“O tempo não apaga o que nos arde na alma”

Com 50 anos de carreira, Toquinho sobe ao palco do ‘Música no Campus’ com participação de Camilla Faustino

Postado em: 10-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: “O tempo não apaga o que nos arde na alma”
Com 50 anos de carreira, Toquinho sobe ao palco do ‘Música no Campus’ com participação de Camilla Faustino

GABRIELLA STARNECK*

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O cantor Toquinho se apresenta, nesta terça-feira (10), ao lado da goiana Camilla Faustino no Centro de Cultura e Eventos Prof. Ricardo Freua Bufáiçal, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Samambaia. A apresentação dos artista abre a Temporada 2018 do projeto Música no Campus, que tem levado uma série de cantores renomados à Universidade. 

Toquinho falou ao Essência sobre a importância de fazer um show dentro de um espaço acadêmico: “Aprendi a me relacionar com jovens estudantes desde os circuitos universitários que inauguramos na década de 1970– Vinicius de Moraes e eu, saindo por todo o País e sentindo a pulsação emocional dessa juventude diante da boa música. Representa sempre uma renovação de experiências tocar e cantar para esse público, seja qual for a época”.

‘Música no Campus’

De acordo com o site da UFG, o projeto tem o intuito de “valorizar e difundir a música brasileira em sua diversidade, trazendo nomes de reconhecida excelência no meio musical, promovendo a aproximação da Universidade e Sociedade”. No ano passado, grandes cantores da música brasileira passaram pelo Música no Campus, como Zeca Baileiro, Maria Rita e Lenine. 

O projeto visa ainda, a compartilhar experiências por meio da aproximação dos músicos com estudantes e profissionais por meio das ‘conversas’ realizadas no Teatro da Escola de Música e Artes Cênicas – além de contribuir para a formação de público e inclusão sociocultural de estudantes das escolas públicas da cidade de Goiânia. Toquinho, ao ser questionado sobre o Música no Campus, afirmou: “Todo projeto que aproxima o artista do público é importante. Há uma identificação que provoca energia, vibração que só a música provoca”.

Toquinho 

Antonio Pecci Filho, mais conhecido como Toquinho, nasceu em São Paulo em 1946. O cantor, compositor e violonista brasileiro foi apelidado dessa forma ainda na infância – já que sua mãe o chamava de “meu toquinho de gente”.  Seu interesse pela área musical começou muito cedo, tanto que, aos 14 anos, Toquinho já tinha aula com Paulinho Nogueira – que o introduziu no caminho do violão, que compreende a descoberta da passagem do acompanhamento para o solo. Desde essa época, o interesse do cantor pela Música Popular Brasileira surgiu, e foi exatamente nesse estilo musical que Toquinho seguiu carreira, embora tenha passado pela bossa nova e pelo samba.

Não somente no início de sua trajetória, mas ao longo desses 50 anos de carreira, o artista firmou importantes parcerias na área musical. Suas primeiras canções foram criadas juntamente com Vitor Martins (Belinha); Chico Buarque, (Lua cheia, Samba de Orly e Samba pra Vinicius); Paulo Vanzolini (Boca da Noite, Noite longa e No fim não de perde nada) e JorgeBen (Que maravilha e Zana). Contudo seu maior parceiro evidentemente foi Vinicius de Moraes. Ao longo desses 50 anos de trajetória musical, Toquinho também teve outros parceiros importantes, como Camilla Faustino – com quem vai se apresentar nesta terça. 

E, para falar mais sobre a sua carreira, parcerias e apresentação na Capital, Toquinho realizou um bate-papo com o Essência. Confira abaixo. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

Show com Toquinho e Camilla Faustino 

Quando: terça-feira (10)

Horário: 20h30

Onde: Centro de Cultura e Eventos da UFG – Campus Samambaia (Av. Esperança, s/nº, Vila Itatiaia – Goiânia)

Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) 

Entrevista: Toquinho 

Conte-nos um pouco sobre esses 50 anos de carreira.

