‘Julgamento de Sócrates’, com Tonico Pereira, chega a Goiânia

A peça comemora os 50 anos de carreira do ator que, pela primeira vez, faz um monólogo. Em Goiânia, a peça será apresentada no Teatro Sesi

Postado em: 07-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A peça comemora os 50 anos de carreira do ator que, pela primeira vez, faz um monólogo. Em Goiânia, a peça será apresentada no Teatro Sesi

SABRINA MOURA*

O Julgamento de Sócrates é uma livre adaptação de Apologia de Sócrates, de Platão, realizada pelo premiado autor Ivan Fernandes, em forma de monólogo, com o ator Tonico Pereira no papel título. A peça comemora os 50 anos de carreira do ator que, pela primeira vez, faz um monólogo. Em Goiânia, a peça será apresentada no Teatro Sesi, nestes dias 7 (sábado) e 8 (domingo) de abril.

O espetáculo dramatiza a defesa de Sócrates no julgamento que o condenou à morte por envenenamento. É talvez o primeiro grande caso na história da humanidade de um homem ser condenado por ter ideias diferentes do estabelecido pela sociedade. Por meio desse caso, a peça debate a liberdade de expressão e o pensamento no mundo contemporâneo.

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O espetáculo, formalmente, é simples. No palco, Sócrates sozinho, em figurino neutro e atemporal, defende perante a plateia de “espectadores-jurados” não apenas suas ideias, mas sobretudo o direito de tê-las; defende a necessidade de examinar a vida do ponto de vista ético e a busca pela sabedoria, e não pela satisfação material. E são nesses conteúdos que reside a grande força do espetáculo, dada a imensa relevância de suas palavras para o momento em que vivemos.

Em circuito nacional, O Julgamento de Sócrates está sendo sucesso de público e crítica desde o ano passado, quando estreou. No palco, o ator põe em evidência toda sua intensidade, característica já conhecida daqueles que acompanham sua carreira.

Sócrates, um personagem crucial, exige um ator de talento e currículo indiscutível, como Tonico Pereira. Comemorando 50 anos de carreira no teatro, no cinema e na televisão, Tonico tem neste primeiro monólogo da carreira uma verdadeira tour-de-force, conversando e levando a plateia com a intimidade de um grande artista.

Sinopse

Diante de um tribunal popular – a plateia – Sócrates, interpretado por Tonico Pereira, defende-se das acusações que lhe são feitas: ter ideias diferentes do estabelecido pela sociedade e pela religião (como o livre pensamento e a busca pelo conhecimento), corrompendo a juventude com essas ideias. O espetáculo é dividido em três partes: na primeira, Sócrates faz sua defesa; na segunda, após a condenação, Sócrates tem o direito de propor uma pena alternativa, mas se nega a fixar uma pena para si mesmo, pois isso seria reconhecer alguma culpa; e, finalmente, após a condenação final, ele diz suas últimas palavras para a sociedade que o condenou, prevendo tempos duros para Atenas e para todas as sociedades posteriores.

Carreira

Antônio Carlos de Sousa Pereira, conhecido como Tonico Pereira, é natural de Campos dos Goytacazes, um município no interior do Rio de Janeiro. Suas primeiras experiências como ator foram no Grupo Laboratório de Teatro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1968. Sua imagem se popularizou com o personagem Zé Carneiro, no seriado de televisão infantil Sítio do Pica-Pau Amarelo, entre 1977 e 1985.

Tonico interpretou papéis cômicos no teatro, como o Harpagão, de Molière, e o Bobo Feste, de Shakespeare. Nos palcos, Tonico Pereira transita da comicidade popular à tragicidade patética. De 2002 a 2014, integrou o elenco de A Grande Família, da Rede Globo, vivendo o hilariante Mendonça. O que era apenas uma participação se tornou 13 anos como parte do elenco. 

Em 2010, foi lançada a sua biografia Tonico Pereira – Um Ator Improvável, na Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. O ator foi homenageado com a Medalha Pedro Ernesto, a mais importante comenda da cidade do Rio de Janeiro. Com carreira consagrada, o que poucos imaginam é que ele já foi dono de bar, de uma peixaria, proprietário de uma agência de carros. Atualmente, o ator é dono de uma pequena loja, no bairro do Botafogo, que estampa camisetas e canecas com frases de sua autoria.

