacional”, afirmou. 

O caminho percorrido para se chegar a esta etapa teve início ainda em agosto de 2011 – logo após o reconhecimento nacional, quando o Comitê Gestor do Complexo Cultural do Bumba meu boi passou a construir e implementar o Plano de Salvaguarda da celebração. Em 2012, o Comitê solicitou ao Iphan que fosse preparada a candidatura do Bumba meu boi para a Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 

“Esse trabalho é resultado de uma estreita parceria com a comunidade, pesquisadores, gestores estaduais e municipais que compreendem o potencial desse bem cultural não apenas como uma legítima manifestação cultural, mas também como um vetor de desenvolvimento econômico e social”, ressalta a presidente do Iphan, Kátia Bogea.

O Complexo Cultural do Bumba meu boi está presente em todo o estado do Maranhão, dividido em cinco principais estilos conhecidos como sotaques: Matraca, Orquestra, Zabumba, Baixada e Costa-de-mão. Contabiliza-se mais de 400 grupos, localizados nas zonas urbana e rural de São Luís e em pelo menos 75 municípios do estado. 

Para Claudia Regina, que vivencia desde menina a brincadeira, e hoje dança como vaqueira no Boi de Leonardo do sotaque de Zambumba, a possibilidade do reconhecimento internacional vem fortalecer ainda mais a manifestação cultural ao divulgá-la para o mundo. “Meu pai, Leonardo Martins Santos, fundou em 1956 um grupo de Boi atuante até hoje e que carrega seu nome. Então é uma alegria imensa que um bem cultural do Maranhão seja candidato a um título internacional”.

Participar da manifestação extrapola a ideia de ser parte de um grupo. Para além da unidade mais estreitamente ligada às celebrações do Boi, os praticantes se identificam como uma grande comunidade boieira, comungando a mesma visão de mundo que envolve religiosidade católica, cultos de matriz africana de diversas tradições, crenças e ritos. É o que explica o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz. “Para os participantes, integrar o Bumba meu boi é motivo de orgulho e devoção, de modo que há quem traduza seu compromisso com o Boi comparando-o a uma religião”.

Ainda que existam formas de expressão similares ao Bumba meu boi em outros estados brasileiros, no Maranhão o elemento se diferencia justamente por se constituir num complexo cultural, que compreende uma variedade de estilos, multiplicidade de grupos e, principalmente, porque estabelece uma relação intrínseca entre a fé, a festa e a arte, fundamentada na devoção aos santos católicos juninos, nas crenças em divindades de cultos de matriz africana e na cosmogonia e lendas da região. O Dossiê de candidatura destaca que a manifestação cultural, portadora de uma carga simbólica que reproduz o ciclo vital (nascimento, vida e morte), é uma metáfora da própria existência humana.

Titulação internacional

O primeiro passo para que o Patrimônio Cultural do Brasil obtenha o reconhecimento internacional é a solicitação da comunidade ao Iphan para que o bem seja inscrito na lista representativa da Unesco a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A partir de então, o pedido é apresentado pelo Iphan para avaliação ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e, tendo a anuência, é feito um levantamento completo sobre os aspectos relevantes do bem cultural, legitimando sua importância para a humanidade. É feito um dossiê, entregue pelo MRE à Unesco, que será analisado pelo organismo internacional durante reunião do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda. 

O Brasil já possui cinco bens reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: a Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), o Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e a Roda de Capoeira (2014). 

A Celebração

O Bumba meu boi é uma festa tradicional, na qual a figura do boi é o elemento central. Porém, por reunir outras expressões culturais, se configura num complexo cultural que extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração. Nela o centro gravitacional é o boi, o ciclo vital e o universo místico-religioso. 

O Bumba meu boi é vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano, sendo que as apresentações ocorrem em todo o Maranhão e concentram-se durante os festejos juninos. Seu ciclo festivo e de apresentações pode ser apreendido em quatro etapas: os ensaios, o batizado do boi, as apresentações e a morte. O bem foi registrado como Patrimônio Cultural do Brasil, sendo inscrito no Livro de Registro de Celebrações, em 30 de agosto de 2011. (Fontes: Iphan/MinC)

SERVIÇO

Quando: quinta-feira (5 de abril) às 11h

Onde: Sede do Iphan 

Endereço: Seps – Quadra 713/913, Bloco D, Edifício Iphan – Brasília DF 

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