Banda do Cordel do Fogo Encantado retorna aos palcos

Turnê, que chega à Capital nesta terça-feira, traz a história do grupo de forma metafórica

Postado em: 11-09-2018 às 06h00
Por: Fabianne Salazar
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Turnê, que chega à Capital nesta terça-feira, traz a história do grupo de forma metafórica

GABRIELLA STARNECK*

A turnê Viagem Ao Coração do Sol – que marca o retorno da banda Cordel do Fogo Encantado após oito anos de atividades paralisadas – será apresentada, nesta terça-feira (11), no Centro de Cultura e Eventos Prof. Ricardo Freua Bufáiçal – Câmpus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG). A apresentação faz parte do projeto Música no Campus, uma iniciativa da UFG.

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Segundo um dos integrantes da Cordel do Fogo Encantado José Paes de Lira – mais conhecido como ‘Lirinha’–, o que caracteriza a nova turnê é o retorno da banda.“Viagem Ao Coração do Sol traz a história do grupo e o nosso reencontro com esse novo público, que foi influenciada pelas redes sociais. Voltamos para contar a nossa história e participar desse momento”, afirma Lirinha ao Essência. 

Cordel do Fogo Encantado já esteve anteriormente em Goiânia, por esse motivo o integrante afirma que a expectativa para a apresentação na Capital é grande: “O público goiano acompanhou todas as fases da banda, desde a nossa primeira apresentação. Estávamos ansiosos para esse reencontro, até porque fizemos shows inesquecíveis aí, e o reencontro faz parte desse projeto da nova turnê”. 

Sobre o Música no Campus, Lirinha afirma que o projeto tem uma importância especial, porque a iniciativa vai além da simples apresentação de músicas com teatro, e serve como um momento oportuno para que a banda e os presentes pensem juntos sobre a vida em coletivo. “É muito importante a ligação da educação com as manifestações culturais. Esses eventos promovidos por instituições de ensino, que reúnem estudantes, se tornam potentes”, afirma o integrante da Cordel do Fogo Encantado. 

A Cordel do Fogo Encantado nasceu em 1997, em Arcoverde, sertão de Pernambuco, no Nordeste brasileiro, com um grupo cênico-musical que compartilhava teatro e poesia oral e escrita dos cantadores e ritmos afro-indígenas da região. Formada pelos arcoverdenses José Paes de Lira (Lirinha), Clayton Barros e Emerson Calado e os percussionistas recifenses, Nego Henrique e Rafael Almeida (do Morro da Conceição), a banda, que em princípio só ‘rodava’ o interior pernambucano, ganhou destaque em outros estados por causa da proposta inovadora de unir o teatro à música.

A banda atuou de forma ininterrupta, até o ano de 2010, lançando quatro trabalhos: Cordel do Fogo Encantado, 2001; O Palhaço do Circo Sem Futuro, 2002; MTV Apresenta: Cordel do Fogo Encantado (2005) DVD, primeiro registro audiovisual do grupo, e Transfiguração, 2006. Quatro anos mais tarde, o grupo fez uma pausa em suas atividades, já que o vocalista e compositor Lirinha havia anunciado sua saída. Após oito anos, a Cordel do Fogo Encantado resolveu lançar uma nova turnê, intitulada Viagem ao Coração do Sol. “Nesse trabalho trazemos músicas inéditas, que foram compostas nessa fase de retorno. Nos reunimos no começo de 2017, sem anunciar a volta da banda, e começamos a elaborar esse trabalho que lançamos no primeiro semestre de 2018”, afirma Lirinha. 

Nova turnê 

Viagem ao Coração do Sol marca o retorno de Cordel do Fogo Encantado aos palcos. Para isso, o grupo conta, de forma metafórica, a história da banda. É um recorte do texto ficcional que Lirinha escreveu, contando sobre a viagem ao coração do sol. São cinco personagens que estavam adormecidos em casulos no interior da Terra, e, ao despertarem, iniciaram o caminho em direção ao sol. Lá eles querem se encontrar com a filha do vento, chamada Liberdade.

O novo trabalho é composto por músicas inéditas, e conta com a participação da cantora Isadora Melo – que inclusive é a personagem filha do vento. A artista faz participação especial em algumas músicas do novo álbum, como Sideral ou Quem Ama Não Vê Fim, Raiar ou O Vingador Da Solidão, Conceição ou Do Tambor Que Se Chama Esperança, Eternal Viagem, Força Encantada ou Largou As Botas E Mergulhou No Céu e Liberdade, A Filha do Vento. Para falar mais sobre a banda e a turnê Viagem ao Coração do Sol, Lirinha participou de um bate-papo com o Essência. Confira abaixo a entrevista. 