Na TV, um dos personagens mais importantes que ele interpretou foi na novela A Regra do Jogo, em 2015, e em A Força do Querer no ano 2017. Tonico é casado com a bailarina e coreógrafa Marina Salomão, com quem tem dois filhos: os gêmeos Antônio Nicolau e Nina Sofia. Tonico também é pai de de Daniela e Thaia, filhas de seu primeiro casamento com Eliane Pereira. Confira, abaixo, a entrevista que Tonico Pereira concedeu ao Essência.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

SERVIÇO

‘O Julgamento de Sócrates’

Onde: Teatro Sesi (Av. João Leite, nº 1.013, Santa Genoveva – Goiânia)

Quando: 7 de abril (sábado) às 21h; 8 de abril (domingo) às 20h

Mais informações: (62) 3269-0800

www.compreingressos.com e 4052-0016 

Entrevista : TONICO PEREIRA 

Como é interpretar Sócrates? Como foi feita a preparação para o personagem?

A preparação para interpretar Sócrates foi a observação diária da vida. Meu estudo sempre foi a vida que passava por mim, eu observando atentamente, e, assim, criando meus pensamentos. O julgamento dele é algo a se pensar muito, pois foi condenado por ensinar os jovens a pensar, a questionar, e também por não concordar com regras estabelecidas pela sociedade, e isso tudo é muito próximo do que vivemos hoje.

Pelos lugares onde você já se apresentou, como tem sido o retorno do público, já que eles são os espectadores-jurados?

Cada público tem sua peculiaridade, mas vejo que todos observam atentamente à defesa de Sócrates. E o que mais me importa em fazer este espetáculo é ver o público se questionando, refletindo sobre o País, sobre suas vidas e seus deveres e direitos como cidadãos. Na votação que decide se Sócrates deve ser condenado ou absolvido, todo mundo sempre votou por sua absolvição. Vamos ver como será a partir de agora. Se alguém votar a favor de sua condenação, tudo bem, afinal, é democracia.

Na sua opinião, qual a importância de Sócrates e seus pensamentos diferentes dos da sociedade e da religião?

Sócrates é um homem comum que fala do homem comum. Não tem glamour. Ele defende a discussão de ideias, a troca de pensamentos, o ensino aos jovens e a liberdade, seja na religião, no amor, na política. Acho que essa é sua importância.

Como é estar no primeiro monólogo de sua carreira?

Eu me sinto um privilegiado na profissão. Muito tempo fazendo o que amo e faço para sobreviver, e são 50 anos de carreira ininterruptas e trabalhando o tempo todo. É excelente eu ter tido 50 anos não só de carreira, mas de trabalho. Agora, eu não decidi fazer monólogo: decidiram por mim (risos)! Fui convidado pelo diretor e pelo produtor, e me encantei pela ideia com muito vigor e consciência. Não partiu de mim a decisão inicial, mesmo me sentindo dono do projeto. E, mesmo fazendo monólogo, eu nunca estou sozinho em cena: tenho o público que me acompanha e participa do espetáculo o tempo todo. 

Qual a mensagem que a peça procura passar para o público?

Eu sempre espero que o público curta, discuta e reflita sobre o texto, sobre os tempos que vivemos hoje e sobre a vida. Eu não me preocupo muito com ‘mensagens que quero passar’, mesmo porque me colocaria numa situação superior ao público, e não é essa minha intenção. E, sim, propiciar a discussão de ideias, a reflexão. É isso que eu proponho ao público: refletir sobre o que Sócrates fala, sobre o Platão apresenta, e também sobre minhas opiniões, que ficam evidentes no espetáculo. O espetáculo propõe situações democraticamente, apresentando ideias sem querer dizer uma verdade única.

Qual sua expectativa para as apresentações em Goiânia? Você já apresentou na Capital?

Estou muito ansioso com as apresentações em Goiânia. Minhas lembranças em Goiás são de trabalho. Já fiz um filme em Goiânia e, recentemente, em Pirenópolis. E tenho um amigo maravilhoso que é o Stepan Nercessian.

Por que a peça foi a escolhida para comemorar seus 50 anos de carreira?

Não teria personagem melhor pra comemorar 50 anos de carreira. Sócrates está muito perto da minha existência, desde a minha infância, desde a minha formação oralística. Eu nunca me detive estudando alguém especificamente. Não sou formado academicamente. Sócrates também nunca escreveu nada. Há quem diga que ele é um personagem, pois não deixou nada escrito. Assim como ele, minha formação é pelo dia a dia, pelas experiências, pela observação. O espetáculo fala de Sócrates, um homem comum. Fala também de mim e dos Sócrates que tive em minha vida, como um sapateiro e um professor de teatro. Fala dos homens comuns.

Como foi feita a adaptação para a peça da ‘Apologia de Sócrates’? O que foi modificado?

Além da adaptação feita pelo diretor Ivan Fernandes, fizemos diversas leituras e debates sobre o texto. Por se tratar de um tema universal e atemporal, daria até para fazer sem muitas adaptações. Mas optamos em aproximar dos dias de hoje com algumas citações atuais. Em determinado momento, eu cito um pensador ‘mais importante que eu’, e canto um trecho de Raul Seixas, por exemplo. 

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