“A gente bebe na fonte da cultura popular”

Mostra Coletivo 22 traz atrações culturais e formativas voltadas para temáticas afrobrasileiras

Postado em: 07-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Mostra Coletivo 22 traz atrações culturais e formativas voltadas para temáticas afrobrasileiras

GABRIELLA STARNECK*

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A 4ª Mostra Coletivo 22 traz, de quinta-feira (7) até sábado (9), uma série de atividades que pretendem valorizar e divulgar a cultura popular afrobrasileira no Centro Cultural da UFG e no Espaço Águas de Menino. Dança, teatro, música e atividades de formação integram a programação do evento. A 4ª Mostra Coletivo 22 integra o projeto Barro de Chão – Manutenção, do Núcleo Coletivo 22, contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2016. 

“A proposta da Mostra Coletivo 22 é divulgar a produção artista do grupo, os estudos voltados para a cultura popular brasileira – pensando na formação cultural do público –, além de ser uma oportunidade de encontro entre os artistas daqui e de São Paulo (onde surgiu o grupo)”, afirma Renata Lima, diretora artística e uma das fundadoras do Coletivo 22.

Mostra Coletivo 22

Renata conta que o evento surgiu, em 2012, quando ela se mudou de São Paulo para Goiânia a fim de trabalhar como professora de dança da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Eu pensei em expandir a companhia para cá e realizar um momento de integração entre os artistas que residem em São Paulo e aqui”, relata uma das fundadoras.  Contudo, embora o evento tenha sido criado em 2012, ele não é realizado anualmente. “A gente faz quando tem uma oportunidade”, afirma Renata. O Núcleo Coletivo 22 une o conhecimento acadêmico com o conhecimento popular e atua em Goiânia e São Paulo. 

A trupe é formada do encontro de quatro linhas confluentes: a formação em dança na Unicamp, o Abaçaí – Balé Folclórico de São Paulo, o Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô e a Universidade Federal de Goiás no curso de Licenciatura em Dança. Na convergência dessas trilhas está Renata Lima, que vem aglutinando pessoas destes contextos, e nutre um profundo respeito e interesse em manifestações da cultura popular afrobrasileira.  Dessa forma, para a diretora do núcleo, “mergulhar na cultura popular para pensar e criar o trabalho do Núcleo é uma forma de protesto, ou de afirmação política. E, em alguma medida, é isso mesmo. Mas esse, antes de tudo, é o nosso lugar de fala. É isso que eu, junto com meus parceiros, tenho para dizer”, explica Renata.

A 4ª Mostra Coletivo 22 integra o projeto Barro de Chão que, segundo Renata, começou em janeiro e vai até outubro com uma série de atividades, como manutenção de ensaios do grupo – alguns abertos ao público –, e o projeto Águas de Menino, que oferece aulas de capoeira angola a partir do grupo Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô.  O Barro de Chão convida o público a sentir a força do Tambor e perceber como o jongo, o batuque, o tambor de crioula, o samba de roda e a capoeira angola e manifestações da afrobrasilidade. 

Importância 

Segundo Renata, a mostra é de extrema relevância, pois divulga um material que geralmente a população não tem acesso facilmente. “Nós trazemos alguns estudos que não são fáceis de ser achado. A gente ‘bebe na fonte’ da cultura popular. Além de falar da cultura afrobrasileira, um dos espetáculos, por exemplo, fala sobre mulheres no cerrado, a performance Entre Raízes, Corpos e Fé”, afirma a diretora. 

Ela ainda ressalta que o grupo não tem muita dificuldade em estruturar o evento, uma vez que ele é contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2016. “Eu acho que não só nessa, mas também nas outras edições nós temos um ponto positivo: ser subsidiado com recursos de um edital, do projeto Barro do Chão. Além disso, tivemos bons apoiadores, como o Centro cultural da UFG e o curso de dança da Universidade – isso tem tornando a mostra possível sem grandes desafios”, afirma Renata.

O público poderá acompanhar a apresentação de três espetáculos do grupo, como Moringa, Por Cima do Mar Eu Vim e a performance Entre Raízes, Corpos e Fé. Além disso, os presentes poderão participar de oficinas e exibição  dos vídeos Èjé e Elas Florescem, que expressam a força da cultura afrobrasileira e da ancestralidade. Como já é uma postura política do grupo, o acesso à arte será democrático, a atividade de formação será gratuita e os espetáculos terão entradas populares de R$ 5. As oficinas terão participação livre e as inscrições podem ser feitas no momento da sua realização.

O espetáculo Moringa, uma dança feita de terra e água, cozida ao fogo e esfriada pelo vento, será apresentado na quinta-feira (7), às 20h, no Centro Cultural da UFG. A peça, recomendada para maiores de 16 anos, é uma experiência estética que percorre a sabedoria da natureza e das anciãs ancestrais. Na narrativa, a Moringa feita do barro da criação guarda o líquido que nutre os que nascem e apazigua os ânimos dos deuses subterrâneos. É também a substância que no fundo do lago ou no pântano guarda os segredos de uma velha senhora do antigo Daomé.

A programação segue, na sexta-feira (8), com a Oficina Núcleo Coletivo 22, às 9h, no Centro Cultural UFG. Os participantes da oficina poderão vivenciar os elementos componentes da proposta estética dos espetáculos presentes na programação da mostra, além das manifestações populares que fizeram parte do processo de criação: Jongo, Batuque, Tambor de Crioula e Sussa.  No mesmo dia o Centro Cultural da UFG receberá o espetáculo Por Cima do Mar Eu Vim, que tem como inspiração para o roteiro a travessia de africanos escravizados a caminho do Brasil e de sua permanência nesse território. 

No sábado (9), às 9h no Centro Cultural da UFG, o público poderá participar da oficina Deuses que Dançam, com o premiado artista-pesquisador, Wellington Campos, que integra o Núcleo Coletivo 22/ SP e da Cia Balangan/ SP, professor de Educação Física. A oficina tem como objetivo oferecer aos participantes elementos técnicos e poéticos de matrizes estéticas presentes nas obras do Núcleo, perpassando pela dança, teatro e a música. Um pouco mais tarde, às 18h, ocorrerá a apresentação de Entre Raízes, Corpos e Fé, performance realizada por cinco mulheres, inspirada no fluxo entre o cotidiano e o ritual presente nos saberes e fazeres de mulheres do Cerrado – parteiras, raizeiras e rezadeiras. A programação finaliza agradecendo as anciãs ancestrais com uma roda de tambor de crioula, uma ação do projeto Barro do Chão.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

4ª Mostra Coletivo 22

Quando: de quinta-feira (7) a sábado (9)

Onde: Centro Cultural da UFG (Av. Universitária, nº 1.533,  Setor Leste Universitário – Goiânia) e Espaço Águas de Menino (Rua Negrinho Barbosa, Qd 8, Lt 27, Residencial Antônio Barbosa – Goiânia) 

Espetáculos: R$ 5; oficinas: gratuitas

Programação completa: www.facebook.com/nucleocoletivo22/

 

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