 PROGRAMAÇÃO

Show ‘Cordel do Fogo Encantado’

Quando: terça-feira (11)

Onde: Centro de Cultura e Eventos da UFG – Campus Samambaia (Av. Esperança, s/nº, Vila Itatiaia – Goiânia)

Horário: 20h30

Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

Entrevista – Lirinha  

Por que a escolha do título ‘Viagem Ao Coração do Sol’ para a turnê?

O Cordel do Fogo Encantado sempre contou histórias desde o primeiro disco. O próprio título da banda é uma narrativa que contávamos antes do surgimento do grupo. A ideia de Viagem Ao Coração do Sol é mostrar cinco personagens, em um mundo fictício, que acordam no fundo da terra, e saem, através de túneis construídos por seus antepassados, em um mundo modificado. Inclusive, no primeiro poema declamado na turnê, por exemplo, falamos O Mundo Agora é Esse. A personagem Filha do Tempo, conhecida como ‘liberdade’, conduz a história. A turnê traz uma metáfora com a trajetória de O Cordel do Fogo Encantado, essa pausa que a banda fez e esse retorno para um novo mundo, influenciado pelas redes sociais. Decidimos jogar com metáfora da nossa existência nesse retorno.  É uma tradição do grupo a contação de histórias, inclusive escolhemos a palavra ‘cordel’ para fazer parte do nome da banda porque esse termo é sinônimo de história. 

Que mensagem esse novo trabalho traz?

Nessa turnê podemos tocar em assuntos da nossa existência, dos problemas da nossa comunidade, da experiência de vida em coletivo. A escolha pelo tema liberdade tem relação direta com o momento que estamos vivendo, de buscar novas estruturas para a sociedade, o clamor por sermos o que desejamos ser, o desejo de ir além do que se é – tudo que corresponde a palavra liberdade. Quando falamos que o Sonho Acabou (poema que abre o traballho) também levantamos a questão da utopia, de ter que refazer nossos sonhos porque já não cabem os sonhos da década de 1970. Tem uma música chamada Sideral ou Quem Ama Não Vê Fim – já que todas as nossas canções têm dois títulos –, que fala: ‘Sai do corpo, larga o chão, ensaiar revolução’. Aproveitamos esse retorno para plantar essas esperanças de unir nossas forças e conseguir nosso brilho.

Falando um pouco mais sobre a banda, como surgiu a ideia de formar um grupo cênico-musical?

A Cordel do Fogo Encantado surgiu no ambiente do teatro, que é a nossa primeira base e lugar de exercício das nossas composições e poesias – tanto que o nome da banda é o título de uma peça. Em 1999, decidimos pegar o título dessa narrativa para nomear o grupo. Contudo, apesar da nossa decisão de abraçar a estética musical, nossa escola é o teatro. 

A decisão de dar dois nomes para cada música desde o início da banda tem relação com o teatro?

Isso começou no nosso primeiro trabalho e transformamos em uma marca do grupo. A ideia de escolher dois nomes surgiu, porque é uma tradição na literatura de cordel fazer um título mais curto e direto, e outro mais poético, digamos mais elaborado no sentido da metáfora. 

‘Cordel do Fogo Encantado’ tem um estilo musical específico?

Desde o começo, tivemos dificuldade na definição de um gênero musical. Desde o surgimento da banda, fomos muito influenciados a buscar uma música inventiva, que não tenha ou ritmos específicos, mas que saia dos nossos sonhos. Até hoje, tentamos fazer canções que não tenham uma definição, mas essa busca, às vezes, é impossível – mesmo assim tentamos, porque essa novidade é o que caracteriza nosso som.

Por que a banda Cordel do Fogo Encantado fez uma pausa de 2010 a 2018?

Até 2010, trabalhamos de forma ininterrupta, mas nesse mesmo ano anunciei minha saída da banda. Como eu era vocalista e compositor, o grupo decidiu não seguir sem a formação original, então cada integrante foi para uma área, uns procuraram experiências solos, outros foram compor outros grupos. Mas há cerca de 5cinco anos começamos a pensar nessa turnê de retorno. Uma coisa que facilitou nossa volta aos palcos é que a minha decisão de saída na época se deu por questões estéticas e não porque tínhamos brigado. Foi apenas um desejo meu de experimentar outras sonoridades e experiências artistas. A gente tem essas inquietações como artista.

 

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