Creio mesmo que são 50 anos especiais! A vida me deu oportunidades para desenvolver meu talento como instrumentista, compositor e intérprete, colocando em meu caminho pessoas que me ajudaram a me aperfeiçoar a cada estágio do percurso. Perdura a sensação de uma constante renovação e de um contínuo aprimoramento. Cada ano robustece o seguinte, e as décadas se diluem na descoberta de técnicas novas e na extensão do vigor ampliado pelas conquistas e pelos sucessos. O tempo não apaga o que nos arde na alma. E a música será sempre uma chama a aquecer minha dedicação ao violão. Estudo todos os dias na procura de novos temas e harmonias. Amo fazer o que faço; o palco é a extensão de minha casa. Nele, sou simples e íntimo da plateia. Há apenas uma diferença entre aquele jovem do Teatro Paramount e o Toquinho de hoje: a experiência dos 50 anos de carreira. O que conspira para viver ainda o destemor de muitas vezes repetir os caprichos e a obstinação da juventude. E o maior trunfo é o reconhecimento popular, sempre renovado. Se perceber que deixei de fazer alguma coisa, tentarei fazer daqui para frente. Sempre é tempo de realizar ou refazer. E de comemorar!

Quais momentos você destaca como mais marcantes ao longo dessa trajetória?

Em mais de 50 anos de trajetória artística, evidentemente que acontecem fatos e circunstâncias que ficam cicatrizados por emoções maiores. A emoção dos primeiros discos, a atuação em shows memoráveis como aquele do Canecão do Rio de Janeiro, em 1977, com Miúcha, Jobim, Vinicius e eu; o show dos 10 Anos de Parceria com Vinicius; o sucesso estrondoso de Aquarela, que me consolidou como artista internacional; o enorme prazer de ter dividido o palco com Andrea Bocelli, em sua terra natal, Lajatico, na Itália; a homenagem que irei receber dois dias depois deste show na Embaixada Italiana de Brasília, e muitos outros que o tempo dilui, mas ficam registrados nas gavetas da memória. E o fato mais triste talvez tenha sido a morte de Vinicius, pelas circunstâncias em que aconteceu, eu, ao lado dele, impotente diante daquela verdade inexorável!

Durante sua carreira, você fez importantes parcerias com outros cantores. Como você avalia essa experiência?

Além de dividir o palco com amigos de tantos anos que mantêm a mesma tendência musical – como Ivan Lins, João Bosco, MPB4, dentre outros –, fico sempre atento aos novos talentos que demonstram qualidade para se sustentar artisticamente. Meus shows são a prova disso, mostrando sempre uma renovação de cantoras ao meu lado. Algumas que já não são novatas, mas que convidei para trabalhar comigo logo que surgiram, como Tiê, Veronica Ferriani e Anna Setton, e mais recentemente Camilla Faustino. Quando há equilíbrio vocal e artístico, as parcerias sempre valorizam o conteúdo musical.

É perceptível que as parcerias musicais estão ganhando força novamente no meio musical. Como você avalia isso?

É necessário estar atento a tudo que se relaciona com a MPB. O momento é de transição, que, aliás, tem se prolongado demais. Mas o dinamismo da Música Popular Brasileira tem essa característica. De repente, surgem talentos que perduram e se consolidam, como tem acontecido ao longo dos tempos. E o caminho atual em sido as parcerias.

Ainda falando sobre as parcerias, você irá fazer, em breve, uma turnê na Europa com a goiana Camilla Faustino. Como é subir ao palco junto a ela nesse momento que antecede a turnê?

Desde minha parceria com Vinicius, a presença feminina tornou-se marcante nos shows. É importante manter novos talentos e usufruir de suas capacidades de renovação. Além de tudo, valorizam o espetáculo com sua graciosidade e fluência de palco. Principalmente quando há a sincronia natural de vozes e amizade. Tenho trabalhado ao lado de intérpretes que se ajustam às minhas características musicais apesar do noviciado profissional, e Camila Faustino é um dos exemplos dessas experiências. Basta garimpar e surgem preciosidades. Como surgiu Camila, despontando nos palcos dos programas de TV, atração para os observadores mais atentos. Nossos shows já se tornaram uma rotina prazerosa que se repete a cada apresentação. 

Você já esteve outras vezes em Goiânia. Qual sua relação com a cidade?

Goiânia é plena de espaços grandes e planos, evidenciando uma atmosfera de liberdade acalentada pelo calor humano que parece emergir do próprio clima e que atinge o público na atenção e no carinho com que sempre me recebe. E eu agradeço e retribuo com meu desempenho.

Como está o repertório da noite de hoje? O que o público pode esperar? 

Uma sequência de sucessos com vários parceiros retratando fases de minha carreira. Alguns solos de violão, homenagens a músicos que marcaram minha trajetória musical, casos que gosto de contar, e a participação especial de Camilla Faustino, enfeitando o espetáculo com sua graça e qualidade vocal.

