“Um dia para nunca esquecer e não ser repetido”

Incêndio no Museu Nacional do Rio é considerado a maior tragédia museológica do País

Postado em: 04-09-2018 às 06h00
Por: Fabianne Salazar
Imagem Ilustrando a Notícia: “Um dia para nunca   esquecer e não ser repetido”
Incêndio no Museu Nacional do Rio é considerado a maior tragédia museológica do País

Um trágico acidente levou não só o Brasil, mas o mundo todo a olhar para o Museu Nacional do Rio de Janeiro. A instituição, que completou 200 anos em 2018, foi atingida por um incêndio que começou na noite de domingo (2) e destruiu o prédio histórico. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo museu, lamentou o incidente em nota: “É a maior tragédia musicológica do País. Uma perda incalculável para o patrimônio científico, histórico e cultural”. 

A instituição possui um acervo com mais de 20 milhões de itens. Ainda não se sabe o real motivo que ocasionou o incêndio, mas historicamente o Museu Nacional do Rio de Janeiro vinha sofrendo com a falta de investimentos do poder público. Em 2015, o museu havia sido fechado por falta de dinheiro, situação semelhante à de 2016, quando a visitação ao local foi suspensa por falta de verbas. Em 2017, o diretor da instituição anunciou só ter dinheiro para medidas paliativas e agora, em 2018, o incêndio atinge o museu. Segundo a professora de museologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Vânia Dolores Estavam de Oliveira a tragédia é um “um dia para nunca esquecer e não ser repetido”. 

Continua após a publicidade

Dentre os itens perdidos, o museu possuía coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. O museu era a mais antiga instituição histórica do País, fundado em 1818, por Dom João VI, e, desde 1946, era vinculado à UFRJ.

Vânia Dolores destaca o ocorrido não só como uma perda nacional, já que ali havia coleções da ciência e história do mundo. “O que eu posso falar como museóloga, como conhecedora do patrimônio da memória, é que é uma perda para memória, história e ciência do País, porque o Museu Nacional do Rio é uma instituição musicológica e científica com reconhecimento internacional desde os seus primórdios”, diz ela.

O local foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, no ano de 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), possuía, por exemplo, a maior coleção de múmias egípcias e o mais antigo fóssil humano, ambos encontrados nas Américas. O fóssil de 12 mil anos, reconhecido como ‘Luzia’, era uma jovem de aproximadamente 20 anos. O Maxakalisaurus topai, que também ficava no museu, era o maior esqueleto de dinossauro encontrado no Brasil. 

Vânia expressa como uma tragédia incalculável e irreparável. “O descaso é notório, e a redução de recursos é imensa”, opina ela. “Deve-se considerar a cultura uma das prioridades – ao lado de educação, saúde e segurança, tão prioritárias quanto. Que sejam destinados recursos compatíveis com as necessidades da instituição”, completa a professora. 

Segundo o também professor do curso de Museologia da UFG Pablo Lisboa, é natural que ocorra esse tipo de tragédia, já que não há recurso disponível, ainda mais se tratando de um museu que é uma edificação muito antiga, não adequada aos parâmetros atuais de segurança. “É uma tragédia anunciada, não é surpresa que ocorresse isso, embora ainda não se saiba o real motivo do incêndio – é difícil constatar sem saber o real motivo. A falta de investimento nas instituições culturais está sufocando essas instituições. Essa falta de investimento, para mim, é o mais trágico. Não adianta ficar só lamentando e dizendo que é uma tragédia, porque isso é culpa de todos nós também, não só dos governos que não destinam as verbas específicas, mas também a população precisa se apropriar mais da ideia de cultura, e sustentar investimentos nessa área”, finaliza Pablo.

Acervo

Dentre as 20 milhões de peças do acervo, distribuídas em uma área construída de 11.417 metros quadrados, o museu possuía 6.500.000 exemplares nas coleções zoológicas, 26.160 fósseis nas coleções paleontológicas, 130 mil itens nas coleções antropológicas, 15.672 amostras nas coleções geológicas, 550 mil exemplares de plantas dissecadas do herbário e 537 mil títulos na Biblioteca Central, tendo como a obra mais antiga uma de 1481. Sua visitação chegava a 150 mil pessoas por ano. 

Já dizia Edmund Burke “um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”.

 

 

Veja Também