Escultura de 10 metros celebra união entre Brasil e Japão no museu a céu aberto em Ibiporã (PR)

A escultura remete à história destes países com trajetórias marcadas pela imigração e intercâmbio cultura

Postado em: 30-10-2023 às 10h00
Por: Leticia Leite
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A escultura remete à história destes países com trajetórias marcadas pela imigração e intercâmbio cultura | Foto: Divulgação

A 25 km de Londrina, o Parque Geminiani Momesso, localizado em Ibiporã, no Paraná, é um paraíso ecológico formado por uma área 1.355 milhão de metros quadrados, dos quais 121 mil são de mata virgem que encontram o Rio Tibagi, um dos mais importantes da região. No último sábado (28), o parque inaugurou a obra ‘Espaço Arco-Íris, de Yutaka Toyota. A área foi doada por Orandi Momesso e está sendo paulatinamente transformada no centro cultural com o projeto do importante paisagista Rodolfo Geiser.

O artista nipo-brasileiro criou a obra para a comemoração do Centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão. O monumento alusivo a um arco-íris foi concebido para ser composto por duas partes iguais: uma foi implementada em 1995 na cidade de Yokohama e agora, 28 anos depois, a peça complementar é instalada no novo museu a céu aberto.

“Uma metade está no Japão e a outra, aqui no Parque. A terra do sol nascente e as terras vermelhas do norte do Paraná estarão conectadas. Esse marco simboliza o que a humanidade tem de melhor: a união”, afirma Orandi Momesso, empresário, colecionador, incentivador das artes e fundador do Parque Geminiani Momesso. A inauguração da obra também marca a apresentação do novo museu de arte a céu aberto fortalecendo a posição do estado no roteiro cultural e artístico brasileiro.

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Com um olhar aguçado, Orandi Momesso teceu uma das coleções de arte mais relevantes do Brasil. O Parque carimba o legado deste trabalho de mais de cinco décadas ao salvaguardar o acervo em acesso público e, além disso, dedicar um espaço cultural e biodiverso à sua terra natal. 

O patrimônio de Momesso conta com peças de grandes artistas como Angelo Venosa, Emanoel Araújo, Gilberto Salvador, José Resende, Nicolas Vlavianos, Rubem Valentin e Victor Brecheret, além de mobiliário colonial e moderno de Lina Bo Bardi e Rino Levi. A curadoria do acervo é voltada para artistas brasileiros e aqueles que vivem no Brasil e têm forte relação com o país, como Yutaka Toyota, naturalizado brasileiro em 1971.

“É um parque dedicado às artes brasileiras, acho que isso é o mais relevante, é o diferencial. Ao mesmo tempo, há uma gama de artistas que vieram do exterior, mas que fizeram sua história no Brasil e se tornaram parte desse território. O parque tem esse valor em relação ao fortalecimento da arte nacional”, afirma Gianni Toyota, filho do artista e diretor do projeto.

O monumento ‘Espaço Arco-Íris’ foi originalmente produzido para a comemoração do Centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão em 1995, quando a primeira parte foi instalada na cidade de Yokohama, desde então a obra pressupunha uma metade correspondente no Brasil. Agora, o Parque Geminiani Momesso foi o local escolhido para abrigar esse símbolo. “Completar essa obra é um sonho que sempre tive, ela tem um significado muito importante para mim”, diz Yutaka Toyota.

A escultura remete à história destes países com trajetórias marcadas pela imigração e intercâmbio cultural. A escolha da peça também busca valorizar o Brasil como país que acolhe a maior população nipônica fora do Japão e o estado do Paraná como segunda maior colônia japonesa em solo brasileiro.

O artista conta, em seu ateliê, a emoção que inspirou a criação da obra. “Sempre me interessei pelo espaço cósmico desde o início do meu trabalho. Quando eu cheguei no Brasil, lembro que me encantei com a paisagem e as cores intensas da natureza e o aço surgiu na minha obra como uma forma de espelhar esse novo mundo”, declara. O monumento é resultado de um período da produção artística de Toyota, que nas décadas de 80 e 90, explorou materiais industriais que se tornaram populares no pós-guerra, como é o caso do metal.

Segundo Yutaka, o preconceito no Japão da época era muito grande com materiais não tradicionais e a crítica sobre seu trabalho afirmava que aço era material de cozinha, inaceitável em obras de arte. A crítica reforça o pioneirismo do artista em expandir os cânones da arte e apresentar ao mundo novas formas do fazer artístico.

Composta por 10 blocos dourados, cada um representa uma década, e uma ‘alça’ em aço que remete ao casco do navio que transportou imigrantes japoneses para o Brasil, a ponta da escultura instalada no Japão está direcionada para o sentido geográfico do Brasil e a ponta da nova escultura a ser inaugurada em solo brasileiro será direcionada para o país asiático. 

A peça tem 10 metros e pesa cerca de três toneladas, duas toneladas a menos do que a original. Dado seu peso e altura, a instalação ocorre em etapas, nas quais as partes de aço são transportadas separadamente e a pintura finalizada in loco. As duas bases da escultura são firmadas no chão a partir de blocos de concreto cobertos por terra, invisíveis ao observador.

Apesar de igual aparência, as versões adotam materiais diferentes. No Japão, o monumento foi construído com aço inox, enquanto a nova obra no Brasil foi feita em aço carbono. Ao final, ambas recebem pintura dourada com tinta em poliuretano. O motivo para a mudança é estratégico: uma vez que o aço carbono é mais poroso, há uma aderência maior da camada de tinta e a consequente garantia de durabilidade da peça que ficará exposta a céu aberto suscetível a condições climáticas diversas.

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