Camilla Faustino se apresenta ao lado de Toquinho em Goiânia 

“Estou nervosa, o que só acontece quando a circunstância é, de fato, significativa” 

GABRIELLA STARNECK*

Camilla Faustino nasceu em Goiânia, e, embora cantasse desde os 4 anos de idade, decidiu que seria cantora, aos 12 anos, após ter seu primeiro contato com a televisão, quando participou do programa Gente Inocente, da Rede Globo – o que lhe rendeu contrato de um ano na emissora. Depois de dois anos, quando conheceu um grupo de chorinho e samba e passou a cantar em eventos fechados e bares, Camilla definiu sua preferência pela MPB.  Um dos marcos na carreira da artista veio, em 2016, quando, sem muitas expectativas, inscreveu-se no quadro Quem Sabe Canta, do Programa Raul Gil. Na ocasião, ela levou o prêmio e o título de campeã da primeira temporada, além de ter conhecido Toquinho – que a convidou para participar em um show dele na Colômbia. 

Esse foi o primeiro passo para que a cantora viesse a firmar uma parceria consolidada com Toquinho. Inclusive, além da apresentação – que eles irão realizar em Goiânia nesta terça (10) –, Toquinho e Camilla Faustino já fizerem, juntos, vários shows e farão uma turnê, em breve, na Europa. 

E, para falar um pouco mais sobre sua carreira, parceria com Toquinho e expectativa para a apresentação na sua cidade natal, Camilla concedeu uma entrevista ao Essência. Confira ao lado. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora 

Flávia Popov

 

Entrevista: Camilla Faustino 

Como surgiu sua parceria com o Toquinho?

Fomos apresentados nos bastidores do Programa Raul Gil pelo Maurício Mattar, que era um dos jurados. Toquinho foi como atração musical, e eu me apresentava como candidata. Uma semana depois de me conhecer e assistir a vídeos meus no Youtube, ele me ligou para fazermos uma estreia na Colômbia. De lá pra cá, somam-se quase dois anos de nossa parceria nos palcos.

Qual a importância que ele tem na sua carreira?

Além de catapultar minha imagem dentro e fora do País, uma vez que faço cerca de 30% do show dele com ele, ele me ensina muito e me lapida. Ele tem e teve experiências e convívio com os maiores nomes da música brasileira – e até internacional – me repassando todas essas histórias e lições no dia a dia.

Qual a expectativa de se apresentar ao lado de Toquinho na sua cidade natal?

Estou nervosa, o que só acontece quando a circunstância é de fato significativa. Assisti ao primeiro show do Toquinho por volta dos meus 12 anos em Goiânia. Tantos anos depois, voltar a estar em um show dele, mas agora com a perspectiva dele, sobre o palco, e cantando para um público que também é meu, é algo mágico! 

Em breve vocês farão uma turnê na Europa. Qual a sensação, a expectativa?

Faremos shows onde Toquinho já tem bastante respeito e nome de peso, portanto não apenas faremos shows na Europa, como nos apresentaremos para personalidades importantes e celebridades do cenário cultural mundial, nesse caso, a expectativa dobra de tamanho. É a primeira vez que visito a Europa, e com todo esse privilégio! Estou empolgada e ansiosa!!! 

Qual momento você destaca como mais marcante ao longo da sua carreira?

O marco da minha carreira foi, aos 11 anos, quando participei do programa musical Gente Inocente,  na Rede Globo (em 2001), onde fiquei por cerca de um ano. Foi ali que tomei a música como profissão, embora já cantasse para o público desde os 5. Por isso mesmo, cantar sempre foi algo natural como brincar; não via como profissão. Depois disso, fiz apresentações em bares, eventos, festas, incluindo o casamento do cantor sertanejo Jorge, da dupla com Matheus, e eventos políticos com a presença do presidente à época. Tudo isso contribuiu ainda mais na lapidação e formação da minha identidade no palco. Em 2013, assinei um contrato com o cantor Leonardo, na empresa Talismã, onde compus o casting artístico por três anos. Em seguida, fui convidada a participar do quadro musical do Programa Raul Gil com 60 participantes concorrendo ao prêmio de 50 mil reais. Me apresentei, durante seis meses, até me sagrar campeã no início de 2017. Nesse meio tempo, conheci Toquinho, e iniciamos uma parceria em shows que já dura dois anos. Além disso, minha carreira, hoje, é gerida por uma das maiores figuras das gravadoras e multinacionais no Brasil, chamado Marcos Maynard. 

Foto: Rafael Ferreira 

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