Precisamos falar sobre “Crazy Ex-Girlfriend”

Série que terminou em 2019 ainda é uma das melhores sátiras musicais disponíveis

Postado em: 08-03-2023 às 20h47
Por: Luan Monteiro
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Série que terminou em 2019 ainda é uma das melhores sátiras musicais disponíveis. | Foto: Reprodução

“Crazy Ex-Girlfriend” ou “Ex-namorada louca”, em tradução livre, é uma das melhores sátiras lançadas para a TV nas últimas décadas. A série, que teve seu primeiro episódio em outubro de 2014 e chegou ao fim em abril de 2019, é um dos maiores exemplos de que se é possível fazer humor inteligente e sarcástico utilizando um tema polêmico.

Disponível na Netflix, a série é uma comédia-dramática-musical, eu sei que são muitos termos para definir algo, mas é isso e muito mais. A trama é focada em Rebecca Bunch (Rachel Bloom) que deixa sua vida em Nova York para se mudar para o interior da California tentando reatar com a pessoa que ela namorou por um mês há dez anos atrás. Ela realmente é “the Crazy Ex-Girlfriend”.

Para definir a série é necessário falar sobre o que é uma sátira. A sátira é diferente dos outros tipos de comédia. O que torna esse gênero especial não é o conteúdo, mas sim a intenção. É falar sobre algo sério de forma divertida, é nos confrontar com a verdade sobre os problemas da sociedade. E isso é a premissa da série por um todo.

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Já no início vemos uma Rebecca vulnerável, vivendo a base de remédios e, quando ela aleatoriamente vê seu ex-namorado Josh Chan (Vincent Rodriguez III), ela convence a si própria que mudar para West Covina, a apenas 2 horas da praia, é uma busca pela felicidade e amor verdadeiro.

Porém, ela mal conhece Josh, eles namoraram durante um verão 10 anos atrás. Rebecca, na verdade, está buscando a ideia de um conto de fadas. Ela acredita que o destino irá salvá-la se ela acreditar nele o suficiente. Mesmo com seus instintos GRITANDO que isso é uma péssima ideia, nossa protagonista mantém esse caminho insano.

Tudo isso enfatiza o absurdo do gênero. Vendo as escolhas de Rebecca, é impossível que incentivamos alguém a ir pelo caminho que ela está trilhando. Todas as ações de Rebecca são dignas de vergonha alheia por várias razões. Ela é totalmente obcecada por sua missão, não importa a quão errada ela seja.

Rebecca não consegue deixar de seguir esse caminho de forma alguma. E é aí que as músicas entram. Os personagens da série começam a cantar músicas que tem temas de contos de fada e isso serve para apontar o quanto essa história toda é fantasiosa. A série, às vezes, parece uma versão alternativa de “High School Musical”.

Muitas dessas músicas nos apresentam grandes verdades, mas apresentações são coisas totalmente desconexas. E isso torna a mensagem muito mais enfática. As músicas retratam o epicentro emocional dos episódios e elas são uma ferramenta muito efetiva para isso.

A série combina uma ideia e uma emoção juntas. E, com isso, ela nos envolve de forma que fica divertido acompanhar as insanidades feitas por Rebecca. Então, sempre que você ouve parte da letra da música, independente do ritmo, você assimila aquilo com o sentimento e da ideia.

Toda música é uma janela em uma dessas coisas: A perspectiva de um personagem; como Rebecca enxerga aquele personagem; ou, em alguns casos, as duas coisas.

Muitas vezes, quando um personagem secundário canta, é um reflexo da percepção de Rebecca sobre o papel deles em sua vida. Mas, além disso, eles cantam suas falhas individuais. Todo personagem tem falhas que são acessíveis pela audiência e, pela música, fica mais fácil de se identificar.

“Crazy Ex-Girlfriend” é uma série impressionantemente inteligente que utiliza a sátira como poucos. A série não foca apenas em problemas que são reais com maestria, mas faz isso deixando uma mensagem a sua audiência. Não importa o quanto você ignora ou escolha não acreditar em seus problemas, eles voltam para você.

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